De: Fernando Rosemberg Patrocinio (Uberaba, MG)
Quinta-feira, 26 de agosto de 2021 às 05:45
Assunto: E-book escrito por Paulo Neto sobre Os Quatro Evangelhos, de Roustaing
Caríssimos Amigos:
Fizemos nossa leitura do respeitável e-book do amigo Paulo Neto sobre a obra de "Os Quatro Evangelhos".
Todos sabem, pelos nossos 95 e-books, de minha opinião a respeito de tal temática, e, lógico, não preciso externá-la novamente.
Apenas gostaria de comentar, para não irmos muito longe, duas questões do Prefácio de Célio de Oliveira, que, talvez, pudessem ser revistas pelo autor Paulo Neto.
Em seu Item 1 temos as considerações de que o nosso honestíssimo Chico Xavier fora desfavorável à inserção das obras de Pietro Ubaldi ao meio espírita kardecista.
No que questiono:
Será que o querido Chico disse realmente isto, ou fora ele mal interpretado?
Pois que, afinal, sabemos que o Chico, em carta ao nosso ilustre confrade Clóvis Tavares:
1) Falava da excepcional mediunidade de Ubaldi, de suas venerandas vozes, e, inclusive da Voz Suave e Branda do nosso Senhor Jesus Cristo;
2) E inclusive Emmanuel, através do mesmo Chico, prefaciou a "A Grande Síntese" donde a pudera denominar: "Evangelho da Ciência";
3) E, mais ainda, quem nunca ouvira falar do encontro de Pietro Ubaldi justamente com o Chico, donde tais estiveram psicografando Mensagens Nobilíssimas da Espiritualidade Maior?
E, pois, de retorno, ainda, ao referido Prefácio, ao seu item 10, temos o comentário de que a mediunidade do Chico não teria aprofundado a questão do "Corpo" de Jesus por meio de André Luiz, de Bezerra, etc. e etc. Entretanto, isso não está com a mais pura verdade, pois a obra do Chico, com André Luiz prefaciado por Emmanuel, aborda o tema sim, no cap. 26 do importante "Mecanismos da Mediunidade" (1959) donde ele acrescenta que Jesus: "Em Jerusalém, no templo, desaparece de chofre, desmaterializando-se", e logo a frente ministra que Jesus governava a matéria, "dissociando-lhe os agentes e reintegrando-os à vontade", o que confirma seus altíssimos poderes e sua roupagem "transfísica", ou, de "natureza quântica", em linguagem moderníssima, e não uma roupagem como a nossa, ou seja, grosseira roupagem, ou veículo, simplesmente, material, biológico e carnal.
E a obra de Divaldo Franco, do Espírito Vianna de Carvalho, aliás, prefaciada por Joanna de Ângelis, de título "À Luz do Espiritismo" (2006-Alvorada Editora), informa o mesmo da obra de André Luiz, de que o Cristo era: Sim, muito diferente de nossa grosseira roupagem física, biológica e carnal, pois se desmaterializava e tornava a materializar-se como Espírito Puríssimo que o Era e que, afinal, o É.
Aliás, recordemos que tanto Emmanuel como Joanna de Ângelis colaboraram com instruções altíssimas de "O Evangelho Segundo o Espiritismo" (1864-AK), no século 19, e que, pois, são Espíritos nobilíssimos, e, pois, credores do nosso maior respeito por estarem adesos, há tanto tempo, à plêiade do Espírito de Verdade assessorado por Jesus.
Porém, apenas digo isto supra:
Pelo fato de que pessoas mais exigentes e cultas, e que, de repente, em sabendo das mesmas informações de que agora comento, e que, as identificando na obra de Paulo Neto, que, afinal, são questões discutíveis, poderão, da mesma forma que eu, refutá-las como inverdades, e, pois, chamar a atenção do 'Consolador' por tal falha doutrinária.
No mais, um grandessíssimo abraço aos amigos, abraço este extensivo, é claro, ao sábio espiritista e escritor Paulo Neto.
Despeço-me agradecido a Jesus por nos ter agraciado com amigos tão relevantes, tão educados e tão cultos como vocês.
Respeitosamente!
O Amigo de sempre:
Fernando Rosemberg Patrocinio
Nota do Editor:
Dirigida à direção da EVOC, editora que publicou o e-book acima mencionado, a mensagem foi encaminhada também, simultaneamente, ao autor do livro, nosso colega Paulo Neto, que encaminhou à revista a seguinte resposta:
“Primeiramente, gostaria de agradecer a Fernando Rosemberg a avaliação positiva do meu e-book Os Quatro Evangelhos, obra publicada por Roustaing, seria a revelação da revelação?
Sobre as duas questões do Prefácio do escritor Célio de Oliveira, que recomendou revisar, farei os devidos comentários.
