O pai, os filhos
Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras
lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.
Carlos Drummond de Andrade
Não tinha intenção de escrever sobre o dia dos pais.
Mas, de repente, passando os olhos num texto sobre
Manoel de Barros, o poeta pantaneiro, e que também foi
pai, deparei-me com o seguinte trecho: “Abro os olhos.
Não vejo mais meu pai. Não ouço mais a voz de meu pai.
Estou só. Estou simples.”
Aí as emoções cresceram e conduziram a inspiração. Antes
de mais nada, pensei na minha condição de mãe. Porque
mãe e pai são pessoas que têm a vida inteira mudada de
forma inexorável por causa de um filho. Mas ser pai
biológico é fácil. O essencial, o heroico, é o pai
afetivo, participativo do dia a dia, e que também se
encarregará de apresentar a cultura ao filho, a maneira
como devemos, por exemplo, buscar nosso sustento,
estruturar nossa autonomia, guiar-nos através das leis e
para que aprendamos nos apoiar nas virtudes e nos
princípios sociais para construir nossa própria
trajetória.
De outro lado, na condição de filha, penso também na
felicidade que é ter um pai que nos diz, e desde que
somos pequenos, que não precisamos ter medo, que podemos
confiar!
É difícil mensurar a importância dos momentos com o pai
na vida de uma criança. E me vem à mente o poema da
Adélia Prado: “Uma ocasião, meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante. Por muito tempo moramos numa
casa, como ele mesmo dizia, constantemente amanhecendo.”
Uma criança que cresce com a memória de um pai atuante,
atento, tornar-se-á um adulto facilmente mais confiante,
mais encorajado, mais decidido. Ele teve, no começo da
vida, os olhos do pai e sabia que esses olhos o
protegiam.
Olhos são também uma prova de amor, um atestado de
atenção. No parquinho, o meninozinho sobe no
escorregador, bastante apreensivo, mas continua, pois
sabe que o olhar do pai, dirigido a ele, lhe diz: “não
tenha medo, estou aqui!”
Pai não é perfeito. Comete erros. Porque ninguém tem
filhos sabendo o que é ser pai. Ser pai depende de
treino, dos cenários cotidianos.
Se pudesse narrar, o que uma criança diria a respeito de
seu pai?
Um pai suficientemente bom, mesmo ciente de quão
trabalhoso é educar um ser humano, reconhece que ter um
filho é uma das experiências mais prazerosas da
existência...
Parabéns aos pais. Principalmente parabéns aos pais que
sabem que o melhor presente para os filhos é dar a eles
o seu amor, o seu tempo e a sua presença.
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