Entre as tantas correspondências trocadas com Wantuil de
Freitas, a carta abaixo nos traz uma lição importante:
humildade. Segue um trecho da carta: “[...]
comove-me, sobremaneira, o projeto do nosso irmão Dr.
Carlos Lomba. Muito confortadora para mim essa
lembrança. Entretanto, peço-te auxiliar-me aí para que a
proposta não prossiga. Não poderia aceitá-la. Tenho
muitos sobrinhos, mas convém-lhes a todos o trabalho
comum pela vida. Dos amigos da Federação e da própria
Casa de Ismael tenho recebido toda a cooperação de que
careço. E se posso pedir aos companheiros alguma coisa,
rogo-lhes não se esquecerem de mim, nas orações, para
que eu tenha forças para cumprir meu dever menos mal até
o fim da luta. Peço-te, com empenho, auxiliar-me perante
os companheiros, a fim de que não vejam orgulho em minha
recusa e sim o desejo de acertar. Sei que, em qualquer
dificuldade, tenho o apoio e o amor fraternal de vocês
todos e isto para mim é uma grande riqueza.”
Chico Xavier agradeceu, mas recusou a ajuda material para si e
seus sobrinhos. Confessou-se comovido pela lembrança do Dr.
Carlos Lomba e dos amigos da FEB, entretanto solicitou a
cooperação de Wantuil para fazê-los compreender que essa recusa
não era motivada pelo orgulho, mas pelo desejo de prosseguir com
acerto.
Podem até parecer estranhas estas palavras de Chico Xavier. Mas,
ao contrário, são modelos de bom senso e visão profunda da vida.
Para o Espírito imortal as dificuldades, as lutas, o exercício
constante de uma existência trabalhosa são de muito maior
proveito que as facilidades. Estas — na maioria das vezes —
amolentam o caráter e tendem a levar o indivíduo para a
superficialidade das conquistas materiais. Evidentemente, o que
se propunha era alguma ajuda, numa intenção — até louvável — de
amenizar as agruras pelas quais estariam passando os familiares
de Chico Xavier e ele próprio. Mas Chico, humildemente, não
aceita esse tipo de cooperação. Essa atitude ele a adota durante
toda a sua existência. Nada pede, nada quer e nada aceita no
tocante a bens materiais e a facilidades, por menores que
fossem. Ele mesmo dá aos sobrinhos o exemplo da dignidade no
trabalho. E mostra ao mundo que para vencer na sua abençoada
tarefa não precisa mais do que os modestos proventos conseguidos
com o seu próprio esforço. Termina o assunto enfatizando que o
apoio e o amor fraternal de todos é para ele uma grande riqueza.
Essa atitude de Chico Xavier condiz perfeitamente com a diretriz
evangélica: “Dai gratuitamente o que gratuitamente haveis
recebido.” (Mateus, 10:8.)
Do livro Testemunhos de Chico Xavier, de Suely Caldas
Schubert.
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