De: Leitora não identificada (Florianópolis, SC)
Quinta-feira, 18 de novembro de 2021 às 9:30:18
Assunto: Deturpação dos textos bíblicos
Bom dia. Não me interessa ser identificada, mas peço por gentileza TRANSCREVER OS TEXTOS BÍBLICOS TAL QUAL FORAM ESCRITOS (independente de quando, como ou quem os escreveu).
Conheço BEM a Bíblia e em lugar algum EDIÇÃO ALGUMA atribui a JESUS a frase: Quem não ODIAR seu pai, sua mãe, seus irmãos.
MEU JESUS, quantas blasfêmias!
Assim, CONFIRMO que embora a doutrina espírita traga consolo, AS DETURPAÇÕES da Bíblia (de onde vocês TIRAM FRASES), para fazer o evangelho de vocês, fazem com que pessoas como eu FUJAMOS de vocês SEM DÚVIDA ALGUMA!
Leitora não identificada
Resposta do Editor:
A leitora não forneceu seu nome nem a cidade de seu domicílio, que só apuramos à vista do IP – endereço do Protocolo de Internet – registrado em sua mensagem.
Por que a leitora se ocultou, se tem tanta certeza no que escreveu? As informações abaixo dar-nos-ão a resposta a essa pergunta.
Em primeiro lugar, fica claro que a leitora não conhece a Bíblia. Se a conhecesse, jamais atribuiria ao Espiritismo e aos espíritas o que ela chama de deturpações da Bíblia.
Contrariamente ao que ela afirma, a expressão ODIAR pai e mãe consta, sim, infelizmente, em várias edições da Bíblia.
Lembremos, para quem não sabe, que Allan Kardec, ao compor seu livro “O Evangelho segundo o Espiritismo”, usou – nas citações dos textos bíblicos – a Bíblia de Port-Royal, que se tornou a mais difundida tradução francesa do século XVIII, de autoria de Louis-Isaac Lemaistre de Sacy (1613-1684), que foi sacerdote em Port-Royal des Champs e respeitado teólogo jansenista e humanista francês.
Na abertura do cap. XXIII d´O Evangelho segundo o Espiritismo, intitulado “Estranha moral”, lemos:
Qui ne hait pas son père et sa mère
1. Une grande troupe de peuple marchant avec Jésus, il se retourna vers eux et leur dit : - Si quelqu'un vient à moi, et ne hait pas son père et sa mère, sa femme et ses enfants, ses frères et ses soeurs, et même sa propre vie, il ne peut être mon disciple. - Et quiconque ne porte pas sa croix, et ne me suit pas, ne peut être mon disciple. - Ainsi quiconque d'entre vous ne renonce pas à tout ce qu'il a ne peut être mon disciple. (Saint Luc, ch. XIV, v. 25, 26, 27, 33.)
Guillon Ribeiro assim traduziu o texto acima:
Odiar os pais
1. Como nas suas pegadas caminhasse grande massa de povo, Jesus, voltando-se, disse-lhes: - Se alguém vem a mim e não odeia a seu pai e a sua mãe, a sua mulher e a seus filhos, a seus irmãos e irmãs, mesmo a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. -E quem quer que não carregue a sua cruz e me siga, não pode ser meu discípulo. - Assim, aquele dentre vós que não renunciar a tudo o que tem não pode ser meu discípulo. (S. LUCAS, cap. XIV, vv. 25 a 27 e 33.)
Comentando o texto de Lucas, Kardec escreveu:
“Certas palavras, aliás muito raras, atribuídas ao Cristo, fazem tão singular contraste com o seu modo habitual de falar que, instintivamente, se lhes repele o sentido literal, sem que a sublimidade da sua doutrina sofra qualquer dano. Escritas depois de sua morte, pois que nenhum dos Evangelhos foi redigido enquanto ele vivia, lícito é acreditar-se que, em casos como este, o fundo do seu pensamento não foi bem expresso, ou, o que não é menos provável, o sentido primitivo, passando de uma língua para outra, há de ter experimentado alguma alteração. Basta que um erro se haja cometido uma vez, para que os copiadores o tenham repetido, como se dá frequentemente com relação aos fatos históricos.
