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por Ricardo Orestes Forni

 

A fidelidade de Deus


Antes de entrarmos propriamente no tema do título desse artigo, devo esclarecer que vejo a frase – Deus é fiel - em vários carros nas diversas cidades por onde tenho passado. E a resposta é óbvia quando não interpretada com a intenção pela qual é anunciada.

Essa frase, a meu ver, traduz a ideia comodista de um Deus à disposição do ser humano para satisfazer a todos os pedidos do homem físico a Ele dirigidos. Seria um Deus do “me dá isso”, “me dá aquilo”, “não quero isso”, mas “quero aquilo”. Esse Deus que concebemos de acordo com as nossas comodidades materiais não é fiel, simplesmente porque não existe. Já pensaram como Ele conseguiria aplicar ao mundo suas Leis de perfeição absoluta caso tivesse que satisfazer aos incontáveis pedidos que do Universo chegam até Ele? O equilíbrio do infinito mundo cósmico estaria comprometido. Para satisfazer a muitos, teria que contrariar a outro tanto.

Quando, raramente, assisto a um pequeno trecho de um jogo qualquer, e vejo um jogador olhando pra cima e agradecendo, fico pensando se o Criador iria satisfazer a vontade de um, em prejuízo do interesse do outro ou de muitos. Muito complicado o ser humano!

O Deus que entendemos ser fiel é Aquele anunciado por Emmanuel na oração do Pai Nosso, quando o venerável Espírito nos ensina a dizer que seja feita a sua vontade acima de nossos desejos, tanto na Terra como nos círculos espirituais. Esse sim é fiel porque tem em suas sábias e perfeitas decisões o controle da Vida.

Antes de reencarnarmos é feito todo um estudo sobre as nossas necessidades na escola da Terra, e a essa programação Deus é fiel nos concedendo tudo, absolutamente tudo o que foi planejado para vencermos o mundo e não no mundo!

O lar ou a ausência dele; a saúde ou as debilidades orgânicas; a bonança ou a falta; a instrução que teremos oportunidade de adquirir ou a ausência dela; a presença de pais amorosos ou a orfandade; o alimento sobre a mesa ou a escassez; a profissão que nos permitirá o aprimoramento moral ou a dificuldade de um serviço; o reencontro com amigos do passado, assim como com os credores na presente existência; a tudo isso Deus é fiel, permitindo que percorramos o melhor caminho. Os desvios dessa jornada correm por nossa conta e risco de posse do livre-arbítrio. Essa programação de vida nos proporcionará o crescimento espiritual, embora o homem físico passe por dificuldades variadas, indispensáveis ao amadurecimento do Espírito imortal.

Entretanto, a ideia exposta nos dizeres - Deus é fiel - estampada nos veículos em circulação sugere que o Criador deve atender sua criatura livrando-as dos problemas mais variados, mas necessários ao enriquecimento do Espírito em evolução.

No livro Alma E Luz, psicografia do querido Chico, Emmanuel nos chama à realidade com sábias e profundas observações que devemos entender para termos a certeza de que Deus realmente é fiel sob outro ângulo: “Sob a infecção mental do pessimismo, afirma-te, por vezes, irremediavelmente cansado à frente da luta, e proclamas, tanta vez, em desânimo e desespero, que a Terra se converteu em charco de podridão; que a sociedade é um jogo de máscaras; que os maus tripudiam, impunes, sobre o amor dos bons; que a crueldade é a norma da vida; que cataclismos diversos tombarão no horizonte, incendiando a atmosfera de que os homens se nutrem, e dizes desalentado que te apartaste da confiança, que perdeste a fé; que não tornarás ao prazer de servir; que não estenderás o coração ao culto do amor e que te retirarás da arena qual soldado rebelde, fugindo à própria luta”.

Toda essa revolta mencionada na mensagem do Benfeitor porque, nessas condições, Deus não seria fiel em nossa concepção ao deixar o pobrezinho do ser humano em ambiente hostil submetido a terríveis e injustos sofrimentos!

Pensamos assim porque Deus não nos acomodou em um hotel cinco estrelas na atual reencarnação, permitindo que os problemas da existência nos atingissem para o aprimoramento do Espírito imortal!

Mas Emmanuel desfaz essa concepção infantil que ainda nos caracteriza ao ensinar que “a cada manhã, volves ao corpo que te suporta a intemperança e recebes a bênção do Sol que te convida ao trabalho, a palavra do amigo que te induz à esperança, o apoio constante da Natureza, o reencontro com os desafetos para que aprendas a convertê-los em laços de beleza e harmonia, e, sobretudo, a graça de lutar por teu próprio aprimoramento, a fim de que o tempo te erga à vitória do Bem”.

A isso Deus é absolutamente fiel! Deus não falta com a sua fidelidade nem quando abrimos mão de cumprir a parte que assumimos em nossa programação de vida para a atual reencarnação e, de livre e espontânea vontade, enveredamos por caminhos não recomendáveis. Mesmo assim o Criador continua fiel em seu propósito de nos ter mergulhado na vida imortal para evoluirmos até a perfeição possível de ser atingida, quando, então, seremos felizes e viveremos em paz contribuindo na criação do Universo infinito.

Quando dermos por falta o que julgamos ser uma infidelidade do Criador, é bom consultarmos nossa consciência.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita