Educar é resistir ao imediatismo
A natureza nos ensina que o fruto não depende apenas do
cuidado com a árvore, mas na paciência de esperar que
ela cresça e amadureça.
Fabiano Braz de Almeida
À mesa do restaurante, Gabriela faz manha exigindo o
celular da mãe para se divertir durante o jantar. João
se joga no chão da loja de brinquedos porque quer que o
pai compre o caminhão vermelho. Sentado no sofá de casa,
Guilherme se irrita com a mãe porque quer uma resposta
sobre poder ou não ir à casa do colega na sexta-feira à
tarde. Não importa a idade, todos eles têm algo em
comum: vão-se tornar adultos mimados e, por isso,
incapazes de lidar com as frustrações do mundo.
Infelizmente, hoje em dia, temos, como pais, decidido
educar com base, principalmente, no imediatismo.
Pressionados a atender às demandas dos filhos
imediatamente, acabamos soltando respostas impensadas ou
tomando decisões inadequadas e que prejudicam a formação
dos filhos. Ou seja, se no passado os pais se permitiam
deixar os filhos insatisfeitos por mais tempo,
resistindo ao imediatismo, hoje, no geral, não
conseguimos sustentar uma negativa para o filho, porque
não sabemos lidar com mal-estar momentâneo neste mundo
em que a felicidade é imperativa.
Educar bem depende de aprendermos a resistir ao
imediatismo, pois crianças que não experimentam a
frustração ou que não têm momentos de tédio, por
exemplo, poderão sofrer graves consequências na vida
adulta. Sim, pois uma criança que está sempre entretida,
crescerá e se tornará alguém que terá para sempre a
necessidade de entretenimento. Além disso, quando uma
criança tem seu tempo completamente tomado com
atividades como escola, inglês, futebol, WhatsApp,
Facebook, Instagram, ela fica incapacitada de ter
importantes processos exteriores/interiores e com isso
impulsionar o cérebro a tornar-se criativo...
É fato: somos imediatistas desde o nascimento. Choramos
para manifestar fome, dor, desconforto, somos atendidos
e temos nossas necessidades básicas saciadas. Com isso,
experimentamos uma sensação de prazer e que vamos
desejar para sempre. Entretanto, precisamos compreender
que não é o princípio do prazer que vai orientar a nossa
vida, mas, sim, o princípio da realidade. O papel dos
pais é, aos poucos, mostrar aos filhos a realidade do
mundo. Em outras palavras, ajudá-los a assimilar, nas
próprias vivências, que há o sim e há o não e, ainda, a
quota diária de paciência, tédio, não fazer,
contemplação...
Para o bem dos nossos filhos, é interessante recordar
que educar demanda atenção e reflexão. Ademais, viver de
maneira urgente só gera impactos emocionais negativos
nas crianças.
Notinha
A ansiedade e a angústia na adolescência e na vida
adulta podem ser resultados do imediatismo
materno/paterno presenciado na infância.