Jesus e humildade
Estudando a humildade, vejamos como se comportava Jesus
no exercício da sublime virtude.
Decerto, no tempo em que ao mundo deveria surgir a
mensagem da Boa-Nova, poderia permanecer na glória
celeste e fazer-se representar entre os homens pela
pessoa de mensageiros angélicos, mas preferiu descer,
Ele mesmo, ao chão da Terra, e experimentar-lhe as
vicissitudes.
Indubitavelmente, contava com poder bastante para anular
a sentença de Herodes que mandava decepar a cabeça dos
recém-natos de sua condição, com o fim de impedir-lhe a
presença; entretanto, afastou-se prudentemente para
longínquo rincão, até que a descabida exigência fosse
necessariamente proscrita.
Dispunha de vastos recursos para se impor em Jerusalém,
ao pé dos doutores que lhe negavam autoridade no ensino
das novas revelações; contudo, retirou-se sem mágoa em
demanda de remota província, a valer-se dos homens rudes
que lhe acolhiam a palavra consoladora.
Possuía suficiente virtude para humilhar a filha de
Magdala, dominada pela força das sombras; no entanto,
silenciou a própria grandeza moral para chamá-la
docemente ao reajuste da vida.
Atento à própria dignidade, era justo mandasse os
discípulos ao encontro dos sofredores para consolá-los
na angústia e sarar-lhes a ulceração; todavia, não
renunciou ao privilégio de seguir, Ele mesmo, em cada
canto de estrada, a fim de ofertar-lhes alívio e
esperança, fortaleza e renovação.
Certo, detinha elementos para desfazer-se de Judas, o
aprendiz insensato; porém, apesar de tudo, conservou-o
até o último dia da luta entre aqueles que mais amava.
Com uma simples palavra, poderia confundir os juízes que
o rebaixavam perante Barrabás, autor de crimes
confessos; contudo, abraçou a cruz da morte, rogando
perdão para os próprios carrascos.
Por fim, poderia condenar Saulo de Tarso, o implacável
perseguidor, a penas soezes, pela intransigência
perversa com que aniquilava a plantação do Evangelho
nascente; mas buscou-o, em pessoa, às portas de Damasco,
visitando-lhe o coração, por sabê-lo enganado na direção
em que se movia.
Com Jesus, percebemos que a humildade nem sempre surge
da pobreza ou da enfermidade que tanta vez somente
significam lições regeneradoras, e sim que o talento
celeste é atitude da alma que olvida a própria luz para
levantar os que se arrastam nas trevas e que procura
sacrificar a si própria, nos carreiros empedrados do
Mundo, para que os outros aprendam, sem constrangimento
ou barulho, a encontrar o caminho para as bênçãos do
Céu.
Da obra Religião dos
Espíritos, psicografada pelo médium Francisco
Cândido Xavier.
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