A fidelidade de Deus
Antes de entrarmos propriamente no tema
do título desse artigo, devo esclarecer
que vejo a frase – Deus é fiel - em
vários carros nas diversas cidades por
onde tenho passado. E a resposta é óbvia
quando não interpretada com a intenção
pela qual é anunciada.
Essa frase, a meu ver, traduz a ideia
comodista de um Deus à disposição do ser
humano para satisfazer a todos os
pedidos do homem físico a Ele dirigidos.
Seria um Deus do “me dá isso”, “me dá
aquilo”, “não quero isso”, mas “quero
aquilo”. Esse Deus que concebemos de
acordo com as nossas comodidades
materiais não é fiel, simplesmente
porque não existe. Já pensaram como Ele
conseguiria aplicar ao mundo suas Leis
de perfeição absoluta caso tivesse que
satisfazer aos incontáveis pedidos que
do Universo chegam até Ele? O equilíbrio
do infinito mundo cósmico estaria
comprometido. Para satisfazer a muitos,
teria que contrariar a outro tanto.
Quando, raramente, assisto a um pequeno
trecho de um jogo qualquer, e vejo um
jogador olhando pra cima e agradecendo,
fico pensando se o Criador iria
satisfazer a vontade de um, em prejuízo
do interesse do outro ou de muitos.
Muito complicado o ser humano!
O Deus que entendemos ser fiel é Aquele
anunciado por Emmanuel na oração do Pai
Nosso, quando o venerável Espírito
nos ensina a dizer que seja feita a sua
vontade acima de nossos desejos, tanto
na Terra como nos círculos espirituais.
Esse sim é fiel porque tem em suas
sábias e perfeitas decisões o controle
da Vida.
Antes de reencarnarmos é feito todo um
estudo sobre as nossas necessidades na
escola da Terra, e a essa programação
Deus é fiel nos concedendo tudo,
absolutamente tudo o que foi planejado
para vencermos o mundo e não no mundo!
O lar ou a ausência dele; a saúde ou as
debilidades orgânicas; a bonança ou a
falta; a instrução que teremos
oportunidade de adquirir ou a ausência
dela; a presença de pais amorosos ou a
orfandade; o alimento sobre a mesa ou a
escassez; a profissão que nos permitirá
o aprimoramento moral ou a dificuldade
de um serviço; o reencontro com amigos
do passado, assim como com os credores
na presente existência; a tudo isso Deus
é fiel, permitindo que percorramos o
melhor caminho. Os desvios dessa jornada
correm por nossa conta e risco de posse
do livre-arbítrio. Essa programação de
vida nos proporcionará o crescimento
espiritual, embora o homem físico passe
por dificuldades variadas,
indispensáveis ao amadurecimento do
Espírito imortal.
Entretanto, a ideia exposta nos dizeres
- Deus é fiel - estampada nos
veículos em circulação sugere que o
Criador deve atender sua criatura
livrando-as dos problemas mais variados,
mas necessários ao enriquecimento do
Espírito em evolução.
No livro Alma E Luz, psicografia
do querido Chico, Emmanuel nos chama à
realidade com sábias e profundas
observações que devemos entender para
termos a certeza de que Deus realmente é
fiel sob outro ângulo: “Sob a infecção
mental do pessimismo, afirma-te, por
vezes, irremediavelmente cansado à
frente da luta, e proclamas, tanta vez,
em desânimo e desespero, que a Terra se
converteu em charco de podridão; que a
sociedade é um jogo de máscaras; que os
maus tripudiam, impunes, sobre o amor
dos bons; que a crueldade é a norma da
vida; que cataclismos diversos tombarão
no horizonte, incendiando a atmosfera de
que os homens se nutrem, e dizes
desalentado que te apartaste da
confiança, que perdeste a fé; que não
tornarás ao prazer de servir; que não
estenderás o coração ao culto do amor e
que te retirarás da arena qual soldado
rebelde, fugindo à própria luta”.
Toda essa revolta mencionada na mensagem
do Benfeitor porque, nessas condições,
Deus não seria fiel em nossa concepção
ao deixar o pobrezinho do ser
humano em ambiente hostil submetido a
terríveis e injustos sofrimentos!
Pensamos assim porque Deus não nos
acomodou em um hotel cinco estrelas na
atual reencarnação, permitindo que os
problemas da existência nos atingissem
para o aprimoramento do Espírito
imortal!
Mas Emmanuel desfaz essa concepção
infantil que ainda nos caracteriza ao
ensinar que “a cada manhã, volves ao
corpo que te suporta a intemperança e
recebes a bênção do Sol que te convida
ao trabalho, a palavra do amigo que te
induz à esperança, o apoio constante da
Natureza, o reencontro com os desafetos
para que aprendas a convertê-los em
laços de beleza e harmonia, e,
sobretudo, a graça de lutar por teu
próprio aprimoramento, a fim de que o
tempo te erga à vitória do Bem”.
A isso Deus é absolutamente fiel! Deus
não falta com a sua fidelidade nem
quando abrimos mão de cumprir a parte
que assumimos em nossa programação de
vida para a atual reencarnação e, de
livre e espontânea vontade, enveredamos
por caminhos não recomendáveis. Mesmo
assim o Criador continua fiel em seu
propósito de nos ter mergulhado na vida
imortal para evoluirmos até a perfeição
possível de ser atingida, quando, então,
seremos felizes e viveremos em paz
contribuindo na criação do Universo
infinito.
Quando dermos por falta o que julgamos
ser uma infidelidade do Criador, é bom
consultarmos nossa consciência.