Cinco-marias

por Eugênia Pickina

 

A natureza e o brincar


“As coisas que não têm nome são mais pronunciadas por crianças.”
  Manoel de Barros


O impulso de brincar é inato nas crianças e responde a uma necessidade biológica e social. É através do brincar que cada um de nós, na infância, aprende a interagir com o entorno, a pôr em ordem os acontecimentos durante o dia, a ensaiar novas habilidades.

Paralelamente a este instinto de brincar, as crianças têm um instinto de natureza (biofilia). Ou seja, uma atração inata pelos entornos naturais. Qualquer criança gosta de jogar bola no parque, andar de bicicleta no quintal, brincar de comidinha sob a copa de uma árvore protetora, de estar dia a dia em contato com o mundo natural…

Brincar e natureza são um complemento perfeito, portanto. Folhas, galhos, pedrinhas, frutos, uma bela borboleta na flor amarela. A variedade de elementos e de estímulos proporcionados pela natureza é o suporte ideal para o brincar livre, satisfazendo a necessidade de natureza que têm os seres humanos desde o início da vida.

De outro lado, em contraste com a cultura da tecnologia e do imediatismo, a natureza oferece à criança a lentidão adequada para desenvolver-se com saúde e alegria, à medida que muitas estão a viver estressadas por conta das telas ou da pressa, principalmente nas grandes cidades. Ao contrário, nos espaços naturais há silêncio. Mas um silêncio que possibilita o experimentar dos sentidos. O canto de um passarinho ou um zumbido da abelha, por exemplo, convida o ouvido a abrir-se a esse som agradável, instigando descobertas e aprendizagens… E isso porque a natureza, ao instigar na criança a capacidade de deslumbrar-se, provoca os sentidos, mas sem gerar a superestimulação, que  ameaça a sua felicidade e desenvolvimento…

Crianças pequenas gostam de tocar a água, manusear o barro, mover-se na areia seca, pegar formiga... E isso porque a natureza oferece elementos sensoriais distintos com os quais têm brincado todas as crianças do mundo no transcorrer da história humana, nutrindo curiosidade e alegria…

Crianças maiores? No quintal da casa da menina de 9 anos tem um pé de goiaba – à tarde, no tempo livre, ela sobe na árvore sem medo, pondo à prova suas habilidades motoras, calculando riscos, provando coragem, determinação, concentração.

Cenário de elementos diversos, a natureza deve estar presente no cotidiano da infância, garantindo às crianças o direito de brincar. Pois são as oportunidades de interação com natureza, estabelecidos pelas crianças através das brincadeiras, que promovem importantes benefícios para o seu desenvolvimento.

 

Notinhas

A brincadeira é um fenômeno considerado universal, presente no cotidiano de crianças de culturas diversas, que tem servido como característica definidora da infância.

A presença da natureza em espaços abertos de lazer proporciona maior diversidade de brincadeiras às crianças. Por exemplo, a presença de vegetação tem sido relacionada a brincadeiras do tipo construtiva, turbulenta e simbólica.

Elementos soltos como pequenas pedras, gravetos, folhas e frutos também são utilizados pelas crianças em brincadeiras de construção e faz de conta.

Os parques urbanos, como os parques infantis e o pátio da escola, são lugares que os pais no geral escolhem levar os seus filhos para brincar de forma segura e onde o contato com a natureza torna-se mais acessível.

Na infância, a superestimulação, e no geral voltada para um melhor desempenho desde muito cedo, está apta a desencadear o que pode ser chamado de infância abreviada.


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita