Cinco-marias

por Eugênia Pickina

 

Convivência e diferenças


Nós não vemos o que vemos, nós vemos o que somos. Só veem as belezas do mundo aqueles que têm belezas dentro de si
. Rubem Alves


Aceitar as diferenças é fundamental para uma boa convivência e equilíbrio social. À medida que conviver é uma arte, pois pressupõe a pessoa lidar com o diferente, respeitando a diversidade de hábitos, gostos, culturas, crenças etc., o fato de o mundo ainda não ser um lugar de paz diz respeito também aos que são inábeis nessa arte…

E como desenvolver essa aptidão para a boa convivência? Se na infância as crianças forem orientadas sobre formas de conviver e respeitar a maneira de ser de cada um – suas predileções, costumes, crenças, heranças culturais etc. – muito provavelmente serão adultos mais empáticos, solidários, pacíficos, e que saberão ter espírito cooperativo para dialogar com o diferente.

Sabemos que somente a partir dos 4 anos as crianças começam a ter realmente uma percepção do outro. É então nessa fase que os pais precisam estar atentos e dispostos a apresentar aos filhos o mundo com suas qualidades e diversidades, e procurando servir de ponte entre a criança e o mundo.

Obviamente, o papel dos pais vai além de apenas apresentar o mundo. É sua tarefa essencial fazer uma mediação entre a criança e as novas descobertas/experiências. Com autoridade, mas sem autoritarismo, eles necessitam, por exemplo, conversar sobre as decisões das crianças, salientar aquilo que é válido e aquilo que não é, sem olvidar de colocar limites quando a situação assim exigir – se a criança comenta que um colega do parquinho do condomínio é “chato” ou “estranho”, por exemplo, os pais podem explicar que o respeito vem antes de qualquer preferência.

Quando a criança começa a ir para a escola, por volta dos 4 ou 5 anos, ela já tem consciência de que existem opiniões divergentes. E é nesse momento que os pais podem dar início ao treinamento do diálogo e também do acolhimento daquilo que é diferente – hábitos alimentares, religiosos etc. É bem importante que os pais conversem bastante com a criança, escutem com atenção o que aconteceu no dia a dia da escola, lembrando-se de colocar a criança em confronto com ela mesma em relação às atitudes que tomou. Esses diálogos com a criança, fazendo com que ela reflita sobre as próprias atitudes em relação aos outros, contribui para que ela desenvolva empatia e capacidade de compreensão.

Os pais também devem transmitir aos filhos os valores que são importantes para a família e, a partir disso, orientar a criança a perceber quando age de acordo com esses valores ou não.

É necessário também que os pais estejam conscientes de que, mais do que aquilo que dizem para os filhos, as crianças estão sempre atentas às atitudes dos adultos. Um pai que é intransigente com os costumes culturais da mãe, por exemplo, dá um modelo para a criança. Uma família que sabe dialogar entre costumes distintos é uma família que vai gerar crianças que conseguirão conviver bem com as diferenças.

 

Notinhas

No dia a dia, os pais podem: conversar sempre; não gritar; evitar respostas autoritárias; agir com firmeza e sem autoritarismo; não fechar questões sem oferecer ao filho ou à filha uma justificava plausível; procurar falar de maneira paciente.

Reforçar com persistência quão importante é ouvir e respeitar o posicionamento das pessoas. O respeito à opinião dada pelo pai, pela mãe ou pelos irmãos, mesmo que não sejam concordantes, precisa ser considerado. Da mesma forma, a criança precisa ser ouvida.

Ao separar brinquedos, roupas, livros para doação, a criança pode participar ativamente do processo para compreender gradativamente que é possível ajudar os que necessitam sem menosprezá-los.


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita