Em certa ocasião Chico Xavier queria relaxar, mas era
impossível. Seu nome, já estampado na capa de 25 livros,
começava a gerar dinheiro mesmo contra sua vontade. Em
1947, a irmã dele, Zina, foi procurada pela polícia de
Belo Horizonte. Precisava identificar o "Chico Xavier"
que atraía multidões num bairro populoso da cidade. O
curandeiro cobrava trezentos cruzeiros por sessão e cem
por passe e vendia exemplares autografados das obras de
Emmanuel, Irmão X e André Luiz. Foi desmascarado a
tempo.
Os charlatões estavam à solta. Chico vivia numa espécie de
"prisão domiciliar". A fama custava caro, tomava tempo e espaço,
acabava com a liberdade de ir-e-vir do porta-voz dos mortos. De
vez em quando, ele fugia para o cemitério ou o açude em busca de
privacidade. Precisava de um pouco de paz para escrever seus
livros e cumprir o combinado com seu "patrão" invisível.
Em 1947, conseguiu pingar o ponto final no trigésimo título, Volta
Bocage... Um alívio tomou conta dele. Eufórico, viu Emmanuel
se aproximar e perguntou se a tarefa já estava encerrada. O guia
sorriu e anunciou: Começaremos uma nova série de trinta volumes.
Chico respirou fundo e obedeceu desanimado. Quanto mais
escrevia, mais ficava encurralado. As mentiras o cercavam.
Previsões falsas eram atribuídas a ele e até mesmo textos
apócrifos eram divulgados como seus. Em 1949, um livro assinado
por um certo André Luiz chegou às livrarias com um prefácio
enriquecido pela colaboração direta de Chico Xavier. Tudo
mentira. O escritor de Nosso Lar nem conhecia a médium
responsável pela publicação.
Do livro As vidas de Chico Xavier, de Marcel Souto Maior.
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