Um caso
de altas
habilidades
O estudo atento da Revista espírita nos surpreende
favoravelmente, pois nos coloca diante de relatos
inusitados. O relato que se segue, extraído da edição de
junho de 1861, nos apresenta um belo caso de provável
autismo com altas habilidades e nos permite ilações
importantes. Vejamos.
Desde a idade de dez anos, Henri Mondeux fez-se notar
pela prodigiosa facilidade com que resolvia, de cabeça,
as mais intrincadas questões de aritmética, embora
completamente iletrado e não havendo feito nenhum estudo
especial. Logo atraiu a atenção e muitas pessoas iam
vê-lo, enquanto pastoreava seus rebanhos. Os visitantes
divertiam-se em propor-lhe problemas, o que lhe
proporcionava pequeno lucro.
Um professor de matemática do colégio de Tours pensou
que um dom natural tão notável deveria dar resultados
surpreendentes, se fosse auxiliado. Em consequência,
empenhou-se na tarefa de o educar; mas não tardou a
perceber que lidava com uma das mais refratárias
naturezas. Com efeito, aos dezesseis anos de idade, mal
sabia ler e escrever correntemente e, coisa
extraordinária, jamais conseguira o professor que ele
retivesse o nome das figuras elementares de geometria,
de sorte que sua faculdade era inteiramente circunscrita
às combinações numéricas.
Uma faculdade tão exclusiva, conquanto levada ao extremo
limite, não podia abrir-lhe nenhuma carreira, porque nem
mesmo poderia ser contador numa casa comercial, e disto
seu professor se apavorava, e com razão; este quase se
censurava por havê-lo retirado de suas vacas,
perguntando-se o que seria dele quando os anos o
tivessem privado do interesse a ele ligado, sobretudo em
razão da sua idade. Além de sua notória deficiência
intelectual, Henri possuía uma personalidade um pouco
grave (sisudo, em outra tradução),
significando, talvez, uma certa dificuldade de interação
social.
Talvez, em nossos dias, ele fosse considerado um autista
com altas habilidades em aritmética. Mondeux morreu, em
fevereiro de 1861, aos 34 anos. Dois meses depois de seu
desencarne, comunicou-se na Sociedade Espírita
Parisiense. Dentre outras coisas, deixou a entender que:
-
Sua experiência reencarnatória nada possuía de
expiatória, podendo até mesmo ser considerada como
motivadora de reflexão aos sábios e doutos da Terra,
ratificando a ideia de que nem todos os transtornos
mentais estão vinculados a falhas éticas.
-
Possuía conhecimentos reencarnatórios prévios de
matemática, o que sugere que, pelo menos em alguns
casos, as altas habilidades demonstradas por alguns
autistas representem conquistas prévias destes
Espíritos.
-
Sua deficiência intelectual e sua aventada
inabilidade social estavam relacionadas
provavelmente a limitações cerebrais. Isso pode ser
sugerido pelas seguintes colocações: (...) a
faculdade [notáveis cálculos aritméticos] foi sempre
empregada nisto, não restava mais outra
coisa. (...) por certo eu era um
tolo, não é mesmo? Dizei a palavra, eu a aceitarei.
Mas aqui [desencarnado] não mais tenho que
desenvolver a minha faculdade para as cifras, e ela
se desenvolve rapidamente para outras coisas.
Vale a pena conferirmos a descrição completa: Revista
Espírita, junho de 1861.