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por Rodinei Moura

 

Uma via de duas mãos


Karina, aos dezessete anos, resolveu contar aos seus pais que era homossexual. Depois de um namoro frustrado com um rapaz que se mostrou violento, aos dezesseis anos, a moça resolveu assumir-se como quem ela sempre se viu. Chamou para uma conversa na sala os seus pais, que eram pessoas de pouca cultura, de uma geração muito mais conservadora que a dela, e rasgou o verbo. Inclusive avisou que já tinha uma namorada, a qual gostaria de apresentar a eles.

Os “velhos” a ouviram em silêncio e assim permaneceram mais um tempinho após a menina, preocupada, terminar seu desabafo. E foi dona Adelaide, sua mãe, que começou a falar:

- Filha, eu já imaginava isso desde que você era muito pequena. Acho que alguns comportamentos nós trazemos de outras vidas. Se reencarnamos como homem muitas vezes, nós pensamos e sentimos como homem. E quando reencarnamos como mulher teremos relativa dificuldade para nos acostumar com nossa nova condição. Claro que isso varia de espírito para espírito, da evolução de cada um.

Sim, dona Adelaide era espírita e sempre percebeu essa tendência na sua filha. Assim como sempre a levou à evangelização, que fez com que Karina fosse, a seu tempo, à mocidade espírita. A menina, diga-se de passagem, era extremamente inteligente. Reencarnou com um corpo projetado para ser uma grande cientista, mas naturalmente o desfecho disso dependeria da utilização do seu livre-arbítrio.

O pai de Karina, senhor Afonso, era mais tradicional e, embora acompanhasse sua esposa na casa espírita, não tinha a mesma facilidade de aceitação. Mas tinha um amor e uma ligação muito forte com sua filha. Ele apenas disse que tudo bem, que a geração dele era diferente, mas que, se ela era assim, ele iria respeitar.

Karina começou a levar sua namorada para a casa dos seus pais, e apresentou Rafaela a eles. Seus pais sempre a trataram muito bem, mas era evidente o grau de desconforto do Sr. Afonso quando elas estavam juntas e principalmente quando rolava um carinho. Eram selinhos e carícias no rosto e braço, mas o patriarca da família ficava desconfortável.

E isso incomodava Karina, que conversou com sua namorada sobre. Rafaela ouviu atenciosamente e, depois de um sorriso muito espontâneo, trouxe sua namorada junto de si no sofá com um grande abraço e disse com toda sua firmeza e amor ao mesmo tempo: 

- Meu amor, seu pai é uma pessoa admirável a meu ver. Ele realmente fica incomodado com nossa relação, mas ele luta com toda sua força contra si mesmo. Contra seu lado menos iluminado e isso é digno de todo nosso respeito, você não acha?

Karina soltou algumas lágrimas e beijou carinhosamente sua namorada. E continuaram a assistir ao filme como tinham combinado, com um chocolate quente e alguns bolinhos de chuva. Na verdade, foi quem mais assistiu, pois Karina ficou assimilando a lição. Ela entendeu o que falava para os outros sem praticar na sua própria vida: respeito é uma via de duas mãos. Assim como queremos que as pessoas nos compreendam e respeitem nosso tempo, temos que respeitar também o tempo e os esforços de cada um. Somos Espíritos milenares e a reforma íntima leva tempo.

Meditemos sobre.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita