Entrevista

por Orson Peter Carrara

Uma linda experiência que nos veio de Portugal

Filipe Miguel Vicente Pereira (foto), natural de Santarém, ora residente em Azambuja, Lisboa, Portugal, é diplomado em Osteopatia pela Escola Superior da Cruz Vermelha Portuguesa e atua profissionalmente em sua área de formação. Nas lides espíritas, participa das atividades da Casa com Evangelho, que ele fundou e coordena. Sua rica experiência na atividade espírita é relatada na presente entrevista.

Como se tornou espírita?

Em 2008 namorava uma moça que apresentava sintomas de "bipolaridade", todavia, sempre me pareceu ser algo mais do foro espiritual, uma vez que ela era uma pessoa extremamente lógica e racional. No intuito de a querer ajudar, comecei a pesquisar sobre espiritualidade e fui encontrar na internet um Fórum Espírita, no qual deixei uma mensagem a solicitar ajuda para a questão que me incomodava. Nessa altura obtive resposta através de um moderador que me aconselhou a visitar um centro espírita perto da minha zona de residência e assim fiz; depois de uma pesquisa, lá encontrei a Associação Cultural Espírita de Santarém. Em suma, entrei no centro com a intenção de ajudar a minha namorada, contudo o grande ajudado fui eu, uma vez que o namoro acabou e eu continuo ligado ao Espiritismo desde então.

O que mais lhe chama atenção no Espiritismo?

Existem dois fatores que me encantam no Espiritismo. Em primeiro lugar a lógica, e depois a proposta renovadora da reforma íntima com Jesus. A lógica na medida em que nos explica detalhadamente muitas questões existenciais que todos nós enquanto seres humanos a certa altura nos indagamos: "Por que, meu Deus?"

Neste sentido, o esclarecimento decorrente dos estudos promove o conhecimento das leis que regem o mundo físico e espiritual e isso é determinante para nos ajudar a sermos pessoas lúcidas, esclarecidas e com uma fé raciocinada. No que diz respeito à reforma íntima, a proposta da transformação moral da humanidade pelo serviço redentor em nome de Jesus foi algo que me fez apaixonar desde logo pelo Espiritismo. Na verdade, eu hoje concluo que já era espírita sem saber. 

Como vê o movimento espírita português?

O movimento espírita português é tutelado pela Federação Espírita Portuguesa (FEP) que na minha opinião tem feito um bom trabalho na divulgação do Espiritismo em Portugal. Tive a honra de entrevistar o Sr. Eng. Vitor Féria, presidente da FEP na Casa com Evangelho, onde me afirmou que a bandeira do seu mandato era a divulgação da doutrina, com especial enfoque no livro espírita. Neste sentido, a FEP e a FEB (Federação Espírita Brasileira) estabeleceram um protocolo fraterno no sentido da cedência dos direitos autorais a fim de se editarem livros espíritas em Portugal, o que facilitou em grande medida o acesso ao livro espírita a mais portugueses. O Espiritismo está presente em quase todas as regiões de Portugal Continental, contudo, a percepção que tenho é que cada centro se fecha um pouco em si mesmo e talvez pudesse haver maior união nas relações institucionais entre centros. Em suma, a cada época sempre haverá grandes desafios pela frente, portanto, confiamos o comando do movimento espírita português a Jesus e Helil e concluímos que, pesem embora as dificuldades, está tudo conforme Deus quer.

Como percebe o movimento espírita no Brasil?

Infelizmente nunca tive a oportunidade de visitar o Brasil, e, portanto, a minha perspectiva do movimento espírita brasileiro é a do consumidor de conteúdos digitais espíritas.  Sei que a FEB é a entidade "mãe", dividindo-se depois em federativas estaduais/regionais e pouco mais sei acerca da estrutura organizadora. No que diz respeito à minha perspectiva pessoal, comparativamente com o movimento português, parece-me um movimento mais muito mais ativo, liberal e amadurecido.  Ativo, uma vez que constato uma grande dinâmica de divulgação on-line de conteúdos espíritas. Talvez também pela sua densidade populacional, a verdade é que neste particular o movimento espírita brasileiro está bem e recomenda-se.  Por outro lado, quando digo liberal refiro-me em concreto à observação da publicação de muitos livros espíritas, talvez inspirados pelos exemplos maiores de Chico Xavier e Divaldo Pereira Franco, contudo, sabendo que a liberdade nem sempre é acompanhada de responsabilidade, fico com a ideia de que talvez até possa haver um excesso de publicações dando espaço para a "contaminação” de conteúdos não espíritas no próprio movimento espírita brasileiro.

Por fim, amadurecido, na medida em que própria cultura brasileira tem enraizada em si mesma a presença de Deus e da religião como um motor de fé cristã. Essa influência positiva facilita a assimilação dos conteúdos ético-morais da doutrina e, com muita naturalidade, estabelece uma relação de proximidade entre o espírita brasileiro e o Pai criador.

E Jesus, o que lhe significa?

No campo cognitivo, eu entendo Jesus como "modelo e guia". Modelo a ser modelado e Guia a quem devo seguir. Existe, porém, o campo do sentimento, e nesse domínio eu vejo Jesus como um grande amigo. Um amigo com quem posso contar a todas as horas, mas também a maior referência da presença de Deus na minha vida.
Encanta-me a sua proposta consoladora e me apaixonei pelos seus ensinos aos quais procuro aproximar a minha conduta diária, mas com muita dificuldade e conflitos internos devido à minha inferioridade moral. Em suma, Jesus é para mim o Mestre amado por quem tenho profundo amor e admiração.

Como surgiu o canal Casa com Evangelho?

Em Janeiro de 2021, Portugal apresentava mais de 300 mortes diárias pela Covid-19, motivo pelo qual tomei a iniciativa de fazer um programa on-line de divulgação do Evangelho à luz do Espiritismo, a fim de minimizar o sofrimento humano com a divulgação doutrinária. A ideia preliminar era contribuir com evangelho no lar diário durante 30 dias, ou seja, durante o período de confinamento decorrente do contexto pandêmico em que vivíamos, porém, a proposta de Jesus foi mais abrangente.
Começamos com uma página de Facebook a fazer lives, entretanto foi correndo bem, passado um mês criamos o nosso canal YouTube e hoje somos um projeto espírita digital em todas as plataformas disponíveis.  Para além da divulgação doutrinária com estudos e palestras nos nossos canais abertos, temos uma comunidade virtual afeta ao projeto em que desenvolvemos estudos doutrinários e fluidoterapia em ambiente Zoom. Quem se interessar pode acompanhar e participar nos nossos projetos clicando 
neste link

Como tem sido essa experiência com o canal, com as lives e com o intercâmbio com tantos novos amigos?

Tem sido uma experiência incrível e transformadora. Formamos uma comunidade luso-brasileira que nos segue com muito carinho e tentamos contribuir com o nosso melhor todos os dias. Hoje em dia as atividades da Casa com Evangelho são:
- Em ambiente público: um estudo do Evangelho diário, palestras públicas aos sábados, Evangelho no lar aos domingos.

- Em ambiente privado: Grupos de oração, estudos doutrinários e fluidoterapia.

À medida que o tempo vai passando os laços de amizade ficam cada vez mais fortes e isso nos deixa muito felizes, por podermos partilhar momentos tão bons à luz deste consolador prometido que é o Espiritismo.

De suas recordações na vivência espírita, o que gostaria de destacar?

Há dois dias recebi um vídeo de uma amiga que me deixou bastante sensibilizado. Acabada de estacionar em frente ao seu trabalho, prestes a entrar ao serviço, dizia a Cristina: "Meu amigo, quero agradecer-te todo o teu trabalho e tudo o que tens feito por mim. Como te disse, o balcão onde trabalho vai fechar e ainda não sei se vou ficar na empresa ou onde vou ser colocada se ficar. Esta situação antes de conhecer a Casa com Evangelho era motivo para estar completamente desesperada, ansiosa e angustiada e por causa de ti e da doutrina hoje vejo as coisas de forma diferente, sinto-me em paz e confio em Deus. Não há preço que me pague este sentimento e por isso quero agradecer-te do fundo do meu coração. Muito obrigado!"
Foi um testemunho simples, mas que me tocou de forma particular e me dá ânimo seguir adiante com a alegria de servir.

Algo mais que gostaria de acrescentar?

Sim, a pandemia, tendo o seu lado mau do ponto de vista da saúde e das mortes lamentáveis das quais todos nos compadecemos, também veio consolidar o paradigma dos meios digitais como mecanismo de divulgação doutrinária. Creio que este novo paradigma veio para ficar e que os conceitos de centros espíritas em Portugal, no Brasil e no mundo, vão ter de ser repensados pelas entidades competentes e adaptar-se a sistemas híbridos da prática espírita. A nova era assim o exige e os movimentos espíritas, a meu ver, devem acompanhar os novos tempos e a evolução natural das sociedades modernas.

Suas palavras finais.

Agradecer a Deus e a Jesus pela confiança e pela oportunidade de trabalho que tenho a cada dia. Por fim, pela amizade e amabilidade de me desafiar para esta entrevista. Que Jesus nos ajude a perseverar sempre, no caminho do bem.

 
 

 

     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita