Conquistando a maturidade psicológica
Um dos mais espinhosos problemas dos seres humanos
aludido pelo Espírito Joanna de
Ângelis é a nossa infância psicológica. Segundo a
sábia mentora espiritual, tal distúrbio abrange
considerável número de pessoas. Aparentemente, a
perspectiva, nesse particular, é bastante sombria.
Afinal de contas, muitas crianças, na atualidade, têm
sido sistematicamente criadas de modo a ter todos ou
pelo menos a maioria dos seus caprichos atendidos. Essa
exagerada e inconsequente concessão dos pais geralmente
ocorre sem muitas considerações para as questões de
responsabilidade e limites, que poderiam dar certo freio
ético aos potenciais impulsos emocionais descontrolados
da sua prole.
Diante dessa enviesada educação recebida, tais
indivíduos geralmente chegam à fase adulta carregando
sérios distúrbios comportamentais, pois veem-se como
receptores naturais de todos os direitos e desejos. Por
conseguinte, conforme explica a mentora, criam
mecanismos inconscientes que os levam às condutas
negligentes quanto aos deveres que lhes competem
abraçar. Desse modo, o adulto-criança prevalece in
totum e o seu “... desenvolvimento emocional não
corresponde ao físico e ao intelectual, que são afetados
pelos fenômenos psicológicos da imaturidade”.
Para Joanna de Ângelis, no
geral, prevalece aquele tipo de “... adulto suscetível,
medroso, instável, ciumento, que não superou a crise
da infância, nela permanecendo sob conflitos
lastimáveis”. Portanto, é relativamente fácil detectar
indivíduos dotados destas características. Com efeito,
eles estão espalhados por toda parte, infelizmente. Às
vezes, vemo-los inclusive ocupando posições de destaque
na sociedade, tomando decisões que afetam a vida de
milhares de pessoas ou influenciando-as de forma
lamentável.
Analisando essa questão, Joanna de Ângelis pondera que
“Os indivíduos, psicologicamente adormecidos, são
ainda fisiológicos, não obstante possam estar projetados
na sociedade e até mesmo bem considerados por ela”. Tal
assertiva denota, é preciso admitir, que tanto o
julgamento coletivo positivo, assim como a opinião
pública favorável em relação a determinados atores
políticos ou ideias, podem estar altamente contaminados
pela imaturidade psicológica. Em certos momentos
históricos, aliás, isso tornou-se mais evidente como,
por exemplo, a ascensão do Nazismo na Alemanha ou a
recente divisão política dos EUA, fortemente estimulada
pelas visões de mundo anacrônicas derivadas do
Trumpismo.
Ademais, suspeitamos que muitos dos crimes hediondos,
que ora ocorrem aos magotes como latrocínios e
feminicídios, jazem em seu cerne a imaturidade
psicológica dos seus protagonistas. Afinal, acostumados
a enxergar a vida apenas pela sua ótica distorcida, não
conseguem sequer vislumbrar a noção de alteridade, que
rege as relações entre pessoas verdadeiramente maduras.
Nesse sentido, como muito bem explica a lúcida mentora,
“Uma peculiar insensibilidade emocional domina o
indivíduo, que se desloca, por evasão psicológica, do
ambiente e das pessoas com quem convive, poupando-se a
aflições e somente considerando os próprios problemas
que o comovem, ante a frieza que exterioriza quando em
relação aos sofrimentos do próximo”.
Há outros indivíduos, contudo, que primam por querer
adaptar à realidade dos fatos ao seu talante. Não
conseguem exercitar a capacidade de enxergar além dos
seus tacanhos limites. Assim sendo, para eles, a vida
deve ser regida pela sua exclusiva vontade e
interpretação. Falta-lhes, assim, a mais remota ideia do
que significa seriedade e equilíbrio. Em resumo, são
criaturas que não despertaram ainda para a vida real. A
sua acentuada imaturidade psicológica não lhes permite
sair do casulo em que se encontram voluntariamente.
No entanto, como a vida é uma grande escola de
aprendizado, em dado momento são despertadas do seu
longo embotamento mental. Em decorrência de fatos ou
acontecimentos desagradáveis que lhes acometem de alguma
forma, perdem a possibilidade de controle ou realização
da vontade doentia. Normalmente, são os reveses e
infortúnios que ainda moldam a vida inteligente nesse
mundo, e dos quais ninguém está livre, inclusive elas.
Mais ainda, para esses elementos é o inadiável
despertamento que “... retira o véu da ilusão e faculta
a percepção da realidade não fugidia, aquela que precede
a forma e permanece depois da sua disjunção”, como
corretamente observa Joanna de Ângelis. Para ela, a
propósito, despertar envolve a identificação de novos
recursos, assim como a descoberta de valores expressivos
(virtudes e qualidades superiores do Espírito) e
significados à vida (outrora despercebidos).
Daí decorre o início da transformação do indivíduo para
outro patamar evolutivo. Para Joanna de Ângelis, “O
amadurecimento psicológico do indivíduo é fator decisivo
para o comportamento edificante em quaisquer
circunstâncias, que culmina nesse estado de equilíbrio,
prenunciador de paz e de plenitude”. Nesse sentido,
podemos conjecturar que a nossa humanidade ainda se
encontra distante desse estado tão desejado. Mas
conquistá-lo é vital para acelerarmos o aperfeiçoamento
moral e ético da nossa raça e, por extensão, a tão
aguardada mudança para melhor em nosso orbe.
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