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por Arleir Francisco Bellieny

 

A primeira pedra


No Evangelho de João, cap. VIII: 3 a 11, encontra-se a passagem da mulher adúltera que estava prestes a ser apedrejada até a morte, segundo as leis mosaicas vigentes, quando Jesus, que por ali passava, foi interpelado pelos escribas e os fariseus, acerca do cumprimento da lei, a fim de comprometê-lo diante da justiça. O Mestre, com a serenidade dos sábios, diz: “Aquele dentre vós que estiver sem pecado atire a primeira pedra”. A multidão que ali estava, deixando cair as pedras das mãos, foi abandonando o local e tomando seu rumo cabisbaixa. O Mestre interroga a mulher: “Onde estão os que te acusavam? Ninguém te condenou?”. “Não, Senhor, respondeu...”. “Também eu não te condenarei. Vai-te e de futuro não tornes a pecar”.

Vemos nas redes sociais, comentários e piadas impregnados de aversão, achincalhes, revolta, ódio e desejo de vingança, de maneira ostensiva e visceral. Pessoas vibram com a desdita alheia como se houvesse uma grande competição. Até mesmo nos circos romanos onde a turba torcia pelos leões famintos e pelos gladiadores com suas espadas e lanças afiadas dizimando cristãos ou subjugando seus oponentes, era compreensível do ponto de vista cultural, cujos governantes promoviam a alegria das massas. Hoje, vinte e um séculos se passaram, estamos no limiar da Transição Planetária, assistindo a cenas Dantescas que podem ser evitadas. Parece que o cérebro, o mais importante centro de informações e comando de ordens e conexões eletromagnéticas do organismo humano, mudou de endereço para o fígado ou para os intestinos.

Como cidadãos do mundo temos o dever e o direito de expor nossas opiniões sobre tudo e sobre todos em conformidade com o que pensamos, sentimos e aprendemos, desde que seja com equilíbrio, sobriedade e respeito aos direitos do outro, independente do que possam pensar de nós. Que os culpados sejam julgados pelos seus crimes e condenados pelas leis humanas é, de fato, um progresso da sociedade. É um direito conquistado pela humanidade. Mas, daí, desejar o sofrimento alheio, é ausência de caridade moral. Sentir prazer com o sofrimento do outro é vingança. Disseminar discórdia é maledicência. Estimular o vandalismo é cumplicidade com o caos.

Fica uma pergunta: quem dentre nós está sem pecado para atirar a primeira pedra?

Por pecado, podemos entender todo e qualquer mal que porventura venhamos causar a outrem ou a nós mesmos, pelo nosso comportamento equivocado diante da lei natural, que é a Lei Divina. O peso específico desse “pecado” tem suas variações na razão direta do grau de conhecimento que cada indivíduo tenha adquirido nas suas vivências e experienciações. Logo, cada um de nós será julgado segundo aquilo que manifestamos e praticamos nas mais variadas formas de expressão. “A cada um segundo as suas obras”, nos disse Jesus (Mateus, 16:27). Os fantasmas internos que criamos e alimentamos ao longo das encarnações pregressas, tornam-se monstros e se manifestam em momento de euforia e comoção social, estimulando o despertar da nossa parte que precisa ser lapidada e transformada com vistas à continuidade do caminho com e por Jesus, nosso Guia e Modelo. (1) Como cristãos Espíritas estamos empenhados na construção do Reino de Deus na Terra, contribuindo com a obra do Criador.

“As criaturas que assinalarem a existência pela criminalidade conhecida ou ignorada mantendo conduta egoísta, tripudiando das aflições do próximo, não disporão de meios para permanecer na Terra, sendo exiladas para mundos inferiores. Desse modo as grandes calamidades de uma ou de outra procedência têm por finalidade convidar a criatura humana à reflexão em torno da transitoriedade da jornada carnal em relação à sua imortalidade”. (2)

Allan Kardec ressalta que “a autoridade para censurar está na razão direta da autoridade moral daquele que censura”. (3)

A advertência é para que não nos esqueçamos desse nosso compromisso com o Mestre, que no seu Evangelho deixou o código de conduta seguro para seguirmos adiante com firmeza e confiança: faça ao outro aquilo que deseja seja feito a você; ame ao próximo como a si mesmo; não julgueis para não serdes julgados.  As orientações que recebemos diuturnamente dos Espíritos superiores mostram que não estamos naufragados e nem à deriva nessa Nau Azul. Trata-se de aparente desorganização planetária, para que o orgulho seja denunciado e desmascarado cedendo lugar à humanidade, trazendo no seu bojo a oportunidade de exercitarmos o perdão, a união, a fraternidade, a confiança, a fé e, por conseguinte, o amor, promovendo a reconciliação com os nossos adversários e desafetos enquanto estamos a caminho.

... “Atire a primeira pedra aquele que entre nós estiver sem pecado.”

 

1.   Kardec, Allan, O Livro dos Espíritos, pergunta 625.

2.   Manoel Philomeno de Miranda/Divaldo Franco, Transição Planetária, página 12, 1ª Edição, Editora Leal, 2010.

3.   Kardec Allan, O Evangelho segundo Espiritismo, Capítulo X, item 13, FEB, 115ª edição, trad. Guillon Ribeiro.

 

Arleir Francisco Bellieny, psicólogo clínico, é expositor espírita e membro fundador da Associação Médico-Espírita do Rio de Janeiro (AME-Rio) e da Associação Médico-Espírita Internacional.
  

 

     
     

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 Revista Semanal de Divulgação Espírita