A colônia "Nosso Lar" está longe de ser o céu, e o
governador geral, longe de ser um anjo. A cidade já
enfrentou conflitos nada celestiais. Um dia, habitantes
recém-chegados da Terra se rebelaram contra a escassez
de comida e começaram a exigir provisões mais fartas de
pão e mais criatividade nas receitas. O clima ficou
tenso, a população dividiu-se e abriu espaço para o
assédio de multidões de regiões inferiores. Legiões
vindas do Umbral aproveitaram brechas nos serviços de
Regeneração para invadir a cidade. Resultado: o
governador mandou ligar as baterias elétricas das
muralhas da cidade, destinadas à emissão de dardos
magnéticos, isolou os rebeldes recalcitrantes em
calabouços da Regeneração, fechou provisoriamente o
Ministério da Comunicação e proibiu temporariamente os
auxílios às regiões inferiores. Por mais de seis meses,
os serviços de alimentação foram reduzidos à inalação de
princípios vitais da atmosfera, através da respiração, e
a água misturada a elementos solares, elétricos e
magnéticos.
O livro Nosso Lar foi um marco para o Espiritismo. Ele
convenceu muita gente da necessidade de trabalhar, e muito, em
favor dos necessitados. Quem se dedicasse à caridade evoluiria
mais depressa. Quem ajudasse o outro se ajudaria. A generosidade
poderia soar, às vezes, como egoísmo. Mas o discurso deu bons
resultados, estimulou o auxílio aos pobres. Chico Xavier suou
para traduzir aquelas lições do outro mundo. Escutava as frases
e titubeava com o lápis na mão, perplexo diante do mundo novo.
Do livro As vidas de Chico Xavier, de Marcel Souto Maior.
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