Chico Xavier nunca usou relógio, para evitar o hábito de
medir o tempo de trabalho e sentir-se culpado ao
desperdiçar as horas. Seu protetor fazia questão de
repetir: vamos trabalhar como se amanhã já não fosse
possível fazer nada.
Emmanuel era implacável. Numa noite, ou melhor, já à 1h da
madrugada, Chico voltava exausto de mais uma sessão no Centro
Luiz Gonzaga quando abriu a porta de casa e deu de cara com uma
cena nada agradável. Os dois gatos tinham sofrido uma
indigestão. A sala parecia um chiqueiro. O mau cheiro estava
insuportável.
Chico sacudiu os ombros. Pediria a uma das irmãs que fizesse a
limpeza na manhã seguinte. Quando estava a caminho do quarto,
escutou a voz do guia: “Você, que vem de uma reunião espírita,
está fugindo da sua obrigação? Está exigindo que uma pobre
menina, cansada de trabalhar nas panelas e no tanque para que
não lhe falte comida nem roupa lavada, limpe esta sujeira? Você
vai pegar um pano, vai trazer água, sabão e vamos lavar”.
Chico acatou. Só ele lavou. Emmanuel, de braços cruzados, se
limitou a "passar sabão" no coitado: “No Espiritismo, a pessoa
tem que começar estudando nos grandes livros e também lavando as
privadas, trabalhando, ajudando os que estão com fome, lavando
as feridas de nossos irmãos. Se não tivermos coragem de ajudar
na limpeza de um banheiro, de uma privada, nós estaremos
estudando os grandes livros da nossa doutrina em vão [...]”.
Do livro As vidas de Chico Xavier,
de Marcel Souto Maior.
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