Ante o livre-arbítrio
“Nada te admires de que eu te haja dito ser preciso que
nasças de novo.” Jesus (João, 3:7.)
“Não há, pois, duvidar de que sob o nome de ressurreição
o princípio do reencarnação era ponto de uma dos crenças
fundamentais dos judeus, ponto que Jesus e os profetas
confirmaram de modo formal; donde se segue que negar a
reencarnação é negar as palavras do Cristo.” (O
Evangelho segundo o Espiritismo, cap. IV, 16.)
Surgem, aqui e ali, aqueles que negam o livre-arbítrio,
alegando que a pessoa no mundo é tão independente quanto
o pássaro no alçapão.
E, justificando a assertiva, mencionam a junção
compulsória do espírito ao veículo carnal, os
constrangimentos da parentela, as convenções sociais, as
preocupações incessantes na preservação da energia
corpórea, as imposições do trabalho e a obediência
natural aos regulamentos constituídos para a garantia da
ordem terrestre, esquecendo-se de que não há escola sem
disciplina.
Certamente, todos os patrimônios da civilização foram
erigidos pelas criaturas que usaram a própria liberdade
na exaltação do bem, no entanto, para fixar as
realidades do livre-arbítrio, examinemos o reverso do
quadro.
Reflitamos, ainda que superficialmente, em nossos irmãos
menos felizes, para recolher-lhes a dolorosa lição.
Pensemos no desencanto daqueles que amontoaram moedas,
por longo tempo, acumulando o suor dos semelhantes, em
louvor da própria avareza, e sentem a aproximação da
morte, sem migalha de luz que lhes mitigue as aflições
nas trevas...
Imaginemos o suplício dos que trocaram veneráveis
encargos por fantasiosos enganos, a despertarem no
crepúsculo da existência, qual se fossem arremessados,
sem perceber, à secura asfixiante de escabroso deserto.
Ponderemos a tortura dos que abusaram da inteligência,
reconhecendo, à margem da sepultura, os deprimentes
resultados do desprezo com que espezinharam a dignidade
humana...
Consideremos o martírio dos que desvirtuaram a fé
religiosa, anulando-se no isolamento improdutivo, ao
repararem, no término da estância terrestre, que apenas
disputaram a esterilidade do coração.
Meditemos no remorso dos que se renderam à delinquência,
hipnotizados pela falsa adoração a si mesmos, acordando
abatidos e segregados no fundo das penitenciárias de
sofrimento.
Ninguém pode negar que todos eles, imanizados ao
cativeiro da angústia, eram livres...
Conquanto os empeços do aprendizado na experiência
física, eram livres para construir e educar, entender e
servir.
Eis por que a Doutrina Espírita fulge, na atualidade,
diante da mente humana, auxiliando-nos a descobrir os
Estatutos Divinos funcionando em nós próprios, no foro
da consciência, a fim de aprendermos que a liberdade de
fazer o que se quer está condicionada à liberdade de
fazer o que se deve.
Estudemos os princípios da reencarnação, na lei de causa
e efeito, à luz da justiça e da misericórdia de Deus, e
perceberemos que mesmo encarcerados agora em
constringentes obrigações estamos intimamente livres
para aceitar com respeito e humildade as determinações
da vida, edificando o espírito de trabalho e compreensão
naqueles que nos observam e nos rodeiam, marchando,
gradativamente, para a nossa emancipação integral, desde
hoje.
Do Livro da Esperança, obra
psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.
|