Filme Lili:
algumas considerações para o Espiritismo
O filme musical Lili, de 1953, foi baseado em um
pequeno conto publicado por Paul Gallico três anos antes
no periódico Saturday Evening Post chamado “O
homem que odiava pessoas”. A história se passa em torno
da jovem órfã, cujo pai havia desencarnado há pouco
tempo. Sem ninguém para cuidar, a pequena Lili de apenas
16 anos parte em busca de um amigo do seu genitor que
poderia ajudá-la nesta nova etapa da vida. Um vendedor
local tenta aproveitar a situação, o que acaba colocando
Lili no caminho de Marcus, o mágico magnífico. Marcus
tenta inseri-la na lida do circo e conseguir um emprego
para ela. Todavia, ela não se adapta ao serviço e, ao
ser despedida pelo dono do empreendimento, ela, de forma
espontânea, começa a dialogar com alguns bonecos que são
manipulados por Paul. Este, já tendo sido dançarino de
sucesso e devido ao problema na perna que teve na 1ª.
grande guerra, ficou impossibilitado de continuar a
vitoriosa carreira. Mas ficou amargurado e ressentido
com a vida. Por isso é chamado de “zangado”. Lili, Paul
e seu companheiro Jacquot começam a ganhar fama na
cidade com os diálogos e também com a música: Hi,
Lili, hi Lo. Para alguns companheiros do
Espiritismo, esta seria uma das músicas preferidas do
próprio Chico Xavier.
Uma música triste, mas cheia de ternura e, ao mesmo
tempo, inspiração para os tempos cinzentos. As
dificuldades de Lili continuam: crescer e perder a
ingenuidade para uma vida madura, de assumir
responsabilidades e, em especial, trabalhar com amor.
Com aquilo que não gosta inicialmente, mas é o que está
disponível, tal como para Paul. Mas há o entendimento e
a percepção de que com os atritos há o polimento das
arestas e a colaboração espontânea no final do trabalho.
O progresso vem não apenas como um trabalho individual,
mas como a engrenagem que sabe valorizar seu lugar e
compreender o que está por trás das aparências para o
alcance da essência. Conexão e colaboração são
fundamentais. A felicidade é vista a princípio como a
busca dos desejos, mas, no decorrer do filme, percebe-se
a jogada da ilusão e dos falsos caminhos. A porta
estreita do dever aparece como a maneira justa de seguir
adiante e em progresso. A providência não abandona quem
busca praticar o bem.
Como metáfora da vida, a entrada e saída de cena e a
existência como uma peça de teatro nos lembra a famosa
frase de Shakespeare: “O mundo inteiro é um palco. E
todos os homens e mulheres não passam de meros atores.
Eles entram e saem de cena. E cada um no seu tempo
representa diversos papéis”.
Propósito, trabalho, lugar no mundo, progresso, espalhar
alegria, amor. São apenas alguns dos pontos principais
que podem ser destacados no final e que nos permite
olhar e sentir com bons olhos e sentimentos a
oportunidade que temos a agradecer. A encarnação como
uma forma de nos ajustarmos frente a diferentes
situações e fatores, mas sem perder a esperança, a
confiança e a fé de que tudo se resolve com
conhecimento, trabalho e boa vontade.
Através do Espiritismo temos a chance de experimentar a
Boa-Nova em toda a sua extensão, lógica e inspiração, e
de fazer da vida legítimo exemplo de teste de
contentamento e progresso. É ser a carta viva de Cristo
na vida das outras pessoas. Tal como Lili, devemos
amadurecer e ser consciente das escolhas. De não
esconder ou desprezar os sentimentos, mas não os deixar
escolher os caminhos errados. Por trás dos fenômenos
podem esconder tesouros de grande valor, mesmo que as
aparências enganem. É vital se conectar com seu reino e
domínio interior para se ter a calma de compreender e
gerir o mundo mental para não atrapalhar no exterior.
Por meio do domínio mental há a possibilidade de
transformação e de viver a existência que se gostaria.
De chegar ao final da jornada e de ter alcançado o
objetivo do dever cumprido e do progresso. Algo custoso,
mas uma vitória sobre si mesmo. Os obstáculos apenas são
os reforçadores do seu crescimento e através deles é que
impomos os nossos limites.
Portanto, sejamos como
Lili, cuja imaginação e pureza não a abandonam, e todo
trabalho é fonte de progresso e crescimento. Mesmo
saindo de uma situação complicada, a fé e a confiança
inabalável tornam o progredir algo natural mesmo que não
se tenha controle sobre todos os fatores. Naqueles
fatores em que podemos interferir, agir com força de
vontade e coração para refletir bons pensamentos, na
certeza de que o que precisa ser feito pode ser
bem-feito. Estamos no lugar certo com as pessoas
corretas. Façamos a nossa parte para que o universo
conspire a nosso favor[1].
[1] Em
homenagem aos meus queridos genitores, Paulo
Hayashi e Ioko Ikefuti Hayashi, que já se
encontram na pátria espiritual.