Joias da poesia
contemporânea

Autor: Cornélio Pires

 

Assunto de paz

 

Quer você saber agora,

Meu caro Zico Tomás,

Que posso dizer no além

Quanto ao assunto da paz.

 

Quantas vezes, meu amigo,

Supúnhamos nós na Terra

Que paz morasse na rede

Da casa branca da serra!

 

O quintal todo enfeitado

De rosas e margaridas,

O céu azul... As cigarras

Musicando nossas vidas.

 

O mundo ao longe... Os cavalos

Com montaria a nós dois,

A viola, o cigarrinho

E a mesa farta depois...

 

As histórias sobre a chuva,

O aroma do chão molhado,

A conversinha de sempre,

E os cães dormindo ao lado!...

 

Relendo as suas palavras,

Tudo me volta à lembrança...

Quanta beleza de sonho,

Quanto sonho de criança!...

 

Sem dúvida, tudo isso

É paz de preparação,

Memórias e ensinamentos

De apoio à meditação!

 

A paz que nunca se afasta,

Domínio jamais desfeito,

É aquela que se constrói

Por dentro do próprio peito.

 

Hoje anoto esta verdade

Que vejo claro agora:

Segurança verdadeira

Não se conquista por fora!...

 

Buscando a paz, muita gente

Estraga-se, desvaria...

E acaba sempre em mais luta

Nas lutas de cada dia.

 

Há quem rogue paz em ouro,

Influência em rebuliço,

Sem entender que esses dons

São forças para serviço.

 

Muitos volvem morro abaixo,

Após a ilusão nos cimos,

Nesses enganos de paz

Quantos fracassos já vimos!

 

Rogando apenas repouso,

Conhecemos Dona Cissa,

Somente achou moleza

De quem morre na preguiça.

 

Largou-se de todo encargo

Nhô Tolentino do Avanço,

Pedia paz e mais paz.

Depois morreu de descanso.

 

Neco buscando sossego

Foi residir no Espigão,

Logo após voltou do sítio,

Picado de escorpião.

 

Saiu da cidade grande

Nhô Marcelino Siqueira,

Buscava a calma num morro,

Caiu de uma ribanceira.

 

Queria viver tranquilo

Nhô Benedito Moraes,

Adoeceu de repente

Porque comia demais.

 

Fugiu do trabalho e luta

Nosso Antonico da Praça,

Descansou... Ficou mais triste,

Depois tombou na cachaça.

 

Era feliz trabalhando

Nosso amigo Hilarião

Abandonando as tarefas,

Perdeu-se na obsessão.

 

Queixando-se de fadiga

Aposentou-se Nhô Bento,

Entretanto morreu logo

Por falta de movimento.

 

Nhá Cota, entrando em sossego,

Regrava a própria comida,

Em seguida enlouqueceu

De tanto pensar na vida.

 

Zizina querendo paz

Foi para a Roça da Lebre,

Mas escondida num rancho

Morreu tomada de febre.

 

Trabalhe quanto puder,

Não largue a enxada do bem,

Serviço ajudando aos outros

Nunca feriu a ninguém.

 

Não caia nesses enganos,

Desses casos que já vi,

Que descanso sem razão

Onde esteja é isso aí.

 

Do livro Conversa firme, obra psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita