Assunto de descanso
Em carta, você me pede,
Meu caro Joaquim Picanço,
Que eu diga do Além
O que há sobre descanso.
Diz você: “- Fale, Cornélio,
Sem exagero e sem corte,
Que se pensa do repouso
Na vida depois da morte.”
Olhe, Quincas, de começo
É meu dever afirmar:
Se você sente fadiga,
O remédio é descansar.
Quem serve perdendo forças
Em ação ou pensamento,
Precisa de quando em quando
Restauração a contento.
Não conheço engenho algum,
Mesmo só quando se arraste,
Que não espere o socorro
Da pausa contra o desgaste.
Pense na Terra girando;
Luz do dia – ação acesa,
A sombra que envolve a noite
É sono da natureza.
Trabalhar no bem de todos
De qualquer modo é dever,
Quem desiste de servir
Larga o melhor a fazer.
A criatura cai fora,
Busca sossego e mais nada,
Depois é a própria criatura
Que fica prejudicada.
A grande questão no assunto,
Exposta em pilhas gerais,
É a série de prejuízos
Quando o descanso é demais.
Além da morte, meu caro,
É que se vê, dia a dia,
Que se vive, sobretudo,
Nas formas que a mente cria.
Você recorda a preguiça
Do nosso Antônio Corazza:
Morreu... mas vive escondido
Num canto da própria casa.
Viveu Julinha em repouso
No Roçado da Parede,
Agora, desencarnada,
Vive atolada na rede.
Recusou qualquer encargo
O nosso amigo João Gama,
Sem corpo, pensa no céu,
Dormindo de cama em cama.
Sempre fugiu do trabalho
Nosso caro Ludgero,
Agora chegou aqui,
Lutando na estaca zero.
Viveu, por gosto, em poltrona,
Nossa Lalaia Joaninha,
Noutra vida quer ação,
Quer andar, mas não caminha.
Nenhum esforço na Terra
Apareceu em João Tampa...
Sem corpo, vê-se nos céus,
Morando na própria campa.
Viveu parado, mas tanto,
Nosso amigo Albergaria,
Que após largar-se do corpo
Entrou em paralisia.
Desencarnado em preguiça,
O nosso Juca Dirceu
Vive xingando o serviço
Estirado num museu.
É isso aí, caro amigo,
Não fuja de luta boa,
Se você quer melhorar
Não queira descanso à toa.
Todos temos dons na vida
Para servir e aprender,
Mas quem não queira trabalho
Que progresso pode ter?
O tempo é assim como o Sol
Que segue fazendo o bem;
Brilha, passa e ajuda a todos
Mas não espera a ninguém.
Do livro Conversa firme, obra
psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.