Acender a luz da vida
“Jesus, porém, lhes disse: Não é necessário irem
embora. Dai-lhes de comer vós mesmos.” Mateus,
14:16.
A evolução espiritual que se alicerça nas
experiências vividas em incontáveis existências
concede ao Espírito a percepção da vida, de si
mesmo, para além das conveniências do dia a dia,
próprias à sobrevivência comum, em estágios mais
elementares de aprendizado de recursos
interiores. Todavia, também exige, por efeito de
aberturas mentais e em decorrência de percepção
mais clara de valores morais, a busca do futuro,
a alimentação espiritual em nível maior para a
mente e o coração.
Temos como exemplo, no livro A Gênese, capítulo
2, item 33, Allan Kardec exemplificando o caso
de “uma pessoa que se acha no fundo de um
vale, envolvido por densa bruma, não vê o sol.
Entretanto, pela luz difusa percebe que está
fazendo sol”. (...) “O mesmo se dá com a alma. O
envoltório perispiritual, conquanto nos seja
invisível e impalpável, é com relação a ela,
verdadeira matéria, ainda grosseira demais para
certas percepções. Ele, porém, se espiritualiza
à proporção que a alma se eleva em moralidade.”
Jesus, a maior autoridade em pureza de nosso
orbe, é sempre uma advertência ao curso de nossa
caminhada e atividades no mundo. Escravizados
que ainda estamos aos interesses materiais,
temos as percepções dos acontecimentos e, nas
bases em que vivemos, julgamos aceitável que os
semelhantes sofram por conta própria os
processos de sobrevivência e aprendizado que
lhes são característicos, ainda sob efeito do
individualismo e do egoísmo. No entanto, o
Mestre sempre nos aconselha: o amor encontra
rumos salvadores, sem exclusão de ninguém.
A regra do bem e do mal, que se poderia chamar
de reciprocidade ou de solidariedade, não pode
ser aplicada à conduta pessoal do homem para
consigo mesmo. Deus nos dá à medida que nos
falta e a Lei Natural traça-nos o limite de
nossas necessidades; porém, quando a
ultrapassamos, somos penalizados, confrontados
pelo sofrimento. É preciso fazer o bem no limite
das próprias forças, pois cada um responderá por
todo mal que tiver ocorrido por causa do bem que
deixou de fazer. As virtudes despertas são
indícios do progresso no caminho do bem, é a
sublimidade da virtude no sacrifício do
interesse pessoal para o bem do próximo, sem
segunda intenção. Caridade e humildade é o único
caminho da salvação e amar a Deus de toda a alma
e ao próximo como a nós mesmos é a prática da
caridade para com o outro, ou seja: Fora da
caridade não há salvação.
Como Espíritos imperfeitos que ainda somos,
habitualmente, seguindo os estreitos rumos da
personalidade caprichosa, movimentamo-nos em
sentido inverso ao que nos propõe a Lei Divina.
Esse jogo vaidoso, conveniente e presunçoso gera
a violência no mundo, e assim acabamos
distorcendo valores naturais e criamos casulos,
conchas da ilusão. Desta forma, fugimos quando
estamos na frente de parentes difíceis ou da
convivência social, além das ocorrências mais
desafiadoras que nos pedem testemunhos em novas
bases, como as do amor. A indiferença, os
preconceitos, a fuga, a autodestruição são
consequências desta postura orgulhosa.
Entretanto, podemos auxiliar espontaneamente e
refletir a vida futura por intermédio da vida do
nosso eu, que se dilata e engrandece à medida
que nos desdobramos no impulso de auxiliar. O
amparo que recolhemos corresponde ao amparo que
dispensamos. Lembremo-nos de que refletir as
bênçãos de Deus no socorro espontâneo ao próximo
é atrair os reflexos Dele para aqueles que nos
cercam e que igualmente, em silêncio, se
deslocam ao nosso encontro, prestando-nos
assistência afetiva. Ajudar com o sentimento,
com a ideia, com a palavra e com a ação e
melhorar sempre é invocar, em nosso favor, o
apoio integral da vida.
Sem o exercício da caridade, na atenção e
respeito pela luta alheia, nosso amor seria
apenas egoísmo, obstruindo toda e qualquer
perspectiva espiritual do futuro. Kardec
esclarece no livro O Céu e o Inferno, segunda
parte, capítulo 1, item 14, que “Para que
cada qual trabalhe na sua purificação, reprima
as más tendências e domine as paixões, preciso
se faz que abdique das vantagens imediatas em
prol do futuro”. (...) “O Espírita sério não se
limita a crer, porque compreende e compreende
porque raciocina; a vida futura é uma realidade
que se desenrola incessantemente a seus olhos!”
No plano da evolução as ideias fecundam, mas
somente as ações e os posicionamentos nos
autorizam perante a consciência. Dar de comer (o
alimento espiritual) é o nosso progresso pessoal
se almejarmos subir vibracionalmente rumo às
moradas celestes, recordando que ninguém está
obrigado a atender os caprichos de outrem. Mas
com o Cristo sempre podemos deixar algo no
coração de quem pede ou precisa.
No mundo que jornadeamos, ainda temos a
necessidade do mal para sentir o bem, da noite
para admirar a luz, da doença para apreciar a
saúde, enquanto que, nos mundos superiores,
esses contrastes não são mais necessários. A
eterna luz, a beleza, e a serenidade da alma
proporcionam uma infinita alegria que não são
perturbadas nem pelas angústias da vida
material, nem pelo contato dos maus que ali não
têm mais acesso. Porém, à medida que nos
elevamos e nos depuramos, o horizonte se
iluminará e compreenderemos o bem que existe
diante de nós, como também o mal que ficou para
trás.
Façamos uma reflexão e coloquemo-nos no lugar
dos nossos irmãos caídos e verificaremos que
eles precisam muito mais de assistência que de
censura. Para que não estejamos amanhã em lares
metamorfoseados em pelourinhos, por força dos
corações queridos que o resgate transforma em
verdugos e inquisidores de nossos dias, saibamos
amar os que nos apedrejam ou ferem, atormentem e
caluniam, porque, na verdade, o mal é apenas o
mal para aqueles que o fazem, convertendo-se em
bem naqueles que o recolhem entre a paz do
silêncio e a prece da humildade.
Trabalhemos no bem enriquecendo as horas da
peregrinação na Terra com os melhores
testemunhos de nossa boa vontade para com os
semelhantes em nome do Mestre, para quem o nosso
Espírito já se inclina à maneira de planta à
procura do Sol. Somente irradiando a luz do amor
infinito conseguiremos aniquilar e vencer, na
Terra, as densas trevas, acendendo a luz da
Vida!
Bibliografia:
KARDEC, Allan. O Livro do
Espíritos – 16ª edição – FEESP Editora – São
Paulo/SP – questões 632, 642, 893 e 2015.
____________ O Evangelho
segundo o Espiritismo – 365ª edição –
Editora IDE – Araras/SP – Capítulo 15, item 5 e
Cap. 3, item 11 – 2009.
XAVIER, Francisco C. – Pensamento
e Vida, ditado pelo Espírito Emmanuel – 19ª
edição – Editora FEB –Brasília/DF – Cap. 23 –
2016.
GOMES, Wagner – O Evangelho
por Dentro, ditado pelo Espírito Honório
Abreu – 1ª edição – Editora Grupo Espírita da
Bênção - lição 30 – 2016. – Mario Campo/MG.