O termo odiar, nesta frase de S. Lucas: Se alguém vem a mim e não odeia a seu pai e a sua mãe, está compreendido nessa hipótese. A ninguém acudirá atribuí-la a Jesus. Será então supérfluo discuti-la e, ainda menos, tentar justificá-la. Importaria, primeiro, saber se ele a pronunciou e, em caso afirmativo, se, na língua em que se exprimia, a palavra em questão tinha o mesmo valor que na nossa. Nesta passagem de S. João: 'Aquele que odeia sua vida, neste mundo, a conserva para a vida eterna', é indubitável que ela não exprime a ideia que lhe atribuímos. A língua hebraica não era rica e continha muitas palavras com várias significações.” (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XXIII, item 3.)
Vê-se que o codificador do Espiritismo, embora fiel à tradução de Sacy, também deplorou a ideia de que Jesus nos peça, para segui-lo, que odiemos pai e mãe. E concluiu que ou o texto não é fiel ao que realmente foi dito, ou o verbo “odiar” tinha no idioma em que foi usado significação diversa.
Deturpação, porém, como acusa a leitora, jamais! Trata-se de uma falsidade que talvez explique o anonimato de quem dela se vale.
A obra de Kardec a que nos referimos surgiu em abril de 1864.
E hoje, mais de 150 anos depois, como as traduções que estão disponíveis na Web apresentam o assunto?
Eis a resposta:
1) Versão católica (incluindo a prestigiada Bíblia de Jerusalém):
Se alguém vem a mim e não odeia seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos, suas irmãs e até a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. Lucas 14:26
Confira: https://bit.ly/3l8ud02
2) American King James version:
If any man come to me, and hate not his father, and mother, and wife, and children, and brothers, and sisters, yes, and his own life also, he cannot be my disciple. Lucas 14:26
[to hate = odiar, aborrecer]
Confira: https://bit.ly/3ra4cBE
3) Tradução de Ostervald ou Osterwald:
Si quelqu'un vient à moi, et ne hait pas son père, sa mère, sa femme, ses enfants, ses frères, ses sœurs, plus encore sa propre vie, il ne peut être mon disciple. Lucas 14:26
[ne hait pas = não odeia]
Confira: https://bit.ly/3cM2opM
Resumindo:
A crítica, quando sincera e fundamentada, será sempre bem-vinda. Mas isso só é possível quando o crítico é honesto e conhece a fundo o assunto que critica. Não é o que vimos no presente caso. |
De: Cleriana Ferreira Cavalcante Hirayama (Guarulhos, SP)
Quarta-feira, 24 de novembro de 2021 às 15:42:13
Assunto: Especial 450 - Frase atribuída a Kardec: Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre...
Excelente texto. É, sempre, importante entendermos de onde nascem as ideias e como são apresentadas. E, embora a frase não tenha sido construída por Allan Kardec, traz o sentido que buscamos para compreender a Vida dentro da visão que a Doutrina dos Espíritos nos apresenta. Frisando que não existe Espiritismo Kardecista, Allan Kardec, sem sombras de dúvidas, foi o escolhido para trazer a nós os esclarecimentos devidos sobre os fenômenos das mesas girantes e consequentemente todos os processos que envolveram as manifestações dos Espíritos pelo intercâmbio mediúnico, com a devida seriedade que é preciso para poder entender que Somos Seres em processos de trabalhos evolutivos, que através da Doutrina dos Espíritos podemos, Humanidade, ver a Vida sob a ótica do Futuro, pelas Vidas sucessivas, lei da reencarnação e não mais como uma única existência, que não traz respostas a tantas indagações que temos.
