Em fevereiro de 1964, às vésperas do golpe militar,
Chico Xavier não resistiu e, seduzido pelas
materializações promovidas pela médium Otília Diogo, de
Campinas, se animou a exibir os poderes dela a um
repórter e a um fotógrafo da revista O Cruzeiro.
Tomou a decisão após participar de uma sessão privativa
comandada pela moça. Naquele primeiro show para Chico
Xavier, ela ficou amarrada a uma cadeira, cercada por
grades. De repente, luzes pipocaram pela sala escura e
um cheiro forte de perfume se espalhou pela casa. Otília
gemia enquanto o ectoplasma se desprendia de seu corpo e
ganhava a forma de uma criança que, fora das grades,
cantava. Chico assinou embaixo: os fenômenos eram
autênticos. Otília Diogo dava mesmo vida a outras
criaturas: uma das aparições mais assíduas era de uma
freira, a "irmã Josefa". Mas, diante dos jornalistas,
Otília foi uma decepção. A figura que apareceu, "saída"
de seu corpo, era a sua cara. Os repórteres exibiram
fotos de Chico de braços dados com a visitante do além,
a "irmã Josefa", e destacaram a semelhança entre
"espírito" e médium. Chico calou-se sobre o assunto. Só
seis anos depois, ele analisou a noite decepcionante.
Oito repórteres e não dois, como combinado, apareceram
para tentar comprovar fraudes. O clima ficou carregado
na sala e a médium só conseguiu materializar o próprio "perispírito"
(espécie de corpo fluídico do espírito, sempre parecido
com o corpo físico) e as roupas de freira. Quando ele
falou, já era tarde. Otília Diogo tinha sido presa com
uma maleta recheada de roupas utilizadas em
"materializações". O hábito de irmã Josefa também estava
lá. A transformista confessou até mesmo ter pago uma
cirurgia plástica facial com exibições "espíritas" na
casa do cirurgião. Atrás das grades, desta. vez numa
delegacia, ela explicou ter perdido a mediunidade em
1965, um ano após as sessões em Uberaba. Não se
conformou e decidiu apelar para truques.
Chico Xavier, em entrevista à revista O Cruzeiro, voltou
a definir todo médium como "uma criatura humana, com defeitos,
qualidades e anseios humanos". Para ele, havia os espíritas
capazes de superar as vaidades e viver para o outro e havia,
também, aqueles que não suportavam os baques "reservados por
Deus como provação". Otília era do segundo time.
Do livro As vidas de Chico Xavier, de Marcel Souto Maior.
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