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por Rogério Miguez

 

Convite ao bom senso


A população da Terra, de modo geral, desconhecia o risco que estava correndo ao manter condutas inadequadas no seu relacionamento com a Natureza, mormente buscando se alimentar indiscriminadamente dos diversos animais da rica fauna do planeta.

Uma das suspeitas da migração do novo coronavírus, já existente na Natureza, para os seres humanos, é de que se propagou a partir da ingestão de animais portadores do vírus.

É de notar que os cientistas e pesquisadores na área da infectologia já sabiam, e até esperavam, o surgimento de uma nova pandemia, contudo, sem saber precisamente sob qual forma, quando e de onde surgiria.

A causa da disseminação deste vírus na Humanidade será encontrada, assim cremos, mais cedo ou mais tarde, contudo, o interesse no momento é saber como poderemos controlar a sua disseminação e, principalmente, como restabelecer a saúde dos que estão sendo infectados.

À parte as questões médicas e científicas, a pandemia atingiu em cheio todas as organizações que mantinham em suas rotinas de trabalho: reuniões, encontros ou assembleias, ou seja, instituições que funcionam com aglomerações de pessoas, de forma organizada, não há dúvida, para bem divulgar as suas doutrinas, ou mesmo viabilizar as suas atividades laborais.

Uma das áreas atingidas frontalmente neste contexto foram as estruturas religiosas, pois foram obrigadas a fechar as suas portas e não sabem quando poderão reabri-las com segurança, de modo a continuar a receber seus seguidores, bem como os trabalhadores envolvidos em suas diversas tarefas.

Particularmente, o movimento espírita também foi alcançado pelas consequências da indiscriminada proliferação do novo coronavírus, e, embora algumas casas já estejam funcionando com algumas restrições há bom tempo, a maioria decidiu cerrar suas portas por tempo indeterminado.

Entre outros, um dos setores que sentiu profundamente esta provisória condição imposta pela pandemia foi o dos trabalhadores vinculados à área mediúnica, considerando que, sem um local pré-determinado para exercer as suas possibilidades mediúnicas, muitos ficaram desorientados em relação à forma como dariam continuidade à execução de suas particulares tarefas.

Diante de tal anormalidade, alguns desavisados e também mal orientados, ou mesmo recebendo “intuições” de Espíritos perturbados, com o único objetivo de levá-los à perdição, optaram por dar prosseguimento às suas reuniões de forma remota, afinal, é o foco do momento, característica do século XXI, o mundo cibernético.

Assim procedendo, fizeram surgiu uma nova e inédita modalidade de encontro mediúnico, jamais sequer imaginada no mundo físico: a virtual!

O codificador da Doutrina espírita, Allan Kardec, após o seu desencarne, tendo seu corpo sido conduzido primeiro ao cemitério de Montmartre, em seguida, finalmente enterrado no cemitério de Père-Lachaise em Paris, durante os momentos finais da cerimônia funerária, um grande seguidor do Espiritismo – Camille Flammarion –, em seu discurso de provisória despedida do Mestre de Lyon, afirmou ter sido Allan Kardec o bom senso encarnado.

Neste momento, nos lembramos da segura orientação doutrinária aos praticantes do Evangelho no Lar de que, durante a realização deste salutar encontro familiar, não deveria haver manifestações mediúnicas, de modo algum, embora saibamos que, eventualmente, por conta de deseducados médiuns ainda sem desenvolvimento de suas mediunidades, é possível acontecer alguma atividade mediúnica, contudo, enfatizamos, sem uma programação para tanto, apenas um fenômeno mediúnico esporádico e sem controle por parte de um ou outro participante.

Esta regra de ouro do Evangelho no Lar – não permitir ou provocar episódios mediúnicos –, sempre foi muito bem enfatizada por todos que se propuseram a incentivar tal prática, entretanto, esta previdente medida foi, agora, totalmente esquecida, por todos os que estão exercendo inadvertidamente as suas mediunidades em seus lares, junto às suas famílias, em seus ambientes domésticos: isso não é surpreendente!?

A justificativa para se tentar evitar a qualquer custo manifestações mediúnicas nos lares, durante a prática do Evangelho no Lar, se deve pincipalmente a que as nossas residências não são centros espíritas, muito menos salas mediúnicas, portanto, jamais receberão a atenção por parte do plano espiritual nos mesmos moldes que as instituições espíritas recebem dos mentores da espiritualidade esclarecida.

E mais, uma propriamente dita sala mediúnica é cuidadosamente preparada pelos dirigentes espirituais, aparelhos construídos no espaço, sem similares no mundo material, são trazidos para promover a adequada higienização do ambiente, de modo a proporcionar segurança fluídica para os participantes e para os Espíritos necessitados que serão eventualmente trazidos para participar dos trabalhos.

Os lares, seguramente, não receberão a mesma atenção por parte dos guias espirituais, pois não se prestam a esta atividade, e, em consequência, os familiares estarão sujeitos a se contaminar com os fluidos desequilibrados de eventuais Espíritos participando da reunião, caso fossem trazidos pelos dirigentes espirituais para tratamento ou mesmo para receber esclarecimentos doutrinários. Por esta razão, os mentores jamais trarão espontaneamente Espíritos necessitados de tratamento às dependências de um lar, contudo, se insistirmos nesta prática, estas entidades desequilibradas se aproximarão sem controle, com consequências imprevisíveis para a organização familiar e para o médium.

E mais, imaginemos se o médium, por qualquer razão, em estado de transe, não conseguir se recuperar, permanecendo mediunizado ao final dos trabalhos? Quais providências poderiam ser tomadas? Algum familiar, sem nenhuma experiência, atuaria como substituto do trabalhador de suporte do grupo mediúnico original? Porventura chamar-se-ia a vizinhança para prestar auxílio? Talvez uma ligação telefônica para algum trabalhador experiente visando ao aconselhamento sobre como proceder? E se não houver um adulto na família com capacidade de ajuizar alguma coerente medida? E se o médium estiver sozinho!?

Adicionalmente, como proceder se o telefone tocar durante o transe mediúnico? O que fazer caso o vizinho bata à porta para solicitar uma ajuda? E se houver interrupção da energia durante um transe, interrompendo a conexão virtual? São questões e mais questões.

Sem real proteção, processos obsessivos podem dar início, atingindo preferencialmente os mais fracos – as crianças –, contudo, idosos, ou qualquer familiar que sintonize sem conhecimento com algum desorientado Espírito que, após a atividade, não queira se retirar do recinto, também podem receber influenciações.

Podemos alinhar um outro interessante raciocínio sobre o tema em exame.

Jesus, Governador da Terra, e seus muitos prepostos, Espíritos sábios e integralmente dedicados ao bem, que o auxiliam na governança do orbe, estavam perfeitamente cientes de que a pandemia estava por eclodir, contudo, não há notícia confiável de que tenham providenciado mensagens do plano espiritual orientando que, caso houvesse o fechamento das casas, por qualquer razão, os médiuns deveriam dar continuidade às suas atividades em seus lares, em suas próprias residências.

Não, pelo que se sabe, isto não aconteceu.

Sendo assim, o cenário de provisório fechamento das instituições espíritas não deve ser usado como justificativa para a transformação dos lares em salas mediúnicas.

A propósito, aquele que possuir “orientação” espiritual neste sentido, deve agir como Erasto recomendou: desconfiar da fonte e rejeitar a mensagem, pois, “É melhor repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea”.1

O médium deve se observar de modo a perceber como pode atuar mediunicamente no seu cotidiano; seja dando uma orientação a um amigo de trabalho ou ao vizinho, proveniente de intuições ou inspirações; seja apenas escutando o amigo em conflito; seja transmitindo naturalmente seus fluidos ao visitar um doente, cada um deve descobrir seus tesouros mediúnicos ocultos. A propósito, sugerimos a leitura do texto: Mediunidade não se desenvolve apenas em salas mediúnicas.2

Além disso, pode participar de reuniões virtuais de vibrações, que se multiplicaram e, não menos importante, deve lembrar que todos podem trabalhar mediunicamente ou não, à noite, durante o descanso do corpo biológico.

Acrescentamos que não há motivo para preocupação no sentido de não estar havendo atendimento aos Espíritos sofredores durante este período de exceção. Quem se deixa apanhar por este raciocínio, comete um equívoco, função talvez de sua incipiente formação doutrinária. A espiritualidade está perfeitamente cônscia da realidade e jamais interrompeu suas atividades. Os Espíritos podem realizar todo o trabalho feito na Terra pelos valorosos trabalhadores da área mediúnica, pois os últimos não são insubstituíveis. Assim se expressa o instrutor Alexandre na obra Missionários da Luz.3

É um desafio ao médium se adaptar ao meio em que se vê obrigado a atuar e, obtendo êxito, certamente terá crescido e muito em sua maturidade mediúnica.

Aproveitemos estes tempos pandêmicos de reclusão para meditar, estudar e orar um pouco mais. Reavaliando o nosso papel, a nossa pequena missão, nesta nova existência.

Enfatizamos haver incontáveis perigos na realização de reuniões mediúnicas, propriamente ditas, quando efetivadas em locais inapropriados.

Prática mediúnica pede, entre outros rigorosos requisitos, bom senso, aquela mesma virtude vivenciada pelo Codificador durante a sua profícua existência.

 

Referências:

KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução Evandro Noleto Bezerra. 2ª ed. 1ª imp. Brasília: FEB, 2013. Segunda Parte – cap. XX, it 230.

2 Artigo 8 ed. 561. Acesso em 07/08/2021.

3 XAVIER, Francisco C. Missionários da luz. Pelo Espírito André Luiz. 20ª ed. Rio de Janeiro: FEB. 1987. Doutrinação. cap. 17.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita