Suicídio:
visão
espírita
Segundo Divaldo Pereira Franco, trazendo até nós a
informação de sua mentora Joanna de Ângelis, até o ano
de 2026 o suicídio será a causa número um de mortes no
mundo. Por isso mesmo nunca se fez tão necessário se
falar sobre esse tema e a doutrina espírita tem muito a
contribuir nesse sentido, muito embora haja ainda muita
confusão, tanto da parte de quem apenas simpatiza com o
Espiritismo, quanto da parte de quem se diz espírita.
Na questão 957 de O Livro dos Espíritos, Allan
Kardec pergunta quais as consequências do suicídio,
obtendo a seguinte resposta: “Muito diversas são as
consequências do suicídio. Não há penas determinadas e,
em todos os casos, correspondem sempre às causas que o
produziram. Há, porém, uma consequência a que o suicida
não pode escapar; é o desapontamento. Mas a sorte não é
a mesma para todos; depende das circunstâncias. Alguns
expiam a falta imediatamente, outros em nova existência,
que será pior do que aquela cujo curso interromperam”.
Mas o que vemos geralmente é uma propagação de um
Espiritismo aterrorizador sempre que alguém fala de um
suicida, uma versão um pouco mais amena das escolas
religiosas que dizem que a pessoa que atenta contra a
própria vida é alguém que não terá mais salvação. No
caso dos espíritas que não estudaram de fato a questão,
dizem que qualquer um que se mate ficará sofrendo
indefinidamente vendo o seu corpo ser consumido por
vermes responsáveis pela decomposição e ainda vendo o
momento do ato que o tirou deste plano de maneira
precoce. Mas será que é realmente isso que nos diz um
estudo mais aprofundado do Espiritismo?
Não, não é isso. Na questão 944 de O Livro dos
Espíritos, Allan Kardec pergunta se tem o homem o
direito de atentar contra sua própria vida. Resposta:
“Não, somente Deus tem esse direito. O suicídio
voluntário é uma transgressão a lei de Deus”. O
professor, então, resolve colocar o item “a” nessa
questão, já que a resposta da espiritualidade foi muito
intrigante e mereceu uma análise mais profunda: Não é
sempre voluntário o suicídio? Resposta: “O louco que se
mata não sabe o que faz”. Bom lembrar que, na época de
Kardec, louco era uma expressão geral utilizada para
designar qualquer um que sofria de algum transtorno
mental.
Segundo a organização mundial de saúde, nove em cada dez
pessoas que se matam estão passando por algum tipo de
transtorno mental. Portanto, apenas um desses estariam
nas condições de um Camilo Castelo Branco, tendo que
passar, em tese, pelas situações descritas pelo escritor
no livro Memórias de um Suicida. Mas ainda assim
temos que considerar a questão 957 já citada neste
artigo.
Importante lembrar ainda a existência de um outro tipo
de suicídio muito mais comum e menos falado, o suicídio
indireto. Aquele que cometemos pelo excesso de
alimentação, de bebidas e de descontrole das emoções, e
que comprometem nossa saúde, podendo nos levar a
desencarnar precocemente. Tema esse abordado em O
Livro dos Espíritos na questão 952: Comete suicídio
o homem que perece vítima de paixões que ele sabia lhe
haviam de apressar o fim, porém, a que já não podia
resistir, por havê-las o hábito mudado em verdadeiras
necessidades físicas? “É um suicídio moral. Não
percebeis que, nesse caso, o homem é duplamente culpado?
Há nele então falta de coragem e bestialidade,
acrescidas do esquecimento de Deus.”
O caso mais conhecido de um suicídio indireto na
literatura espírita está no livro Nosso Lar, com
o personagem André Luiz. Vale muito a pena ler e reler
com calma, principalmente a parte que André Luiz é
atendido pelo médico Henrique de Luna e nega sua
condição de suicida. Ao que o médico esclarece que, não
somente a alimentação e bebidas em excesso têm
influência profunda nesse sentido, mas também as emoções
descontroladas, como a raiva, por exemplo. Além da
energia sexual sem controle, usada apenas para
satisfazer nossos impulsos mais primitivos.
No entanto, a lição que mais devemos extrair desse
estudo, assim como de qualquer tema que estudarmos à luz
da doutrina espírita, é que para falar com segurança
sobre algo, principalmente em público, ou mesmo apenas
entre poucas pessoas, é que antes devemos estudar. A
responsabilidade de influenciar pessoas é algo
inconteste e muitas, a maioria das pessoas procura ajuda
nas religiões ou nos ditos religiosos motivados pela
dor. Daí a importância da humildade que não é se fazer
de vítima, de coitadinho. Pois todos nós somos capazes
de contribuir com a paz íntima de alguém, ainda que
minimamente. Mas para isso precisamos entender que é
necessário preparo e isso é humildade, reconhecer que
somos capazes sim, mas que precisamos sempre nos
instruir, precisamos nos aprimorar.
Portanto, falar sobre qualquer assunto, principalmente
sobre o suicídio, é imprescindível. Mas temos que nos
perguntar antes o porquê de falarmos. Temos que entender
que os fins são mais importantes, ou então é preferível
o silêncio. A finalidade de falar sobre o Espiritismo é
consolar, esclarecer, já que a doutrina espírita é o
Consolador prometido pelo Cristo.