Auta de Souza, uma das glórias da poesia espírita
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Nesta semana registrou-se mais um aniversário de
desencarnação de Auta de Souza, cuja obra poética os
espíritas |
brasileiros conhecem muito bem. |
Natural de Macaíba (RN), a grande poetisa deixou-nos
publicado em vida um único livro – Horto –, o que
bastou para ser considerada por Luís da Câmara Cascudo "a
maior poetisa mística do Brasil".
Filha de Elói Castriciano de Souza e Henriqueta
Leopoldina Rodrigues e irmã dos políticos
norte-rio-grandenses Elói de Sousa e Henrique
Castriciano, Auta de Souza nasceu no dia 12 de setembro
de 1876 e faleceu em 7 de fevereiro de 1901, aos 24 anos
de idade, na cidade de Natal (RN).
Órfã de mãe aos três anos de idade, no ano seguinte
perdeu também o pai, ambos devido à tuberculose. Sua mãe
contava apenas 27 anos e seu pai, 38 anos, quando
faleceram.
Formação escolar
Durante a infância, foi criada pela avó materna, Silvina
Maria da Conceição de Paula Rodrigues, conhecida como
Dindinha, em uma chácara no Recife, onde foi
alfabetizada por professores particulares.
Aos onze anos, foi matriculada no Colégio São Vicente de
Paulo, dirigido por freiras vicentinas francesas, onde
aprendeu Francês, Inglês, Literatura, Música e Desenho.
Lia no original as obras de Victor Hugo, Lamartine,
Chateaubriand e Fénelon.
Quando tinha doze anos, vivenciou uma nova tragédia: a
morte acidental de seu irmão mais novo, Irineu Leão
Rodrigues de Sousa, causada pela explosão de um
candeeiro.
Dois anos depois, aos 14, recebeu o diagnóstico de
tuberculose, e teve que interromper seus estudos no
colégio religioso, dando prosseguimento à sua formação
como autodidata e participando da União Pia das Filhas
de Maria, à qual se uniu na escola.
Foi professora de catecismo e escreveu versos
religiosos, tendo começado a escrever aos dezesseis
anos. Apesar da doença, frequentava o Clube do Biscoito,
associação de amigos que promovia reuniões dançantes em
que os convidados recitavam poemas de vários autores,
como Casimiro de Abreu, Gonçalves Dias, Castro Alves,
Junqueira Freire e outros.
Frustração amorosa
Por volta de 1895, quando estava com 19 anos, Auta de
Souza conheceu João Leopoldo da Silva Loureiro, promotor
público de sua cidade natal, com quem namorou durante um
ano e de quem foi obrigada a se separar pelos irmãos,
que se preocupavam com seu estado de saúde. Pouco depois
da separação, ele também morreria vítima de tuberculose.
Essa frustração amorosa se tornaria o quinto fator
marcante de sua obra, junto à religiosidade, à
orfandade, à morte trágica de seu irmão e à tuberculose.
Colaborações em jornais e revistas
Aos dezoito anos, ela passou a colaborar com a revista Oásis,
e aos vinte escrevia para A República, jornal de
grande circulação, fato que lhe deu visibilidade para a
imprensa de outras regiões. Seus poemas foram também
publicados no jornal O Paiz, do Rio de Janeiro.
No ano seguinte, passaria a escrever assiduamente para o
prestigiado jornal A Tribuna, de Natal, e seus versos
eram publicados junto aos de vários escritores famosos
do Nordeste. Entre 1899 e 1900 assinou seus poemas com
os pseudônimos de Ida Salúcio e Hilário das Neves,
prática comum à época.
Sua poesia passou a circular nas rodas literárias de
todo o país, despertando grande interesse e tornando-a a
poetisa norte-rio-grandense mais conhecida fora do
estado.
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Em 1900, publicou seu único livro, Horto, de
significativa repercussão e cujo prefácio foi
escrito por Olavo Bilac, o poeta brasileiro mais
conhecido daquela época. |
O livro foi reeditado várias vezes e numa
delas, em 1936, contou com um prefácio do respeitado
escritor Alceu de Amoroso Lima, também conhecido por seu
pseudônimo Tristão de Ataíde.
