Podemos dizer tudo o que pensamos?
Em nome da “liberdade de expressão” muita gente tem
falado à vontade, sem medo, sem pudor. Pessoas antes
anônimas, tímidas, inseguras se lançaram no mundo da
opinião, com a porteira aberta que a internet propicia,
e passaram a dizer tudo o que vem à cabeça, sem
preocupação com as consequências. Com ousadia, têm dito
o que querem, não importando o que e como dizem,
achando-se protegidas pela falsa compreensão do que seja
essa liberdade.
Notamos esse comportamento nas redes sociais, que são
hoje uma espécie de espelho do que há na alma das
pessoas, mas sabemos que esse destempero verbal e
emocional também se dá em família e na sociedade em
geral. Até a mídia impressa e falada, que deveria ter
responsabilidade ética pela influência que tem sobre as
massas, mostra o despreparo de muitos profissionais,
escrevendo ou falando. Uns caem na antipatia do público,
alguns perdem o emprego, outros sujam de indignidade a
história profissional e pessoal.
A liberdade de expressão é uma conquista da civilização
e deve ser garantida como um direito de todos, sem que
isso justifique as opiniões descontroladas, as
manifestações que legitimem o preconceito, a mentira e a
difamação. Esse é o pensamento espírita.
Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, nas
questões 833 e 834, trata da liberdade de pensamento,
inalienável do ser, onde se lê que “É pelo pensamento
que o homem goza de uma liberdade sem limites, porque o
pensamento não conhece entraves” (...). À pergunta: “O
homem é responsável pelo seu pensamento?”, os Espíritos
dizem: “Ele é responsável perante Deus. Só Deus, podendo
conhecê-lo, condena-o ou absolve-o, segundo a sua
justiça”.
Portanto, temos a liberdade sem limites quanto ao
pensamento, mas não quanto à expressão dele. Normalizar
ideias preconceituosas, insultar a dignidade do outro,
expressar violência, tudo isso fere o mais elementar
princípio de respeito ao próximo. E mostra também a
precária educação de quem assim se comporta.
Somos responsáveis pelos “escândalos” que provocamos em
sociedade com expressões e comportamentos infelizes e
imaturos.
Pobre “livre expressão” a que o homem deu seu jeito,
longe da educação, bem distante do direito, e que é puro
ornamento se aplicada sem respeito. Parece poesia, mas é
a triste realidade de muitas mentes.
Liberdade de expressão, para mim, é amor no coração, que
deve chegar primeiro, antes da ideia ser exposta. É o
verbo justo e certo, que não fere quem está perto e
tampouco o ausente. Liberdade de expressão sem
responsabilidade ética é um equívoco, com implicações
morais e jurídicas, é bom lembrar.
Podemos então dizer tudo o que pensamos? Sim, desde que
observemos a ocasião, o conteúdo, a forma e a linguagem.
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