Em seu Item 1 temos as considerações de que o Chico fora desfavorável à inserção das obras de Pietro Ubaldi ao meio espiritista.
Será que o Chico disse isto? Ou teria sido ele mal interpretado? Pois que, afinal, sabemos que o Chico, em carta ao confrade Clóvis Tavares:
1) Falava da excepcional mediunidade de Ubaldi, de suas venerandas vozes, e, inclusive da Voz suave e branda do nosso Senhor Jesus Cristo;
2) E inclusive Emmanuel, através do mesmo Chico, prefacia “A Grande Síntese” (PU) donde a chamava de “Evangelho da Ciência”;
3) E quem nunca ouvira falar do encontro de Ubaldi com Chico, donde tais psicografaram Mensagens Nobilíssimas da Espiritualidade Maior?
Descobrimos que a carta de Chico Xavier ao amigo Clóvis Tavares tem a seguinte data: “Pedro Leopoldo, 30 de março de 1950” (1). Nela se nota que o médium tinha a obra de Ubaldi em alta conta. A questão é: Teria ele, Chico Xavier, mantido essa posição até o final da vida?
A razão de minha pergunta reside neste fato que Jorge Rizzini narra em J. Herculano Pires: o apóstolo de Kardec, no tópico “Caso Pietro Ubaldi”, do qual transcrevo o seguinte trecho:
Herculano Pires, admirador de “A Grande Síntese” (ele possuía a terceira edição impressa na Itália) foi, no entanto o primeiro a apontar publicamente, “falhas de percepção e alguns desajustamentos” na obra máxima do sensitivo italiano. E mais tarde assumiria atitude enérgica em relação às pretensões e críticas de Pietro Ubaldi à obra da Codificação. O fato deu-se por ocasião do Sexto Congresso Espírita Pan-americano, realizado em outubro de 1963 em Buenos Aires. Ubaldi enviara ao congresso uma tese […] cujo teor absurdo os ubaldistas de São Paulo divulgaram antes pela imprensa profana e cujas conclusões insólitas são estas:
1. O Espiritismo estacionou na teoria da reencarnação e na prática mediúnica;
2. Não possuindo um “sistema conceptual completo”, não pode ele ser levado a sério pela cultura atual;
3. A filosofia espírita é limitada, não oferece uma visão completa do todo e “não abrange todos os momentos da lei de Deus”;
4. O Espiritismo não construiu uma “teologia espírito-científica”, que explique o que a católica não explica”.
5. O Espiritismo corre o perigo de ficar parado no nível Allan Kardec, como o catolicismo ficou no nível São Tomás e o protestantismo no nível Bíblia.
E, para “salvar” o Espiritismo, Pietro Ubaldi propunha que seus livros fossem adotados pelo movimento doutrinário…
Herculano Pires, com a rapidez que o assunto exigia, redigiu um artigo que fez publicar no “Diário de São Paulo” e na “Revista Internacional de Espiritismo”, […]. (2)
Esse desencantamento de Herculano Pires com relação a obra de Ubaldi poderia também ter acontecido com Chico Xavier, convém lembrar que à época era bem próximo do jornalista, razão pela qual suponho, teve conhecimento dessa polêmica e, certamente, ficou do lado dele.
E, no Item 10 daquele Prefácio, mais ainda, temos que a mediunidade do Chico não teria aprofundado a questão do “Corpo” de Jesus por meio de André Luiz, de Bezerra, etc. e etc.
Entretanto, isso não está com a verdade, pois a obra do Chico, com André Luiz prefaciado por Emmanuel, aborda o tema sim, no Cap. 26 de “Mecanismos da Mediunidade” donde ele fala que Jesus:
“Em Jerusalém, no templo, desaparece de chofre, desmaterializando-se”, e, logo a frente diz que Jesus governava a matéria, “dissociando-lhe os agentes e reintegrando-os à vontade”, o que confirma seus altíssimos poderes e sua roupagem “transfísica”, ou, de “natureza quântica”, e não como a nossa grosseira roupagem carnal.
Entendo que “aprofundar” não é a mesma coisa que “abordar”. Inclusive, se verificarmos na obra citada, veremos que é uma abordagem bem rápida.
É importante esclarecer que o trecho de Mecanismos da Mediunidade, mencionado consta do capítulo intitulado “Jesus e a mediunidade”, que trata dos fenômenos mediúnicos acontecidos com o Mestre de Nazaré. Mais especificamente, faz parte do tópico “Efeitos Físicos”. Assim as informações do trecho transcrito deve se restringir a esse fenômeno mediúnico.
