O
perispírito possui
órgãos?
Quase nada sabemos a
respeito do corpo que
reveste o Espírito – o
perispírito, da
denominação kardequiana.
Mais dúvidas do que
certezas envolvem os
estudiosos espíritas que
aceitam o desafio de
buscar uma melhor
compreensão do corpo
espiritual.
A questão da existência
de órgãos divide a
opinião dos autores.
André Luiz, em sua vasta
obra mediúnica, através
de Chico Xavier,
descreve no corpo
espiritual os mesmos
órgãos existentes no
corpo físico. Nos
reportamos, para
ilustrar, apenas ao
livro Nosso
lar,
quando o facultativo
chamado a cuidar da
saúde de André Luiz,
recém-hospitalizado,
descreve em seu
perispírito intestinos,
fígado, rins etc. [i]
Léon Denis e Gabriel
Delanne consideram a
possibilidade de um
cérebro, no corpo
espiritual. Segundo
Denis, o
perispírito conserva
todas as aquisições do
ser vivo. É no cérebro
desse corpo
espiritualizado que os
conhecimentos se
armazenam e se imprimem
em linhas fosforescentes
e sobre ele é que se
modela e se forma o
cérebro da criança, na
reencarnação.[ii]
Delanne segue com a
mesma suposição.
Examinando as aparições
tangíveis, comenta que o
ser que se manifesta
tem, nos primeiros
tempos, grande
dificuldade em servir-se
do seu cérebro
perispiritual, que acaba
de ser profunda e
subitamente modificado.[iii]
Para Gustavo Geley,
médico francês
desencarnado em 1924, o
perispírito funciona
como um órgão único.
Referindo-se ao corpo
espiritual, coloca que já
não há órgãos diversos e
múltiplos, mas um
organismo homogêneo,
fluídico – o
perispírito.
Já não há sentidos
especiais, mas um
sentido único que os
condensa a todos e
generalizado por toda a
superfície do
perispírito. [iv]
Kardec, bem antes de
todos eles, havia
apresentado o
perispírito tal qual a
proposta de Geley. Na Revista
espírita de
dezembro de 1858, Kardec
escreve que o
perispírito é o
agente das sensações
exteriores. No corpo, os
órgãos, servindo-lhes de
condutos, localizam
essas sensações.
Destruído o corpo, elas
se tornam gerais [...]
sabemos que no Espírito
há percepção, sensação,
audição, visão; que
essas faculdades são
atributos do ser todo e
não, como no homem, de
uma parte apenas do ser.
Kardec se valeu deste
texto na segunda edição
de O Livro dos
Espíritos (1860), ao
redigir o significativo
item 257- Ensaio teórico
sobre a sensação dos
Espíritos.
Como entender essa visão
contraditória entre
nossos mais importantes
autores?
Aventamos a
possibilidade de que as
diferentes visões sobre
o perispírito,
encontradas nas obras de
Kardec e de André Luiz,
se devem ao fato de que
Kardec, em geral, se
reporta a Espíritos com
grau maior de evolução
intelecto-moral,
vinculados a esferas
superiores, enquanto
André Luiz concentra
seus relatos em
Espíritos vivendo em
regiões mais próximas da
crosta terrestre.
A relativa materialidade
do perispírito tende a
diminuir conforme o
Espírito se eleva. [v]Relevante
lembrar que o corpo
espiritual retrata em si
os recursos da mente que
lhe preside a formação.[vi] Sabemos
que quanto mais os
Espíritos se purificam,
deslocando seus centros
de interesse da
corporeidade, tanto mais
etérea se torna a
essência do perispírito.
Isso talvez explicaria
a presença de órgãos no
perispírito das
entidades menos
evoluídas, que, ainda
ligadas psiquicamente à
vida corpórea,
materializariam em seu
corpo espiritual os
sistemas e aparelhos da
fisiologia orgânica. O
pensamento desfocado das
experiências materiais
justificaria a
inexistência dos mesmos
sistemas e aparelhos nas
entidades superiores.
[ii] Depois
da morte,
cáp. 21
[iii] A
reencarnação,
cáp. 7
[iv] Resumo
da Doutrina
espírita,
parte I
[v] Revista
Espírita,
dezembro 1958
[vi] Evolução
em dois mundos,
parte I, cáp. 2
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