Superpoderes
O final do ano
de 2021 brindou
crianças e
adultos no
cinema com mais
uma bela
animação dos
estúdios Disney,
o filme
“Encanto”, que
narra a história
de Mirabel e a
sua família, os
madrigais. Uma
belíssima obra e
que nos traz
reflexões que
envolvem
questões caras a
nós espíritas,
como a
mediunidade. O
texto pode ter
um pouco de spoilers,
e se você vier
assistir ao
filme, talvez
isso lhe traga
uma melhor
compreensão do
artigo.
De forma
resumida, ele
narra a história
de uma
comunidade em
fuga de uma
convulsão social
na Colômbia, em
um tempo
indeterminado e,
nessa fuga, eles
se veem
agraciados com
um local
transcendente
para morar e,
capitaneados
pela matriarca
da família,
organizam uma
comunidade, na
qual os filhos
desta líder são
dotados de dons
ofertados pelo
mesmo poder que
os salvou,
representado por
uma vela.
O mote do filme
é que o poder
começa a se
enfraquecer, e
isso
supostamente
abala a
confiança da
comunidade na
casa dos
madrigais, em
uma relação de
liderança
daquela família
com a comunidade
muito pautada na
questão dos
superpoderes dos
familiares. A
magia é forte, é
repetida várias
vezes no filme,
e o arco deste
conduz a
reflexões no
sentido da
dependência
desses dons.
Nada mais
próximo do que é
a relação
habitual com a
mediunidade, com
médiuns e seus
“superpoderes”.
Quantas
comunidades,
casas espíritas
são construídas
com base em dons
mediúnicos, e
isso gera
dependência da
comunidade em
relação àquelas
pessoas e às
suas faculdades.
A “casa é
forte”, ouvimos
também várias
vezes em relação
a determinados
templos na
vivência
espírita.
A valorização do
metafísico no
contexto
espírita é muito
grande, e às
vezes com um tom
de dependência,
e essa é a
reflexão que se
faz. Destaca-se
a relação com
obras
psicografadas
contrapostas a
obras de autores
encarnados. Ou a
coincidência da
direção de casas
espíritas com os
que detêm dons
mediúnicos mais
ostensivos. Será
que Jesus seria
lembrado se
fosse só o seu
ensinamento, sem
os milagres?
Esses médiuns
baluartes que
colecionamos, ao
longo da jornada
do Espiritismo
no Brasil,
seriam lembrados
se fosse só a
mensagem, sem
fenômeno?
A grande
discussão
subjacente ao
filme é a
questão de nos
tornarmos reféns
dos dons, em uma
visão que nos
aprisiona, que
nos tutela e que
inibe o nosso
crescimento
espiritual. Como
diz a matriarca
Abuela no filme:
“Me esqueci para
quem era nosso
milagre”.
Esquecemos que
esses dons são
ferramentas, e
não fins em si
mesmo. Dons para
mediar a
transcendência
da vida com a
necessidade de
evolução.
O grande dom da
liderança, da
capacidade de
articular
corações e
mentes, em
propósitos
elevados, surge
como grande
valor esquecido
no filme, em uma
lição que fica
também para a
nossa vida
espírita, na
qual
desvalorizamos
essa faculdade
da liderança em
detrimento de
dons. Uma
reflexão que nos
cabe, para que
no dia em que os
dons se
enfraquecerem, e
esse dia sempre
chega, saibamos
caminhar firme,
com nossas
próprias pernas.