Artigos

por Anselmo Ferreira Vasconcelos

 

Conquistando a maturidade psicológica


Um dos mais espinhosos problemas dos seres humanos aludido pelo Espírito Joanna de Ângelis é a nossa infância psicológica. Segundo a sábia mentora espiritual, tal distúrbio abrange considerável número de pessoas. Aparentemente, a perspectiva, nesse particular, é bastante sombria. Afinal de contas, muitas crianças, na atualidade, têm sido sistematicamente criadas de modo a ter todos ou pelo menos a maioria dos seus caprichos atendidos. Essa exagerada e inconsequente concessão dos pais geralmente ocorre sem muitas considerações para as questões de responsabilidade e limites, que poderiam dar certo freio ético aos potenciais impulsos emocionais descontrolados da sua prole.

Diante dessa enviesada educação recebida, tais indivíduos geralmente chegam à fase adulta carregando sérios distúrbios comportamentais, pois veem-se como receptores naturais de todos os direitos e desejos. Por conseguinte, conforme explica a mentora, criam mecanismos inconscientes que os levam às condutas negligentes quanto aos deveres que lhes competem abraçar. Desse modo, o adulto-criança prevalece in totum e o seu “... desenvolvimento emocional não corresponde ao físico e ao intelectual, que são afetados pelos fenômenos psicológicos da imaturidade”.

Para Joanna de Ângelis, no geral, prevalece aquele tipo de “... adulto suscetível, medroso, instável, ciumento, que não superou a crise da infância, nela permanecendo sob conflitos lastimáveis”. Portanto, é relativamente fácil detectar indivíduos dotados destas características. Com efeito, eles estão espalhados por toda parte, infelizmente. Às vezes, vemo-los inclusive ocupando posições de destaque na sociedade, tomando decisões que afetam a vida de milhares de pessoas ou influenciando-as de forma lamentável.

Analisando essa questão, Joanna de Ângelis pondera que “Os indivíduos, psicologicamente adormecidos, são ainda fisiológicos, não obstante possam estar projetados na sociedade e até mesmo bem considerados por ela”. Tal assertiva denota, é preciso admitir, que tanto o julgamento coletivo positivo, assim como a opinião pública favorável em relação a determinados atores políticos ou ideias, podem estar altamente contaminados pela imaturidade psicológica. Em certos momentos históricos, aliás, isso tornou-se mais evidente como, por exemplo, a ascensão do Nazismo na Alemanha ou a recente divisão política dos EUA, fortemente estimulada pelas visões de mundo anacrônicas derivadas do Trumpismo.

Ademais, suspeitamos que muitos dos crimes hediondos, que ora ocorrem aos magotes como latrocínios e feminicídios, jazem em seu cerne a imaturidade psicológica dos seus protagonistas. Afinal, acostumados a enxergar a vida apenas pela sua ótica distorcida, não conseguem sequer vislumbrar a noção de alteridade, que rege as relações entre pessoas verdadeiramente maduras.

Nesse sentido, como muito bem explica a lúcida mentora, “Uma peculiar insensibilidade emocional domina o indivíduo, que se desloca, por evasão psicológica, do ambiente e das pessoas com quem convive, poupando-se a aflições e somente considerando os próprios problemas que o comovem, ante a frieza que exterioriza quando em relação aos sofrimentos do próximo”.

Há outros indivíduos, contudo, que primam por querer adaptar à realidade dos fatos ao seu talante. Não conseguem exercitar a capacidade de enxergar além dos seus tacanhos limites. Assim sendo, para eles, a vida deve ser regida pela sua exclusiva vontade e interpretação. Falta-lhes, assim, a mais remota ideia do que significa seriedade e equilíbrio. Em resumo, são criaturas que não despertaram ainda para a vida real. A sua acentuada imaturidade psicológica não lhes permite sair do casulo em que se encontram voluntariamente. 

No entanto, como a vida é uma grande escola de aprendizado, em dado momento são despertadas do seu longo embotamento mental. Em decorrência de fatos ou acontecimentos desagradáveis que lhes acometem de alguma forma, perdem a possibilidade de controle ou realização da vontade doentia. Normalmente, são os reveses e infortúnios que ainda moldam a vida inteligente nesse mundo, e dos quais ninguém está livre, inclusive elas.

Mais ainda, para esses elementos é o inadiável despertamento que “... retira o véu da ilusão e faculta a percepção da realidade não fugidia, aquela que precede a forma e permanece depois da sua disjunção”, como corretamente observa Joanna de Ângelis. Para ela, a propósito, despertar envolve a identificação de novos recursos, assim como a descoberta de valores expressivos (virtudes e qualidades superiores do Espírito) e significados à vida (outrora despercebidos).

Daí decorre o início da transformação do indivíduo para outro patamar evolutivo. Para Joanna de Ângelis, “O amadurecimento psicológico do indivíduo é fator decisivo para o comportamento edificante em quaisquer circunstâncias, que culmina nesse estado de equilíbrio, prenunciador de paz e de plenitude”. Nesse sentido, podemos conjecturar que a nossa humanidade ainda se encontra distante desse estado tão desejado. Mas conquistá-lo é vital para acelerarmos o aperfeiçoamento moral e ético da nossa raça e, por extensão, a tão aguardada mudança para melhor em nosso orbe.
 
 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita