Comer com atenção gera
educação nutricional e respeito pelo meio ambiente
“No final, há três coisas que importam: como vivemos,
como amamos e como aprendemos a deixar ir.” Jack
Kornfield
Durante as refeições, sentamos à mesa junto com
familiares, amigos ou mesmo sozinhos para desfrutar dos
alimentos – um prato de macarrão, uma porção de arroz, a
alface fresca, as frutas da estação. Esse ato de
nutrir-se, sem dúvida, revela nossa conexão com o
próprio corpo e também com a terra.
Na hora de comer, muitas vezes preferimos o silêncio ao
alvoroço. Tal como nos desconectamos do celular para
conversar com alguém, e, para lhe oferecer nossa
presença, podemos nos desligar do barulho para apreciar
justamente a comida. Em outras ocasiões, sobretudo com
filhos ou um caro amigo, é significativo eleger assuntos
que possam nutrir a paz daqueles que estão conosco à
mesa e, ainda, um sinal de respeito pelo alimento.
Esses dias contei para um amigo que quando comemos de
maneira atenta, cada refeição se torna um convite à
gratidão. Se possível, e sem rigidez, notamos, por
exemplo, as etapas que foram necessárias para criar o
delicioso pão que está à nossa frente.
Ao comer de maneira consciente todos os dias, aprendemos
a pensar nas pessoas que plantaram e colheram os
cereais, as hortaliças, as ervas aromáticas, as frutas,
a cozinheira ou o cozinheiro que preparou a refeição.
Provamos com cuidado a comida, tentando muitas vezes
adivinhar quantos ingredientes foram usados…
A refeição mais simples ou a mais sofisticada, quando
saboreada com atenção, é capaz de fortalecer também
nossa consciência ambiental, pois essa forma de comer
nos orienta na direção de alimentos frescos, orgânicos,
sem veneno, produzidos localmente, pois é inadequado,
para quem considera a sabedoria do corpo, nutrir-se de
um alimento que provém de uma atividade que seja
prejudicial à natureza. Além disso, a forma como
cultivamos nossos alimentos, a maneira como
transportamos os produtos, o modo como comemos ou
lidamos com nosso lixo, tudo isso está
inter-relacionado.
Ao observar com atenção e afeto o que comemos e bebemos,
podemos cultivar a gratidão pela comida que temos, e,
ainda, mais cientes da origem e da cadeia produtiva que
permite aos alimentos chegarem à nossa mesa,
aprofundamos nossos laços de amor e respeito com a
natureza.
Como posso ajudar a cultivar a atitude do mindful
eating com as crianças e colocar isso em prática? O
ambiente das refeições deve ser favorável, sem
distrações como telas (tablet, TV, celular); tentar
fazer o máximo de refeições em família possível;
respeitar os sinais de saciedade da criança e não a
obrigar a comer contra sua vontade. Até mesmo o
“aviãozinho” com a colher não é recomendado. Essas
atividades que chamam a atenção da criança fazem com que
comer se torne um hábito automático; tente perceber
quando a criança come (ou deixa de comer), quando está
entediada; permita que a criança toque os alimentos e
participe do seu preparo. E estimule a curiosidade da
criança quanto à forma, textura, cor, cheiro, e até
mesmo o som dos alimentos.
Na introdução alimentar, ofereça os alimentos separados
no prato, e não todos batidos e misturados numa papa
única. Assim, o bebê conhece uma variedade de texturas,
cores, aromas e sabores.
Quando o bebê começar a ingerir alimentos sólidos por
volta dos 6 meses, opte por práticas respeitosas, como a
alimentação participativa ou BLW. Isso vai ajudá-lo a
estabelecer uma relação saudável com os alimentos.
Convide a criança a participar das atividades culinárias
como montar o próprio lanche.
Notinhas
O “mindful eating” tem a proposta de envolver a mente, o
espírito e o coração na hora de degustar um alimento ou
refeição. É um conceito de nutrição baseado no
“Mindfulness”, prática que aposta na atenção plena ao
momento presente e sem julgamentos.
O que se percebe é que hoje, cada vez mais cedo, as
crianças estão entrando no “piloto automático” sendo
influenciadas por hábitos da família, os quais não
favorecem, na maioria das vezes, a consciência
alimentar. Entre eles: cozinhar menos em casa; comer às
pressas (“come rápido que estamos atrasados!”); menos
tempo de qualidade em família em torno da mesa;
distrações: utilização de tecnologias como celular, TV,
computador enquanto se come; aumento do consumo de
alimentos industrializados e, por fim, consumo de
refeições fast-food ou de congelados.
|