Vaga-lume e infância
A infância é o tempo de maior criatividade na vida de um
ser humano.
Jean Piaget
Prometi e fiquei devedora. Disse antes que contaria a
história do vaga-lume, o pequeno besouro que acende, um
inseto importante para manter o equilíbrio
ecossistêmico…
Ora. A curiosidade é potente no começo da vida. Chegamos
ao mundo ávidos por conhecer, por aprender.
O pediatra da minha filha tem três netos. Ele, mais do
que ninguém, leva a sério a importância da natureza e
suas abundâncias para que as crianças cresçam alegres,
inventivas e saudáveis.
Quanto à inteligência, cientes de que não há uma, mas
muitas, dr. Rodolfo levou (e com todo respeito) da sua
chácara para a cidade, e para os netos conhecerem, um
vaga-lume, esse pequeno inseto que, na minha infância,
eu, meninazinha, chamava de pirilampo*…
Imaginem vocês… Sem dúvida, os netos do dr. Rodolfo
acharam a experiência incrível e ficaram deslumbrados
pelo inseto e seu aspecto bioluminescente:
“O vaga-lume andava na minha mão e eles queriam que eu
pusesse o inseto na mãozinha deles. Eles olhavam como se
fosse um bichinho mágico...”
Sem dúvida, quem convive com criança, e principalmente
no início da vida, nota facilmente a alegria que aparece
no rosto curioso e surpreso de quem vê pela primeira vez
um bichinho tão inusitado…
E me entendam bem. Contei isso para reforçar a
importância de ensinar desde cedo o amor pela natureza e
também o valor inestimável da pura curiosidade… Pois
o amor por aprender só se instala dentro da gente
quando começa como coisa alegre e bonita. Daí o
deslumbramento. E também a esperança.
Notinhas
Vaga-lume e pirilampo são
denominações comuns de insetos coleópteros das famílias Elateridae, Phengodidae ou Lampyridae,
notórios por suas emissões de luz bioluminescente.
O nome pirilampo é originário do grego peri (em
volta) e lampein (luz). Por ser comum na Mata
Atlântica e em outros ecossistemas brasileiros, o
pequeno inseto também foi agraciado com seu nome tupi:
“uauá”. Na linguagem popular, é chamado também de
mosca-de-fogo, salta-martim, lampíride, lampiro,
lumeeira, pirífora, entre outros nomes.
A bioluminescência é causada pela transformação da
energia química em energia luminosa. Esse processo,
chamado de "oxidação biológica", permite que a
energia luminosa seja produzida sem que haja a
produção de calor. Esse processo ocorre da seguinte
maneira: uma molécula de luciferina é oxidada,
formando uma molécula de oxiluciferina; quando essa
molécula perde sua energia, emite a luz. E esses
insetos possuem total controle sobre a emissão de
luz, uma vez que o tecido que provoca essa emissão é
ligado à traqueia e ao cérebro do vaga-lume. O
inseto usa sua bioluminescência para chamar a
atenção de seu parceiro ou parceira.
Apesar de sua importância para o meio ambiente e
para a ciência, o vaga-lume está desaparecendo.
Segundo pesquisas recentes, a perda de habitat, a
poluição luminosa e os pesticidas ameaçam a
ocorrência do vaga-lume.
"Uauá" é derivada do linguajar tupi, que ainda
persiste em algumas partes do Brasil. É como se
disséssemos pisca-pisca na língua gentílica.
*A rigor, pirilampo não é sinônimo de vaga-lume. São
duas espécies de famílias diferentes.
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