Morte e homenagens póstumas
O falecimento de Auta de Souza ocorreu em 7 de fevereiro
de 1901, a uma hora e quinze minutos, em Natal, em
decorrência da tuberculose. Seu corpo foi sepultado no
cemitério do Alecrim, na mesma cidade, mas em 1904 seus
restos mortais foram transportados para o jazigo da
família, em Macaíba, sua cidade natal.
Em 1936, a Academia Norte-Riograndense de Letras
dedicou-lhe a poltrona XX, como reconhecimento à sua
obra.
Em 1951, foi feita uma lápide, tendo como epitáfio
versos extraídos de seu poema Ao Pé do Túmulo:
“Longe da mágoa, enfim no céu repousa
Quem sofreu muito e quem amou demais.”
"Noite Auta, Céu Risonho"
Em 12 de setembro de 2008, durante as comemorações do
nascimento da poetisa em sua cidade natal, foi lançado o
documentário "Noite Auta, Céu Risonho", escrito e
dirigido por Ana Laudelina Ferreira Gomes, professora e
pesquisadora da UFRN, e produzido pela TV Universitária,
em parceria com o Núcleo Câmara Cascudo de Estudos
Norte-Riograndenses.
Auta de Souza na vida espiritual
Em 2008, a Federação Espírita Brasileira listou treze
instituições espíritas (centros, núcleos, recantos,
sociedades, fraternidades e uma fundação) em oito
estados brasileiros que adotavam o nome da poetisa.
Em 3 de março de 1953 foi criada em São Paulo, por
Nympho de Paulo Corrêa, a Campanha de Fraternidade, que
mais tarde se tornou Campanha de Fraternidade Auta de
Souza, que é conhecida e realizada em todo o país e
também no exterior.
No livro No Mundo de Chico Xavier, de autoria do
prof. Elias Barbosa, Chico Xavier narra como ocorreu seu
primeiro encontro com Auta de Souza:
“Eu estava em oração, certa noite, quando se aproximou
de mim o espírito de uma jovem, irradiando intensa luz.
Pediu papel e lápis e escreveu o soneto a que me referi.
Chorou tanto ao escrevê-lo que eu também comecei a
chorar de emoção, sem saber, naquele momento, se meus
olhos eram os dela ou se os olhos dela eram os meus.
Mais tarde, soube, por nosso caro Emmanuel, que se
tratava de Auta de Souza, a admirável poetisa do Rio
Grande do Norte."
O soneto citado, intitulado "Nossa Senhora da Amargura",
foi publicado pelo Almanaque de Lembranças, de Lisboa,
na sua edição de 1932.
Em carta a Manoel Quintão, Chico Xavier referiu-se certa
vez à notável poetisa:
"Alguns autores há muito tempo que não voltam, como, por
exemplo, A. dos Anjos e Auta de Souza. Desta última
conservo muitas saudades. Quando ela escrevia, fazia-me
sentir sensações indefiníveis. De algumas vezes, eu
sentia que ela se achava em companhia de uma outra alma,
bastante elevada, que nos disseram ser uma das que
compõem a grande falange que colabora com Celina em sua
elevada missão de amor. Esta companheira da alma que se
dava com Auta fazia-me ouvir, isto é, sentir, como em
relâmpagos, os mais formosos hinos sacros, que eu nunca
pude apanhar, porque eram sempre mais vibrações
intraduzíveis, melodias que eu podia somente sentir.
Cada Espírito que por mim escreveu fez-me sentir uma
sensação diferente, profundamente desiguais entre si."
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De sua autoria, além de inúmeros poemas que escreveu por
intermédio de Chico Xavier e que são encontrados em
inúmeras obras psicografadas pelo |
mesmo médium, inclusive no conhecido Parnaso de Além-Túmulo,
primeiro livro de Chico Xavier publicado pela FEB, o IDE
publicou em fevereiro de 1976 o livro intitulado Auta
de Souza, composto exclusivamente por poemas de sua
autoria, todos psicografados por Francisco Cândido
Xavier. |