O poder do verbo e da comunicação
criadora
O potencial criador do
verbo é expresso com destaque no Evangelho de João.
Desde o seu início, o verbo já existia antes mesmo da
materialização dos objetos e por meio dele há a
realização dos fenômenos e até mesmo da vida. O verbo
representa uma classe de palavras que indica ação,
estado ou sua modificação[1].
Por meio dele interagimos na vida e também expressamos e
nos comunicamos com os demais. Como seres gregários,
dependemos também de outras pessoas para que as obras
possam ser idealizadas e realizadas.
Pelo verbo e pela comunicação conseguimos superar nossas
limitações e adentrar, dependendo da nossa habilidade e
competência, em modo cooperativo e de solidariedade de
trabalho. O que permite a reunião de forças superiores
às de um indivíduo para que a coletividade tenha
condições de compartilhar conhecimentos, energia,
disposição, propósitos em torno de certos objetivos.
Neste sentido, faz-se essencial que o verbo venha
revestido dos sentimentos e pensamentos dignos, pois
tanto o coração quanto a mente são duas fontes que
influenciam a qualidade do jorro e da frutificação.
É vital a purificação do coração por meio das emoções,
sentimentos e afetos que acrescentam na existência, bem
como a tolerância e a generosidade para os atos ainda
falhos de irmãos em ignorância. Algo similar vale para a
mente. Nutri-la com leituras, músicas, filmes
edificantes que permitam a elevação dos pensamentos e
ideias, conceitos e conhecimentos para que as sementes
fecundas possam ser semeadas.
A correta vigilância e
fortalecimento do coração e da mente facilita a
utilização do verbo de modo construtivo, ao invés do
contrário. “Pela linguagem o homem ajuda-se ou se
desajuda.[2]”
Todavia, mesmo fazendo a sua parte, não é uma tarefa
fácil praticar o uso favorável da palavra em todas as
situações, principalmente nas conturbadas. O mundo ainda
está cheio de espinhos que podem nos afetar.
Caso sentimos dificuldades em momentos de urgência e
crise, lembramos que ainda temos um “botão do pânico”
para evitar desastres maiores. Os pulmões e os salutares
ares da paz apagam incêndios e evitam problemas tal como
expresso por Mateus (15:18): “Mas o que sai da boca
procede do coração, e isso que contamina o homem”.
Não responder em
situações adversas, respirar de maneira profunda e em
modo de lentidão faz com que o “calor do momento” passe.
O que pode gerar de novo a tranquilidade dos outros
órgãos para a aplicação devida do verbo e das palavras.
Nas tradições orais pede-se para contar até dez para
responder à obtusidade, ou então, outra via de praxe: só
um minutinho. É o momento do refazimento, da respiração
que permite abrandar a brasa e evitar que o incêndio se
alastre. Não é por acaso que no Oriente os pulmões são
referenciados como os centros da energia[3],
cabendo o uso deliberado para proteger o indivíduo do
uso inadequado da palavra. Evitar o curto circuito é
estratégico. Como recorda Emmanuel[4]:
“É imprescindível vigiar a boca, porque o verbo cria,
insinua, inclina, modifica, renova ou destrói, por
dilatação viva de nossa personalidade”.
Em situações de normalidade, a palavra e o verbo
afirmativo auxiliam na construção da colaboração, da
parceria e da elevação moral. Todavia, as provações
virão em situações extremas e para não falharmos na
lição, lembramos que temos diversos recursos à nossa
disposição. Desde a oração bendita que acalma e
energiza, o silêncio providencial e, até mesmo, a
respiração lenta e profunda que evita confusões maiores.
Mais do que as respostas
teóricas, necessitamos da prática e do exercício da
repetição para que a aprendizagem, o conhecimento
tácito, o hábito virtuoso se transformem em parte de
nós. Para Emmanuel[5]:
“Não se reportava Jesus à letra morta, mas ao verbo
criador”. Ademais, não nos esqueçamos também que o verbo
também pode ser mental e que os pensamentos repetitivos
influenciam na nossa exteriorização.
Mais do que o barulho de fora, aprendamos a organizar a
casa mental em todos os seus recursos e potências.
Coração, mente e pulmões são órgãos que, se bem
influenciados, podem dar o impulso vital à superação dos
obstáculos e de nós mesmos.
Assim, aprendamos a
agradecer também pelos problemas e empecilhos. Serão
eles que nos proporcionarão testar nossos limites e,
assim, expandi-los caso sejamos vitoriosos. Através dos
verbos e da comunicação não apenas criamos o ambiente em
que nos adaptamos como também fornecemos as próprias
soluções. Nas recomendações do apóstolo dos Gentios,
Paulo de Tarso[6]:
“linguagem sã e irrepreensível para que o adversário se
envergonhe, não tendo nenhum mal que dizer de nós”. [7]
[1]Aulete
Digital. www.aulete.com.br
[2] Emmanuel.
Linguagem. Fonte Viva. Rio de Janeiro:
FEB, 2013, p. 101.
[3] Feuerstein,
George. Enciclopédia da Yoga da Pensamento. São
Paulo: Ed. Pensamento, 2006.
[4] Emmanuel.
O verbo é criador. Vinha de Luz,
Rio de Janeiro: FEB, 2011, p. 210.
[5] Emmanuel. Vinha
de Luz. Guardemos o ensino. Rio de Janeiro:
FEB, 2011, p. 155.
[7] Em
homenagem aos meus queridos genitores, Paulo
Hayashi e Ioko Ikefuti Hayashi, que já se
encontram na pátria espiritual.