Entrevista com Zilda Gama, a médium que
psicografou o Diário dos Invisíveis
Como havia escrito algo sobre a médium Zilda Gama, há
pouco tempo, e por admirar esse Espírito, resolvi
entrevistá-la num dos meus devaneios lúcidos. Desse
modo, vi-me na escola do plano espiritual dirigida por
ela e, ao entrar no corredor que dá para a diretoria,
avistei-a. Ela estava belíssima.
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Trazia nas mãos um exemplar da obra Diário dos
Invisíveis, ainda em sua primeira edição, de 1929.
Na capa, li o seguinte, ainda na |
ortografia antiga: "Livro
psychographado pela autora". Essa edição da obra foi
publicada pela Editora O Pensamento, de São Paulo. |
Aproximando-me, perguntei-lhe se ela poderia
responder-me duas ou três perguntas. Ela disse-me que
sim e acrescentou:
— Fique à vontade para perguntar o que quiser.
Responderei o que souber.
Agradeci-lhe e fiz a primeira pergunta:
— Quando foi que a senhora se tornou espírita?
— Meu jovem... Posso chamá-lo assim, pois se somados 91
anos, aproximados, que tive em minha última encarnação,
com 52 em que estou no plano espiritual, tenho mais do
que o dobro da sua idade atualmente. Então, dispense o
"senhora", menino. Desde que fui criança, sentia a
presença e influência dos Espíritos. Filha de pais
católicos, embora eu já estudasse as obras de Allan
Kardec e houvesse psicografado algumas mensagens, ainda
receava dizer-me espírita, principalmente naquela época,
em que se demonizavam os espíritas e nossa santa
doutrina. Um dia, porém, conversando com o doutor Cunha
Salles, médico, médium e músico muito conhecido em Minas
Gerais, ele perguntou-me: — Você é espírita? — Não! —
respondi-lhe, vacilante. Ele olhou fixamente nos meus
olhos e falou-me com grave entonação: — Você não somente
é espírita, como ainda vai psicografar algumas obras de
grande valor espiritual. Detalhe: o Dr. Cunha acabara de
conhecer-me... Poucos anos depois dessa conversa, o
Espírito Mercedes, um dos meus guias espirituais,
confirmou as palavras do Dr. Cunha Salles, anunciando-me
que Espíritos elevados iriam transmitir-me, pela
psicografia, obras de grande cunho moral... Dias após
essa revelação, passei a psicografar as belas novelas
mediúnicas ditadas pelo Espírito Victor Hugo.
— Que Espíritos narram essa obra que você traz nas mãos?
– perguntei-lhe novamente, e Zilda respondeu-me:
— O primeiro é Allan Kardec, cuja mensagem inicial ele
ditou-me em 1912.
— Quê?! Você foi médium do Codificador da Doutrina
Espírita?
— Sim. Nesse primeiro contato, que me emocionou, ele
preveniu-me: "Sobre tua fronte está suspenso um raio
luminoso, que te guiará através de todas as
dificuldades, de todos os obstáculos, e será a tua
glória ou tua condenação — conforme o desempenho que
deres aos teus encargos psíquicos..."
Segundo encontro
Dias após o primeiro encontro, fui recebido por Zilda
Gama no gabinete da diretoria. Continuando nossa
entrevista, ela disse-me que, finalizando suas
orientações, Kardec lhe recomendou: "Cinge-te de
coragem, fé, benevolência, cumpre sem desfalecimento, e
sem deslizes, todos os teus deveres sociais e divinos, e
conseguirás ser triunfante.”
— Zilda, as orientações de Kardec foram úteis para você?
— perguntei-lhe.
— Tudo quanto me foi revelado, na época, ocorreu como
Kardec disse. Passei por grandes dificuldades para
imprimir as primeiras obras mediúnicas, entretanto, ao
serem publicadas, elas obtiveram grande sucesso.
Milhares de leitores enviaram-me cartas comoventes, em
que prometiam pôr em prática seus elevados ensinamentos.
— Que outros Espíritos se comunicaram em Diário dos
Invisíveis, além de Allan Kardec?
— Recebi mensagens de grande elevação dos Espíritos
Victor Hugo, D. Pedro II, Maria, Pedro, Marietta (Maria
Antonietta Gama, irmã falecida), Mercedes e Affonso.
— É verdade que o Espírito Marietta lhe ditou vários
poemas?
— Sim. Minha irmã desencarnada sempre gostou de ler e
escrever poemas. Sua poesia mediúnica é de grande beleza
e consolo para nós, os que ainda transitamos na matéria.
— Você poderia citar-nos um dos poemas dela que nos
oriente sobre a prece antes de adormecermos à noite,
para que tenhamos a proteção divina contra as más
influências espirituais durante nosso sono?
— Boa pergunta. Muitas pessoas deitam-se, a cada noite,
sem a preocupação com o que lhes poderá ocorrer nessas
horas em que já não se encontram despertas. Não nos
podemos esquecer de que algumas pessoas desencarnam
durante esse período da vida. Caso não se preparem para
sua desencarnação, em especial à noite, poderão passar
por grande confusão mental. Além disso, a prece atrai a
companhia dos bons Espíritos que simpatizam conosco,
assim como a proteção divina. Então, o Pai Nosso ou
este soneto de Marietta são modelos de súplicas a Deus
recomendáveis à noite:
Prece Noturna
Pai, minh'alma contrita e reverente,
após do dia as lutas tormentosas,
eleva-se à amplidão resplandecente
onde abrolhastes sóis e nebulosas...
Acolhei-a, Senhor, piedosamente,
tal como um ninho, às aves temerosas;
Não na deixeis rolar penosamente
ao abismo das faltas tenebrosas...
Dai-lhe, Senhor, conforto às duras penas,
dai-lhe coragem, fé, tenacidade,
pra resistir às turbações terrenas;
Inundai-a de bênçãos e de luz,
dai-lhe pureza, paz, serenidade,
até depor no Céu a sua cruz!
— Que linda prece, Zilda! Preciso refletir em cada
estrofe dela, para que possa dormir sob a proteção
divina. Muito obrigado.
— Agradeço-lhe igualmente, Jó, pelo seu carinho e alta
consideração. Também preciso preparar uma aula sobre a
prece, que pedirei à minha irmã Marietta ajudar-me a
expor a todos os nossos irmãos que, neste momento,
dormem.
— Adeus, irmã, breve nos reencontraremos.
— Saúde, paz e caridade, Jó. Você ainda precisa
trabalhar bastante, antes de nos reencontrarmos. Então,
sempre a sua disposição, despeço-me com fraternal
abraço.
— Disso não tenho dúvida. Até breve.
*
Leitor amigo, como eu disse no início, esta é uma
entrevista fictícia, mas baseada em fatos reais, lidos
na obra supracitada, desse Espírito elevado, Zilda Gama,
desencarnada com 90 anos, após realizar um
extraordinário trabalho mediúnico em que, além dos
textos citados no livro deste artigo, psicografou outras
cinco obras, editadas pela FEB, ditadas pelo luminoso
Espírito Victor Hugo: Na Sombra e na Luz; Do
Calvário ao Infinito; Redenção; Dor
Suprema; e Almas Crucificadas. Pela EDICEL,
publicou outra obra psicografada: Na Seara Bendita,
também ditada por Victor Hugo e prefaciada pelo saudoso
Francisco Klörs Werneck, advogado, historiador,
escritor, jornalista, conferencista, prefaciador e
tradutor de obras espíritas desencarnado no Rio de
Janeiro em 10 de março de 1986, com 81 anos de idade.