Allan Kardec e a pandemia
A Humanidade vive uma pandemia que já ceifou mais de 4
milhões de pessoas. Como sempre existem teorias da
conspiração, dúvidas, desconfianças, erros de análise e
de ação por parte dos dirigentes, para além dos
interesses econômicos em que alguns ganham milhões com a
desgraça alheia. Mas esses argumentos servem para se
negar uma realidade, fatos, números? E os espíritas são
diferentes ou não?
A Humanidade passa por uma verdadeira revolução material
e de ordem ético-moral, que, por sintonia, acarreta
auto-obsessões e obsessões de índole espiritual, por
vezes verdadeiras infestações sobre países e regiões do
globo terrestre.
Quando era suposto a Humanidade dar as mãos, ser mais
cordata, colaboradora, fraterna, durante uma pandemia
que nos atingiu e vai atingir mais um ou dois anos, nós,
seres humanos, optamos por ações violentas físicas,
verbais, mentais, tudo porque estamos a viver muitas
contrariedades e dificuldades.
Nesse contexto de desarmonia mental, foge a amizade,
zangam-se as comadres e instalam-se obsessões
espirituais cruéis, colocando uns contra os outros (in “O
Livro dos Espíritos” e “O Livro dos Médiuns”,
de Allan Kardec).
Uma história conta o caso de uma mãe que foi assistir ao
juramento de bandeira do seu filho e ficou de tal
maneira obcecada pela sua vaidade materna, que dizia,
posteriormente, às amigas, que o filho era o único que
ia a marchar bem, no pelotão de 30 pessoas, todos os
outros (que iam com o passo acertado) iam mal…
Numa época em que a medicina é verdadeira bênção divina,
em que a tecnologia existente permite comunicações e
partilha de dados a distância, em segundos, conseguiu-se
em tempo récorde a criação de vacinas contra a COVID-19.
Várias estratégias foram montadas, medidas de prevenção,
umas acertadas outras disparatadas, mas, como se costuma
dizer na gíria militar, “em tempo de guerra não se
limpam armas”, isto é, temos de nos focar no
essencial: o bem comum de toda a Humanidade e salvar o
maior número de vidas.
Embora os inúmeros erros de análise e de ação ocorridos
pelo mundo inteiro, embora as questões que se venham a
colocar no futuro para serem corrigidas, ninguém no seu
são juízo pode, em abono da verdade, negar que as
vacinas contra a COVID-19 tiveram um impacto brutal na
diminuição do número de mortes com esta doença.
E os espíritas como pensam?
Infelizmente pensamos como os outros, ignorando os
nossos conhecimentos e convicções, baseados na
experiência do quotidiano. Preferimos, assim, opiniões
avulsas, ora injetadas por “hackers” russos (entre
outros) nas redes sociais, procurando desestabilizar a
Europa para daí tirarem dividendos políticos, ora
inventados por defensores das mais estúpidas teorias da
conspiração que, em nada, abonam a favor do bom senso e
da inteligência do ser humano.
Allan Kardec se refere na Revista Espírita de Novembro
de 1865 à existência de uma pandemia de cólera. Entre
1845 e 1860 ceifou milhares de vidas no mundo. Segundo
alguns historiadores, essa pandemia causou o maior
número de mortes no século XIX.
Allan Kardec, pedagogicamente, afirmou que o ser
espírita não nos livra da pandemia, mas o conhecimento
espírita aumenta a força moral do espírita, o que se
repercute no sistema imunológico do Homem.
Kardec comentou a necessidade da serenidade, da oração,
da mudança de hábitos, do não ter medo e seguirmos as
medidas sanitárias decretadas pelo poder público, pois
é dever do espírita prolongar a vida, não por medo da
morte ou apego, mas pelo desejo de aproveitar bem o
tempo para progredir intelectual e moralmente.
Kardec em “O Livro dos Espíritos” diz que o
egoísmo é a raiz de todos os males, todos os defeitos.
Quando se diz, sem qualquer conhecimento científico,
baseado em conversas de pé de orelha ou das redes
sociais que temos o direito à opinião, nos esquecemos de
que, como espíritas, temos mais obrigações que os demais
cidadãos que desconhecem a imortalidade, a reencarnação
e a lei de causa e efeito.
Não tem o espírita o conhecimento da Lei de Sociedade?
Não fazem parte da convicção espírita a caridade, a
solidariedade, a colaboração, a fraternidade, e fazer ao
próximo o que desejamos para nós?
Não devíamos, nós, espíritas, pensar em primeiro lugar
no bem comum ao invés de pensarmos em nós mesmos?
Não estará a imunidade de grupo em nível mundial à
frente da postura mesquinha e egoísta de ficar à espera
de ver se os outros morrem, ou não, para decidir apanhar
a vacina que tem salvo milhões de vida, apesar dos mais
de 4 milhões mortos?
É que o egoísmo não se coloca só ao nível pessoal,
também existe o egoísmo social.
E nós, espíritas, como estamos?
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