Brigas dos pais afetam as crianças
Tudo na vida é difícil, desde que a compreensão e a boa
vontade não sejam utilizadas.
François Rabelais
Brigas domésticas podem impactar a vida das crianças. Em
outros termos, crianças que veem brigas frequentes são
mais ansiosas e apresentam, por exemplo, sentimento de
culpa, agressividade, insegurança, dificuldade para se
relacionar com outras pessoas.
Obviamente, conviver sem conflitos é um ideal
inalcançável. Mas é o excesso de conflitos ou a maneira
como os adultos lidam com os conflitos que gera medo,
insegurança, infelicidade nas crianças. Se, ao
contrário, forem conflitos que tenham como sentido
resolver problemas comuns, o efeito é produtivo…
O mais importante é justamente o casal buscar manter o
respeito e o diálogo quando ocorrerem os conflitos,
evitando, se for possível, brigar na frente dos filhos.
Entretanto, se a briga ocorreu, não adianta esconder as
coisas ou querer fingir que está tudo bem. As crianças
são muito perceptivas e omitir ou mentir sobre uma
situação acaba sendo pior. Honestidade e respeito à
idade da criança sempre orienta o relacionamento
familiar – nas horas boas e nas horas difíceis.
Através de minha própria família e, ainda, acompanhando
famílias, percebo que é muito apropriado mostrar para os
filhos que mesmo pessoas que se gostam podem
desentender-se. Além disso, é essencial não aceitar ou
normalizar comportamentos violentos.
No dia a dia, os pais têm a tarefa de construir em casa
uma cultura de compreensão, paz e tolerância. Apesar
das dissonâncias, ninguém é melhor que ninguém, somos
todos humanos e estamos juntos, como família, buscando
construir um mundo mais pacífico, mais justo, mais
tolerante, onde a prática da compreensão precisa superar
muitas vezes nosso desejo de “estar certo”…
Nas horas difíceis, quando o casal percebe a própria
dissonância, é sempre prudente recordar que o bem-estar
dos filhos deve estar acima de qualquer coisa e, por
isso, o respeito, a paciência, a disponibilidade para o
diálogo ajudam a frear os excessos e as atitudes
violentas, que só causam feridas emocionais…
Mas, se um lar deve ser um ambiente de amor e afeto,
isso significa que ele deve ser isento de
desentendimentos? É claro que não. Discutidas e
resolvidas as diferenças de opiniões com maturidade pelo
casal, atitudes e pensamentos discordantes são saudáveis
para toda a família, pois é através dessas diferenças
que nos esforçamos para nos colocar no lugar do outro,
desenvolvendo empatia, paciência, espírito cooperativo
e, desse modo, conseguirmos crescer e avançar como
família.
Notinhas
A postura dos pais é uma didática viva de como viver e
conviver. As famílias nas quais as interações se dão
norteadas por brigas, gritos e agressões expressam o
modelo de uma afetividade tóxica e isso, por sua vez,
revela um investimento de energia afetiva que faz mal,
pois não comunica aconchego, gerando desconfiança e
insegurança, fomentando na criança um contínuo estado de
alerta.
Na hora em que os nervos estão à flor da pele não é
fácil se controlar para evitar uma briga. Caso ela
aconteça na frente dos filhos, a melhor postura é
aproveitar a oportunidade para ensinar a eles o que se
deve fazer depois que alguém comete um erro, briga e
desrespeita o outro. Ou seja, é preciso mostrar que
houve aceitação/entendimento sobre o próprio erro,
manifestar o arrependimento (sincero), estando disposto
a pedir perdão e reparar o dano causado.