Convivência e diferenças
Nós não vemos o que vemos, nós vemos o que somos. Só
veem as belezas do mundo aqueles que têm belezas dentro
de si.
Rubem Alves
Aceitar as diferenças é fundamental para uma boa
convivência e equilíbrio social. À medida que conviver é
uma arte, pois pressupõe a pessoa lidar com o diferente,
respeitando a diversidade de hábitos, gostos, culturas,
crenças etc., o fato de o mundo ainda não ser um lugar
de paz diz respeito também aos que são inábeis nessa
arte…
E como desenvolver essa aptidão para a boa convivência?
Se na infância as crianças forem orientadas sobre formas
de conviver e respeitar a maneira de ser de cada um –
suas predileções, costumes, crenças, heranças culturais
etc. – muito provavelmente serão adultos mais empáticos,
solidários, pacíficos, e que saberão ter espírito
cooperativo para dialogar com o diferente.
Sabemos que somente a partir dos 4 anos as crianças
começam a ter realmente uma percepção do outro. É então
nessa fase que os pais precisam estar atentos e
dispostos a apresentar aos filhos o mundo com suas
qualidades e diversidades, e procurando servir de ponte
entre a criança e o mundo.
Obviamente, o papel dos pais vai além de apenas
apresentar o mundo. É sua tarefa essencial fazer uma
mediação entre a criança e as novas
descobertas/experiências. Com autoridade, mas sem
autoritarismo, eles necessitam, por exemplo, conversar
sobre as decisões das crianças, salientar aquilo que é
válido e aquilo que não é, sem olvidar de colocar
limites quando a situação assim exigir – se a criança
comenta que um colega do parquinho do condomínio é
“chato” ou “estranho”, por exemplo, os pais podem
explicar que o respeito vem antes de qualquer
preferência.
Quando a criança começa a ir para a escola, por volta
dos 4 ou 5 anos, ela já tem consciência de que existem
opiniões divergentes. E é nesse momento que os pais
podem dar início ao treinamento do diálogo e também do
acolhimento daquilo que é diferente – hábitos
alimentares, religiosos etc. É bem importante que os
pais conversem bastante com a criança, escutem com
atenção o que aconteceu no dia a dia da escola,
lembrando-se de colocar a criança em confronto com ela
mesma em relação às atitudes que tomou. Esses diálogos
com a criança, fazendo com que ela reflita sobre as
próprias atitudes em relação aos outros, contribui para
que ela desenvolva empatia e capacidade de compreensão.
Os pais também devem transmitir aos filhos os valores
que são importantes para a família e, a partir disso,
orientar a criança a perceber quando age de acordo com
esses valores ou não.
É necessário também que os pais estejam conscientes de
que, mais do que aquilo que dizem para os filhos, as
crianças estão sempre atentas às atitudes dos adultos.
Um pai que é intransigente com os costumes culturais da
mãe, por exemplo, dá um modelo para a criança. Uma
família que sabe dialogar entre costumes distintos é uma
família que vai gerar crianças que conseguirão conviver
bem com as diferenças.
Notinhas
No dia a dia, os pais podem: conversar sempre; não
gritar; evitar respostas autoritárias; agir com firmeza
e sem autoritarismo; não fechar questões sem oferecer ao
filho ou à filha uma justificava plausível; procurar
falar de maneira paciente.
Reforçar com persistência quão importante é ouvir e
respeitar o posicionamento das pessoas. O respeito à
opinião dada pelo pai, pela mãe ou pelos irmãos, mesmo
que não sejam concordantes, precisa ser considerado. Da
mesma forma, a criança precisa ser ouvida.
Ao separar brinquedos, roupas, livros para doação, a
criança pode participar ativamente do processo para
compreender gradativamente que é possível ajudar os que
necessitam sem menosprezá-los.
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