A desmaterialização que supostamente ocorreu com Jesus, só faz sentido se ele estivesse materializado, ou seja, encarnado num corpo de carne e osso, em nota o autor espiritual, André Luiz, a relaciona a João 7,30. Para melhor análise, vou transcrevê-la junto com outras três passagens em que se relata que queriam prender Jesus:
João 7,30: “Então tentaram prender Jesus. Mas ninguém pôs a mão em cima dele, porque a hora dele ainda não tinha chegado.”
João 8,20: “Jesus falou essas coisas enquanto estava ensinando no Templo, perto da sala do Tesouro. E ninguém o prendeu, porque a hora dele ainda não havia chegado.”
João 8,59: “Então eles pegaram pedras para atirar em Jesus. Mas Jesus se escondeu e saiu do Templo.”
João 10,39: “Eles tentaram outra vez prender Jesus, mas ele escapou das mãos deles.”
Em O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, R. N. Champlin, explica: “’… pôs a mão…’ é uma antiga expressão idiomática que quer dizer aprisionar, e que era frequentemente empregada em sentido formal ou legal.” (3)
Portanto, em João 7,30, a meu ver, não se trata de nenhum fenômeno de desmaterialização de Jesus, até mesmo porque se fosse, como explicar que não ocorreu o mesmo em João 8,59 onde narra que ele “se escondeu” e em João 10,39 em que apenas é dito que “ele escapou”. É preciso coerência na interpretação dos textos bíblicos.
E já que foi citado João, vejamos isto que ele disse: “[…] todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio na carne é de Deus.” (1 João 4,2) (4). Assim, temos o próprio João dizendo que Jesus não era um agênere.
Em Um Caso de Desmaterialização, Alexandre Aksakof narra o fenômeno de desmaterialização ocorrido com a médium Sra. d’Esperance. Samuel Nunes Magalhães, em Anna Prado: a mulher que falava com os mortos, também relata essa ocorrência com a médium. Diante disso, não há como concluir que a desmaterialização não implica que o agente causador seja um agênere.
Por oportuno, vejamos esta fala de Aulus, em Nos domínios da Mediunidade, no cap. 28 – Efeitos físicos:
– Se pudéssemos contar com mais ampla educação do instrumento, decerto menos teríamos a temer, de vez que a própria individualidade do servidor colaboraria junto de nós, evitando-nos preocupações e contratempos prováveis. A materialização de criaturas e objetos de nosso plano, para ser mais perfeita, exige mais segura desmaterialização do médium e dos companheiros encarnados que o assistem, porque, por mais nos consagremos aos trabalhos dessa ordem, estamos subordinados à cooperação dos amigos terrestres, assim como a água, por mais pura, permanece submetida às qualidades felizes ou infelizes do canal por onde se escoa. (5)
Na materialização de um Espírito terá em contrapartida a desmaterialização do médium, ainda que parcialmente.
E a obra de Divaldo, do Espírito Vianna de Carvalho:
"À Luz do Espiritismo", diz o mesmo que André Luiz e Emmanuel, que o Cristo era: Sim, muito diferente de nossa corporeidade física e carnal, pois se desmaterializava e tornava a materializar-se como Espírito Puríssimo que o Era e que o É.
No capítulo intitulado Hipnotismo e Mediunidade, da obra citada, a certa altura, Vianna de Carvalho lista “Os fenômenos mediúnicos na vida pública do Rabi”, lá pelo final diz:
Leitura psíquica, visão à distância, voz direta, sonambulismo, passes, transfiguração, cura à distância, materialização, desmaterialização, previsão do futuro foram alguns dos fenômenos operados pelo Divino Instrutor, honrando a Mediunidade.
Conclui o nobre Espírito:
O Evangelho é uma fonte mediúnica a cascatear na História.
Jesus é o Médium de Deus, por Excelência. (5)
Aqui valem as mesmas observações que fiz a respeito de André Luiz, sobre a obra Mecanismos da Mediunidade. Ainda que se considere que Jesus tenha se desmaterializado, fato que não vejo como ponto pacífico, isso é um fenômeno mediúnico de efeito físico, cuja ocorrência se dá com qualquer médium possuidor dessa aptidão mediúnica.
Forte abraço.
Paulo Neto.”
Referências:
(1) Carta de Chico datada de 30 de março de 1950: para acessar, clique aqui
(2) RIZZINI, J. J. Herculano: o apóstolo de Kardec. São Paulo: Paideia, 2001, p. 248-249.
(3) CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo – vol. 2. São Paulo: Hagnos, 2005, p. 385.
(4) Bíblia Sagrada, 8ª ed. Petrópolis: Vozes, p. 1445.
(5) XAVIER, F. C. Nos Domínios da Mediunidade. Rio de Janeiro: FEB, 1987, p. 262-263.
(6) FRANCO, D. P. À Luz do Espiritismo. Salvador, BA Livr. Espírita Alvorada, 2000, p. 23.