A
primeira pedra
No Evangelho de João,
cap. VIII: 3 a 11,
encontra-se a passagem
da mulher adúltera que
estava prestes a ser
apedrejada até a morte,
segundo as leis mosaicas
vigentes, quando Jesus,
que por ali passava, foi
interpelado pelos
escribas e os fariseus,
acerca do cumprimento da
lei, a fim de
comprometê-lo diante da
justiça. O Mestre, com a
serenidade dos sábios,
diz: “Aquele dentre vós
que estiver sem pecado
atire a primeira pedra”.
A multidão que ali
estava, deixando cair as
pedras das mãos, foi
abandonando o local e
tomando seu rumo
cabisbaixa. O Mestre
interroga a mulher:
“Onde estão os que te
acusavam? Ninguém te
condenou?”. “Não,
Senhor, respondeu...”.
“Também eu não te
condenarei. Vai-te e de
futuro não tornes a
pecar”.
Vemos nas redes sociais,
comentários e piadas
impregnados de aversão,
achincalhes, revolta,
ódio e desejo de
vingança, de maneira
ostensiva e visceral.
Pessoas vibram com a
desdita alheia como se
houvesse uma grande
competição. Até mesmo
nos circos romanos onde
a turba torcia pelos
leões famintos e pelos
gladiadores com suas
espadas e lanças afiadas
dizimando cristãos ou
subjugando seus
oponentes, era
compreensível do ponto
de vista cultural, cujos
governantes promoviam a
alegria das massas.
Hoje, vinte e um séculos
se passaram, estamos no
limiar da Transição
Planetária, assistindo a
cenas Dantescas que
podem ser evitadas.
Parece que o cérebro, o
mais importante centro
de informações e comando
de ordens e conexões
eletromagnéticas do
organismo humano, mudou
de endereço para o
fígado ou para os
intestinos.
Como cidadãos do mundo
temos o dever e o
direito de expor nossas
opiniões sobre tudo e
sobre todos em
conformidade com o que
pensamos, sentimos e
aprendemos, desde que
seja com equilíbrio,
sobriedade e respeito
aos direitos do outro,
independente do que
possam pensar de nós.
Que os culpados sejam
julgados pelos seus
crimes e condenados
pelas leis humanas é, de
fato, um progresso da
sociedade. É um direito
conquistado pela
humanidade. Mas, daí,
desejar o sofrimento
alheio, é ausência de
caridade moral. Sentir
prazer com o sofrimento
do outro é vingança.
Disseminar discórdia é
maledicência. Estimular
o vandalismo é
cumplicidade com o caos.
Fica uma pergunta: quem
dentre nós está sem
pecado para atirar a
primeira pedra?
Por pecado, podemos
entender todo e qualquer
mal que porventura
venhamos causar a outrem
ou a nós mesmos, pelo
nosso comportamento
equivocado diante da lei
natural, que é a Lei
Divina. O peso
específico desse
“pecado” tem suas
variações na razão
direta do grau de
conhecimento que cada
indivíduo tenha
adquirido nas suas
vivências e
experienciações. Logo,
cada um de nós será
julgado segundo aquilo
que manifestamos e
praticamos nas mais
variadas formas de
expressão. “A cada um
segundo as suas obras”,
nos disse Jesus (Mateus,
16:27). Os fantasmas
internos que criamos e
alimentamos ao longo das
encarnações pregressas,
tornam-se monstros e se
manifestam em momento de
euforia e comoção
social, estimulando o
despertar da nossa parte
que precisa ser lapidada
e transformada com
vistas à continuidade do
caminho com e por Jesus,
nosso Guia e Modelo. (1)
Como cristãos Espíritas
estamos empenhados na
construção do Reino de
Deus na Terra,
contribuindo com a obra
do Criador.
“As criaturas que
assinalarem a existência
pela criminalidade
conhecida ou ignorada
mantendo conduta
egoísta, tripudiando das
aflições do próximo, não
disporão de meios para
permanecer na Terra,
sendo exiladas para
mundos inferiores. Desse
modo as grandes
calamidades de uma ou de
outra procedência têm
por finalidade convidar
a criatura humana à
reflexão em torno da
transitoriedade da
jornada carnal em
relação à sua
imortalidade”. (2)
Allan Kardec ressalta
que “a autoridade para
censurar está na razão
direta da autoridade
moral daquele que
censura”. (3)
A advertência é para que
não nos esqueçamos desse
nosso compromisso com o
Mestre, que no seu
Evangelho deixou o
código de conduta seguro
para seguirmos adiante
com firmeza e confiança:
faça ao outro aquilo que
deseja seja feito a
você; ame ao próximo
como a si mesmo; não
julgueis para não serdes
julgados. As
orientações que
recebemos diuturnamente
dos Espíritos superiores
mostram que não estamos
naufragados e nem à
deriva nessa Nau Azul.
Trata-se de aparente
desorganização
planetária, para que o
orgulho seja denunciado
e desmascarado cedendo
lugar à humanidade,
trazendo no seu bojo a
oportunidade de
exercitarmos o perdão, a
união, a fraternidade, a
confiança, a fé e, por
conseguinte, o amor,
promovendo a
reconciliação com os
nossos adversários e
desafetos enquanto
estamos a caminho.
... “Atire a primeira
pedra aquele que entre
nós estiver sem pecado.”
1. Kardec,
Allan, O Livro dos
Espíritos, pergunta
625.
2. Manoel
Philomeno de
Miranda/Divaldo Franco, Transição
Planetária, página
12, 1ª Edição, Editora
Leal, 2010.
3. Kardec
Allan, O Evangelho
segundo Espiritismo,
Capítulo X, item 13,
FEB, 115ª edição, trad.
Guillon Ribeiro.
Arleir
Francisco Bellieny,
psicólogo clínico, é
expositor espírita e
membro fundador da
Associação Médico-Espírita do
Rio de Janeiro (AME-Rio)
e da Associação Médico-Espírita Internacional.