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por Waldenir A. Cuin

 

Não fazemos somente o mal


- Não aguento mais tantas acusações, eu errei sim, mas não param de apontar o dedo na minha direção, me culpando por tantos infortúnios. Pelo amor de Deus me ajudem, socorro, socorro...

Era o Espírito Maria Lucinda que chegava à sessão mediúnica destinada a amparar os sofredores, em torturante desespero, ante a situação desconfortável em que se encontrava.

- Tenha calma, minha irmã, em nome de Deus aqui estamos para ampará-la. Seja bem-vinda à nossa Casa.

- Por favor, tenham piedade de mim, só ouço acusações, gritos desesperados. Estou cercada por criaturas que afirmam que as atirei na vala do sofrimento. Não aguento mais, faz muito tempo que sofro assim...

- Minha, irmã, a Providência Divina a ninguém desampara.

- Sou uma réproba, cometi muitos erros, tenho consciência disso e, por certo, Deus não me perdoará, eu só fiz o mal, minha vida foi um equívoco, não tenho salvação, piedade, piedade...

- Não fazemos somente o mal, minha irmã, mesmo que seja em doses diminutas, em nossa existência alguma coisa boa realizamos. Você está sendo socorrida, confie.

- Não, não, ninguém poderá fazer nada por mim, meus erros foram muitos, comprometi a vida de muita gente, de muitas mulheres e crianças.

Nesse momento, inspirado pelo Espírito Benfeitor que atuava na referida sessão mediúnica, o responsável pelo atendimento à Maria Lucinda começou a narrar.

- Lembre-se, minha irmã, de uma manhã de domingo, quando sentada na varanda de sua residência recebeu uma jovem desesperada, com o cabelo em desalinho e semblante abatido, pedindo que a acolhesse em sua casa de prostituição, para que pudesse viver ali e ganhar a vida, pois que fora expulsa da casa dos pais por estar gravida?

- Quem lhe falou sobre isso, aqui ninguém sabe a respeito?

- Isso não importa agora, mas sim a sua ação benfeitora, pois que condoída com a deplorável situação da jovem você não a acolheu nas dependências onde mulheres, sob o seu comando, vendiam ilusões e prezares. Sendo proprietária de outro imóvel, pequeno, depois de mobiliá-lo, pois que era detentora de largos recursos financeiros, a instalou lá. Foi além disso, pois que em seguida procurou o homem, parceiro daquela jovem, orientando-o para que assumisse a sua responsabilidade. O casamento foi feito e, além daquela gravidez que trouxe ao mundo um robusto garoto, o casal concebeu mais dois filhos. Ainda, procurou os pais dos dois jovens e conseguiu convencê-los da necessidade de apoiarem o casal. Daí para frente a vida seguiu seu curso normal, tendo ganhado, diante das circunstâncias, dois filhos e três netinhos do coração, além da amizade e gratidão dos genitores.

- Meu Deus, como o senhor tem todos esses detalhes? Essa decisão me proporcionou as verdadeiras alegrias da minha infeliz vida...

Maria Lucinda, agora mais calma, encontrava um pouco de equilíbrio e serenidade.

- Veja, minha irmã, como na vida não fazemos somente o mal. Mas, por certo, sua curiosidade deseja saber como chegou até aqui, agora, sendo socorrida, não é?

- Sim, ia perguntar isso.

- Então olhe bem para frente e veja quem vem chegando. Foram eles que rogaram a Deus em seu benefício.

Entre lágrimas e tremenda emoção, Maria Lucinda repousa seus olhos cansados sobre os pais do casal que, com tanto carinho e atenção, um dia ela acolheu e cuidou como se fossem seus próprios filhos. Naquele quadro de sentimentos e emoções estava desenhada a lei de causa e efeito.

Tinha ela errado muito sim, pois que por muitos anos se beneficiou financeiramente, juntando fortuna, explorando mulheres indefesas, numa casa de prostituição. No entanto, também se sensibilizou pelo drama de uma jovem desprotegida, que fora expulsa do lar.

O reflexo dos nossos erros nos apresenta amarguras e sofrimentos, já o reflexo dos nossos acertos e do bem que fazemos nos brinda com a serenidade e a paz. Temos a liberdade de decidir.

Reflitamos.

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita