Por acaso, existe acaso!?
Há, entre outras incontáveis citações na literatura
espírita, firme opinião sobre a inexistência do acaso:
Usar com prudência ou substituir toda expressão verbal
que indique costumes, práticas, ideias políticas,
sociais ou religiosas, contrárias ao pensamento
espírita, quais sejam: sorte, acaso,
sobrenatural, milagre e outras, preferindo-se, em
qualquer circunstância, o uso da terminologia
doutrinária pura.1 (negritamos)
ou,
Libertar-se das cadeias mentais oriundas do uso de
talismãs e votos, pactos e apostas, artifícios e jogos
de qualquer natureza, enganosos e prescindíveis.
O espírita está informado de que o acaso não
existe.2 (negritamos)
Esta ajuizada compreensão desta lei da vida é
fundamental, pois sem este entendimento, pode-se
facilmente crer que, quando a chamada bala perdida atinge
um transeunte, esta pessoa não deveria ter sido
atingida, naquele momento, por aquele projétil, e mais,
se ela vier a desencarnar, então, conclui-se:
desencarnou fora da hora prevista.
Não é possível aceitar que Deus, enfatizamos:
onisciente, onipresente e todo poderoso, permita que um
filho seu morra sem uma justificativa plausível. Alguns,
talvez, imaginem que naquele exato momento estaria a
Divindade distraída e, por conta desta distração,
uma de suas criaturas teve um fim de vida material
inesperado, entretanto, este raciocínio é um completo
contrassenso, não é mesmo!?
E mais, a possibilidade de haver situações fora do
conhecimento e permissão do Criador, nos levaria também
a crer que após Deus ter criado o Universo, com seus
literalmente incontáveis orbes e seres vivos, estes
ganharam absoluta autonomia e, agora, não são mais
passíveis de controle, ficariam ao sabor do nada,
ou seja, do acaso, o sábio e poderoso concorrente
das imutáveis e perfeitas leis divinas.
A propósito, os Espíritos
registraram em O Livro dos Espíritos: “Que homem
de bom senso pode considerar o acaso como um ser
inteligente? E, além disso, que é o acaso? Nada!”3
A Doutrina espírita é uma filosofia espiritualista
baseada no bom senso, na razão, sendo assim, jamais
podemos acreditar que fatos importantes da vida se deem
de forma errática, fora de qualquer coordenação ou
governo. Precisamos aceitar e, principalmente, entender:
há sempre um encadeamento prévio de situações, que, no
seu conjunto, provocam um determinado desfecho, o
resultado esperado e necessário destas conjunções
anteriores. Isto é a essência da lei de causa e
efeito.
Caso contrário, esta lei que nos traz muita
tranquilidade, pacifica os nossos corações e mentes, nos
dando condições de acolher os fatos mais contundentes da
vida, com paciência e resignação, pois sempre haverá
justificativas para os mais inesperados acontecimentos,
não se aplicaria, invalidando um dos princípios
basilares do Espiritismo e, consequentemente, das leis
divinas, ou seja, a vida seria uma eterna caixa de
surpresas, como se diz popularmente.
Entretanto, não se creia que todas as minúcias do
cotidiano foram previamente delineadas, senão, por qual
razão existiria o livre-arbítrio?
Há incontáveis pequenos ocorridos que não podem estar
previstos, apenas os mais significativos foram acertados
anteriormente, contudo, mesmo estes grandes marcos de
nossas existências podem ser alterados, tudo depende da
conduta que tenhamos diante deles, durante o desenrolar
destes combinados acontecimentos.
Tomemos mais um exemplo no caso de doenças físicas.
Antes de reencarnar, o Espírito é informado de que há
previsão de uma doença grave vinculada ao seu fígado,
por razões baseadas em más atitudes passadas, devendo
eclodir com certa pujança por volta dos trinta anos. Se
esta alma, se conduzir corriqueiramente voltada à
prática do bem, se empenhando em aprender e ajudar ao
próximo, aproveitando as oportunidades de aprendizado
oferecidas regularmente pelas leis divinas, esta
disfunção poderá ser atenuada e, em casos excepcionais,
se o indivíduo se superar em suas condutas positivas,
ela pode mesmo não acontecer. Por outro lado, se esta
pessoa vivenciar uma conduta retrógrada, expressando
preconceitos contra tudo e contra todos, agindo com
violência e muito descontrole em sua área emocional, se
entregando a vícios de variada ordem, sempre se
colocando pessimista em relação a tudo e a todos, poderá
ter a doença visitando-a antecipadamente, bem antes dos
seus trinta anos de existência e, até com força maior,
do que aquela prevista durante o período da erraticidade.
O espírita deve ter consciência de que o acaso não
existe.
Referências:
1 VIEIRA,
Waldo. Conduta espírita. Pelo Espírito André
Luiz. 13. ed. Rio de Janeiro: FEB. 1987. cap. 13 – Na
propaganda.
2 _______._____.
cap. 18 – Perante nós mesmos.
3 KARDEC,
Allan. O Livro dos Espíritos. 3ª Edição
Comemorativa. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 2007. Q. 8.