Quanto a colocação feita no final do texto, atribuída a Léon Denis: “A alma dorme na pedra, sonha no vegetal, agita-se no animal e acorda no homem”, lembro que Denis, na sua obra acima mencionada, O problema do ser, do destino e da dor, escreveu: “Na planta, a inteligência dormita; no animal, sonha; só no homem acorda” (p. 123, grifo nosso), o que convenhamos não é a mesma coisa. Fiquei feliz em ler esse apontamento que traz outra visão bem mais adequada ao que estamos buscando compreender. Parabéns.
Cleriana |
De: Jornal Mundo Maior (Santa Adélia, SP)
Terça-feira, 23 de novembro de 2021 às 23:39
Assunto: A melhor parte de amar
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Acesse o site do Jornal Mundo Maior -website mundo maior - e leia mensagens como esta que adiante transcrevemos:
“As declarações de amor revelam muito do que vai em nossa alma. Por vezes, elas nos descrevem com perfeição.
Elas contam se somos possessivos ou ciumentos, se deixamos espaço para o outro crescer como indivíduo ou não.
Por exemplo, quando somos enfáticos demais no Eu preciso de você; no Não consigo viver sem você, revelamos, mesmo sem querer, que nosso amor é mais carência do que doação.
Amar o outro, tendo, como razão e sustento desse amor, tudo aquilo que o outro nos dá, isto é, tudo que recebemos do parceiro, é certamente um amar frágil, que pode não se manter por muito tempo.
Basta que o outro não mais nos forneça o que estava nos oferecendo, que não mais atenda nossas expectativas, para que todo aquele dito grande amor desapareça, como em um passe de mágica.
Recentemente, ouvimos uma declaração de amor que nos chamou a atenção, por apontar uma direção um pouco diferente da comum.
Dizia assim:
A melhor parte de amar é ser o alguém de outra pessoa, e eu quero ser este alguém, o seu alguém...
Vejamos que o princípio por trás da frase é diferente, e bastante nobre. Muito mais compatível com o verdadeiro sentido do amor, o amor maduro.
Querer ser o alguém da outra pessoa é identificar que o outro também tem expectativas, que também quer ser amado, e se colocar na posição de dar-se ao outro, e não só na de receber, o que é bastante egoísta.
As jovens e os jovens, em determinada idade, quando das primeiras paixões, chegam a fazer listas de exigências. Como ele ou ela precisam ser para ganhar o meu coração?...
Notemos que, em momento algum, consideramos que o outro também tem sua lista, suas expectativas. Pensamos apenas em preencher a nossa, o que eu quero, o que eu sonho.
Mas e o outro? Não tem sonhos? Será que podemos atender aos anelos da outra pessoa?
Será que preenchemos a lista dele ou dela? E que esforços fazemos para isso?
Assim, querer ser o alguém do outro é levar tudo isso em consideração sempre, e não apenas exigir e exigir constantemente.
Nesse nível de amor perceberemos que o que nos completa, o que nos faz feliz numa relação, é também o quanto fazemos pelo outro, o quanto nos doamos à outra pessoa.
Dessa forma, esse patamar de amor nunca nos fará frustrados.
Precisamos enxergar a tal via de mão dupla das relações amorosas, através de uma nova perspectiva, mais inteligente e mais altruísta.
Querer ter outra pessoa ao lado, apenas para nos preencher, como se diz, é muito perigoso e frágil.
A relação a dois é muito mais do que isso.
Amar precisa sempre vir antes do ser amado.
É o amar que nos fará grandes no Universo e não o ser amado.
Foi o amar de tantos Espíritos iluminados que garantiu que a Terra continuasse a existir, e não sucumbisse por inteiro nas mãos do orgulho e do egoísmo.
Que eu procure mais amar do que ser amado, pois é dando que se recebe...” (Redação do Momento Espírita.)
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