Entrevista

por Orson Peter Carrara

Vivências espíritas
antes da pandemia
e depois dela

Natural de São Paulo, capital, e residente em Bertioga, no mesmo estado, Márcio Antonio Dias (foto) é formado em Administração de Empresas e também funcionário público. Vincula-se ao Centro de Estudos Espíritas Caminho de Luz, na mesma cidade onde reside, sendo atualmente o presidente da instituição. Entrevistamo-lo sobre suas vivências e o trabalho realizado pela Casa Espírita em que atua.

Como se tornou espírita?

Na ocasião eu tinha 12 anos. Havia uma senhora, vizinha à minha casa em São Paulo, que lia muito. Como eu também era um apreciador da leitura, fiquei curioso em saber que tipo de literatura ela lia. Eram livros espíritas. Emprestou-me o livro Sinal Verde. Eu o devorei em poucas horas e, ao ver meu interesse, me presenteou 70 livros espíritas de uma só vez. A nora dela era sócia do Clube do Livro de Araras e todos os que já tinham lidos me foram doados. Foi a partir daí que busquei saber sobre o Espiritismo e descobri que na minha rua havia uma casa espírita. Passei a frequentar e estamos aqui até hoje.

O que mais lhe chama atenção no Espiritismo?

As respostas coerentes que o Espiritismo traz às nossas perguntas. A lógica e o bom senso me fascinam. Sempre fui muito curioso, e a vertente religiosa que seguia quando criança não me trazia as respostas que queria obter. Quando comecei a conhecer as obras espíritas, especialmente as de Allan Kardec, tudo passou a fazer muito sentido. Completou um vazio que existia. E não podemos deixar de mencionar também a sua característica consoladora. Tudo passa a fazer tanto sentido que percebemos que estamos sempre muito bem amparados pela Bondade Divina.

Fale-nos sobre a instituição a que se vincula, data de fundação e perfil de suas atividades.

Atualmente estou como presidente do Centro de Estudos Espíritas Caminho de Luz, de Bertioga (SP), que em maio de 2022 completará 17 anos de fundação. Nosso foco principal são os estudos. Por essa razão, temos variadas turmas de estudos ao longo de toda a semana. Adotamos as apostilas da FEB: ESDE, MEP e EADE. Temos também grupos de leitura reflexiva de obras espíritas. Já foram lidas no coletivo diversas obras. Atualmente estamos lendo o livro 'Renúncia'.

Dessas atividades, detalhe o atendimento em favor dos mais necessitados.

Podemos considerar dois tipos de necessitados atendidos: aqueles com necessidades materiais e aqueles com necessidades espirituais. Para a parte material, desde o início da pandemia, passamos a atender cerca de 50 famílias socialmente vulneráveis, de vários bairros de Bertioga (hoje estamos atendendo 70 famílias), com uma cesta de alimentos e produtos de higiene e limpeza. E para a parte espiritual, temos atendido um número cada vez maior de pessoas no Atendimento Fraterno, nas datas de atividade da casa.

E como foi a adaptação durante a pandemia?

Quando veio a pandemia, ficamos uma semana sem um ‘norte’. Depois disso, com exceção apenas da Evangelização Infantil, todas as nossas atividades e cursos presenciais passaram a ser feitas virtualmente, via WhatsApp ou Google Meet. Para as atividades públicas foi criado um grupo de WhatsApp denominado ‘Encontro Marcado’, em que são feitas as postagens, como se fosse mesmo uma atividade presencial, da prece de abertura, da leitura de um trecho do Evangelho, das vibrações, dos passes e da prece de encerramento. São mais de 200 inscritos, tendo pessoas de várias partes do Brasil, e até mesmo de fora do país, que passaram a nos acompanhar nesse formato. E, mesmo com o retorno do presencial, mantivemos esse grupo, porque entendemos que temos auxiliado, de alguma forma, essas pessoas. Foi também criada uma turma virtual de ESDE, que agrupa pessoas de várias partes do Brasil, e que será mantida até o término do ciclo de 3 anos. O Atendimento Fraterno, durante o tempo em que ficamos fechados, passou a ser feito por atendimento telefônico, através de duas plantonistas, e estes não foram poucos.

O que gostaria de destacar desses atendimentos?

Temos recebido já há algum tempo variados avisos da Espiritualidade, para nos prepararmos porque a procura nas casas espíritas seria grande, especialmente no pós-pandemia. Mas a ‘pós’ ainda nem chegou e já podemos notar uma procura que a cada dia se amplia. E se percebe que são pessoas que procuram a casa espírita pela primeira vez, muitas em total desequilíbrio emocional, especialmente por questões provocadas pela pandemia: perda de entes queridos, problemas com relacionamentos, dificuldades financeiras. Essas têm sido as maiores buscas.

Das lembranças recentes, o que mais o marcou?

Cada vez que algum pensamento de desistência nos vem à cabeça, e isso é totalmente natural porque as forças negativas procurarão sempre minar qualquer trabalho no bem, chegam tantas mensagens que parecem estar conectadas, que ficamos surpresos com as ‘coincidências’. Brinco com os demais trabalhadores da casa que a Espiritualidade acha um jeito de nos passar o conteúdo temático que precisamos trabalhar naquele momento, tanto intimamente quanto no coletivo, como se fosse uma ‘trilha de conhecimento’.

E o trabalho de divulgação espírita da instituição, como se situa?

Nossas palestras públicas já eram transmitidas via YouTube antes da pandemia. Assim, com o fechamento da casa, não tivemos muita dificuldade em nos adaptar a esse formato. Hoje, decidimos continuar com uma live mensal, no formato híbrido, para palestrantes que sejam de longe. Há um público presente que acompanha a live no telão e há um público que acompanha no virtual, em nosso canal no YouTube. Durante a pandemia, também foi criado o podcast ‘Manhã com Jesus’ em que, todos os dias pela manhã, é enviado um áudio com uma mensagem espírita comentada, para mais de 1.300 inscritos, em grupos de WhatsApp e Telegram (sem contar as pessoas que recebem repostadas).

De suas vivências no movimento, qual foi a mais emocionante?

Ter atuado como voluntário do Grupo do Abraço, quando o nosso irmão Tadeu, de Araxá, antes da pandemia, visitava a Baixada Santista todo ano. Mesmo sendo um trabalho bastante cansativo, afinal permanecemos praticamente o dia todo em pé, organizando a fila para o abraço com o Tadeu, saímos dessa tarefa com o coração muito radiante e muito leve, e assim permanecemos por um bom tempo.

Algo mais que gostaria de acrescentar?

De momento, creio que não tenha nada a acrescentar, somente a agradecer.

Suas palavras finais.

Agradecemos imensamente pelo convite, pela oportunidade de falar um pouco da nossa vivência dentro da doutrina espírita. Isso nos é motivo de muita alegria poder compartilhar das nossas experiências de poder servir na Seara do Mestre Jesus.

 
 

 

     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita