Compreendendo a dor com Léon Denis
Esta reflexão sobre a dor extrai alguns esclarecimentos
e ensinamentos do livro “O problema do ser, do destino e
da dor”, de Léon Denis.
A dor, assim como o sofrimento, têm a sua razão de ser.
Nas trajetórias evolutivas, “tudo o que vive neste
mundo, natureza, animal, homem, sofre e, todavia, o amor
é a lei do universo e por amor foi que Deus formou os
seres. (...) A dor segue todos os nossos passos;
espreita-nos em todas as voltas do caminho” (Léon Denis,
pág. 347).
“Fundamentalmente, a dor é uma lei de equilíbrio e
educação. Sem dúvida, as falhas do passado recaem sobre
nós com todo o seu peso e determinam as condições de
nosso destino. O sofrimento, muitas vezes, não é mais do
que a repercussão das violações da ordem eterna
cometidas; mas, sendo partilha de todos, deve ser
considerado como necessidade de ordem geral, como agente
de desenvolvimento, condição do progresso. Todos os
seres têm de, por sua vez, passar por ele. Sua ação é
benfazeja para quem sabe compreendê-lo; mas somente
podem compreendê-lo aqueles que lhe sentiram os
poderosos efeitos.” (Léon Denis, págs. 347 e 348.)
“A dor e o prazer são as duas formas extremas da
sensação. Para suprimir uma ou outra seria preciso
suprimir a sensibilidade. São, pois, inseparáveis, em
princípio, e ambos necessários à educação do ser, que,
em sua evolução, deve experimentar todas as formas
ilimitadas, tanto do prazer como da dor.” (Léon Denis,
pg. 348.)
Assim, a dor e o prazer são meios de educar e agentes de
progresso, em que as causas dos sofrimentos atuais se
encontram nas violações do passado, anteriores aos
efeitos, determinando as condições do destino de cada
ser. Os benefícios da dor e do sofrimento alcançam
aqueles que souberam compreender as suas ações e os seus
efeitos.
“A tristeza e o sofrimento fazem-nos ver, ouvir, sentir
mil coisas, delicadas ou fortes, que o homem feliz e o
homem vulgar não podem perceber.” (Léon Denis, pág.
349.)
A alma deve conquistar todos os elementos e atributos
para se libertar dos sentimentos inferiores, renovar a
sua morada e alcançar a verdadeira felicidade, mas para
isso precisa dos obstáculos, das exigências e das duras
lições que provocam os esforços e formam a experiência
necessária para atingir a meta evolutiva.
Nos estágios inferiores da vida, há que se passar pelas
provações e expiações da luta do bem contra o mal dentro
do próprio íntimo, para se adquirir a conscientização
necessária para o pleno exercício do livre-arbítrio e
tornar possível o triunfo futuro.
“A dor física é, em geral, um aviso da natureza, que
procura preservar-nos dos excessos. Sem ela, abusaríamos
de nossos órgãos a ponto de os destruirmos antes do
tempo.” (Léon Denis, pág. 352.) A dor adverte,
sensibiliza, educa, conscientiza, liberta, renova e
permite a elevação do ser, ou seja, colher os frutos da
dor.
Quanto mais a alma se eleva, mais a dor se espiritualiza
e torna sutil. Quanto mais o ser humano se aperfeiçoa,
mais admiráveis se tornam os frutos da dor.
Sempre haverá sanção quando os deveres são violados e
compensações para as dores vivenciadas. O maior juiz das
nossas faltas é a própria consciência.
A lei dos destinos estabelece uma ordem no mundo moral,
cujo mecanismo consiste em que todo mal se resgata pela
dor. Por outro lado, todo o bem realizado segundo a lei
de Deus proporciona tranquilidade e contribui para a sua
elevação. Tudo isso determina as condições do destino de
cada ser.
O sofrimento na Terra é instrumento de educação e
progresso, obrigando os seres a enfrentar diversas
situações que contribuem para adquirir a experiência
necessária. Sem a dor, como conhecer a alegria; sem a
sombra, como apreciar a luz.
As provações fazem compreender a nossa fragilidade e
descobrir as verdadeiras riquezas espirituais. A cada
dor que fere, aproxima-se um pouco mais da verdade e da
perfeição. Assim, sofremos a ação de uma causa anterior
e da lei que preside os destinos das almas, das
sociedades e dos mundos.
“O objetivo da evolução, a razão de ser da vida não é a
felicidade terrestre, como muitos erradamente creem, mas
o aperfeiçoamento de cada um de nós, e esse
aperfeiçoamento devemos realizá-lo por meio do trabalho,
do esforço, de todas as alternativas da alegria e da
dor, até que nos tenhamos desenvolvido completamente e
elevado ao estado celeste.” (Léon Denis, pág. 110.)
Todas as nossas vidas são solidárias umas com as outras
e se encadeiam rigorosamente. As consequências dos
nossos atos constituem uma sucessão de elementos que se
ligam uns aos outros pela estreita relação de causa e
efeito. Sofremos os resultados inevitáveis.
Pela pluralidade de existências, desenvolve-se o
princípio da vida que ilumina as consciências
adormecidas. As dores do passado não ficam perdidas. Sob
o açoite das provas e do sofrimento intenso da dor,
todos sobem e se elevam.
Pela reencarnação, cada ser vem para prosseguir a tarefa
de aperfeiçoamento interrompida pela existência
anterior. É pela lei do esforço que o Espírito se
afirma, triunfa e desenvolve-se. É na Terra onde se
travam as batalhas incessantes do bem contra o mal.
Ao compreendermos o problema do ser, do destino e da
dor, levantar-se-á no céu de seu destino uma nova
estrela, “cujos raios trêmulos penetram no santuário de
sua consciência e lhe iluminam os recônditos. (...) cada
dor é um sulco onde se levanta uma seara de virtude e
beleza” (Léon Denis, pág. 335).
“O universo é justiça e amor. Na espiral infinita das
ascensões, a soma dos sofrimentos, divina alquimia,
converte-se, lá em cima, em ondas de luz e torrentes de
felicidade.” (Léon Denis, pág. 368.)
Bibliografia:
DENIS, Léon. O problema do ser, do
destino e da dor. 32ª Edição. Brasília/DF: Federação
Espírita Brasileira, 2017.
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