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por Ricardo Baesso de Oliveira

 

É tudo uma questão de esforço pessoal?


São fundamentos da Doutrina espírita os seguintes conceitos: depende apenas de o indivíduo apressar o seu progresso para a perfeição[i], não existem arrastamentos irresistíveis[ii], e o homem pode sempre vencer as suas más tendências com seus próprios esforços[iii].

Mas, será que as coisas são sempre assim, ou tão simples assim? Não existirão situações especiais, que poderiam configurar exceções a tais princípios?

Um estudo atento do tema leva-nos a considerar dois aspectos especiais.

O primeiro identifica-se com a condição psicológica de certos indivíduos que, em decorrência de um transtorno mental, têm inibidas a sua vontade e a capacidade de, por si mesmos, superarem certos desafios.

manual estatístico e diagnóstico dos transtornos mentais – DSM, da Sociedade americana de Psiquiatria, em sua quinta edição (2013), ao examinar a sintomatologia dos Transtornos depressivos, coloca que muitos pacientes acometidos dessa condição clínica se mostram apáticos, inibidos física e mentalmente, com dificuldade de raciocínio, concentração e tomadas de decisão. Tudo isso como manifestações do transtorno. Ou seja, a própria condição psicopatológica impede, em grande parte, que as pessoas acometidas tomem as decisões necessárias em sua vida, ou demonstrem capacidade de superação. [iv]

Kardec reconhece essa possibilidade ao afirmar que o comprometimento das faculdades mentais tira ao homem o livre-arbítrio, pois não é senhor do seu pensamento aquele cuja inteligência se ache turbada por uma causa qualquer e, desde então, já não tem liberdade. Acrescenta ainda que o Espírito sofre por efeito desse constrangimento, de que tem perfeita consciência, mas que não consegue evitar por ação constritora da matéria corpórea.[v]

Um segundo aspecto a ser considerado também foi reconhecido por Kardec, quando examinou a condição de Espíritos que, sem serem maus, se conservam indiferentes à sua sorte. Nessa oportunidade, o codificador afirmou que existem Espíritos em que lhes falta energia suficiente para quererem o que os pode aliviar. Afirma Kardec: Quantos indivíduos se contam, entre vós, que preferem morrer de miséria a trabalhar? [vi]

Fica bem evidenciado que muitos indivíduos, pela sua própria condição evolutiva, ainda não desenvolveram a energia necessária à superação dos obstáculos da vida, mantendo-se à margem de uma existência operosa ou criativa. Entram no rol daqueles que são rotulados de preguiçosos, acomodados, negligentes, descansados ou exploradores.

Esses Espíritos, em decorrência das experiências reencarnatórias, estarão paulatinamente adquirindo a força íntima que ainda lhes falta para assumirem a condição de construtores do seu destino.

De nossa parte, cabe-nos a devida compreensão do fenômeno e a atitude que entende e respeita a condição evolutiva e as inibições patológicas das pessoas que convivem conosco, não deixando, todavia, de, amorosa e pacientemente, estimulá-las à própria superação.

Segundo Emmanuel, Deus nos concede o privilégio de trabalhar, a fim de agir por nós mesmos e para que tenhamos a bênção de substituir aqueles que ainda não entendem a felicidade de trabalhar. [vii]


 

[i] LE, item 117.
[ii] LE, item 845.
[iii] LE, item 909.
[iv] DSM-5 on-line, pag. 155.
[v] LE, item 847.
[vi] LE, itens 995 e 995ª.
[vii] Paciência, cap. 19.

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita