Bullying,
problema social devastador
Apenas entristece um pouco
este ovo azul que as crianças apedrejaram:
formigas ávidas devoram
a albumina do pássaro frustrado. Cecília
Meireles
Marcelo tem 8 anos e sabe bem o que a palavra bullying implica,
e não apenas porque ele recentemente aprendeu a tradução
dela, mas também porque ele viveu suas consequências na
própria pele.
“Eu tenho cabelo longo e uns meninos ficavam me chamando
de ‘menina’, e isso foi por um século”, conta. “Fiquei
triste porque não faz sentido zoarem por você ter cabelo
longo.”
Marcelo define o bullying assim: “É quando você
ofende a pessoa pelo jeito que ela é, pela forma que é o
corpo, pelo modo que ela fala, se veste ou tem de
diferente da maioria.”
Particularmente, e também porque sofri muito bullying na
época da escola, estou de acordo com a definição do
Marcelo. No bullying há uma ofensa, uma agressão
e isso machuca muito, abre uma ferida que sangra.
Claro que, nas escolas, há conflitos entre crianças.
Contudo, quem sofre o bullying, na maioria das
vezes, não encontra uma maneira de interromper a
agressão. Embora seja fundamental saber colocar limite,
dizer ‘não’, quase sempre a vítima de bullying necessitará
de ajuda para conseguir posicionar-se e interromper de
modo definitivo a agressão. De outro lado, quem ofende,
quem agride, também precisa de atenção, de apoio, para
aprender a se colocar no lugar do outro e descobrir
quanto é duro sofrer uma agressão descabida e que só
causa dor, vexame, e a independer da idade. Além disso,
no geral, o mau comportamento apresentado pelo agressor
pode ser uma extensão de vivências em um ambiente
familiar tumultuado, sem a presença dos genitores e/ou
sem regras claras ou limites. Ou seja, é importante
buscar respostas sobre a origem do comportamento hostil
e dessa necessidade de autoafirmação por parte do
agressor.
As consequências do bullying acabam influenciando
na saúde da criança e, automaticamente, no rendimento
escolar, na vontade de estudar, na autoestima e podem
ser um combustível para a continuação de mais ciclos de
vulnerabilidade, como o abandono escolar e o consumo de
drogas.
Como pais devemos estar atentos, pois, quantas vezes?,
por trás das simples ‘brincadeiras [sem graça] de
criança’ pode existir um problema muito mais sério e
nada inofensivo: o bullying infantil. Menores que
sofrem este tipo de coação estão expostos a
consequências, muitas vezes, irreversíveis.
Notinhas
O bullying é a prática de ações e comportamentos
agressivos, intencionais e repetitivos contra uma
pessoa. Ele envolve agressões verbais, físicas,
materiais, psicológicas, sexuais ou virtuais. Além
disso, pode surgir de diversas maneiras e influenciar os
meios em que a pessoa está inserida: casa, escola,
trabalho, ambiente de lazer etc.
Uso de óculos, peso, altura, cor de pele, cabelos,
religião, timidez e outras coisas banais são motivos
para o bullying. Nesse contexto, muitas crianças
que são vítimas desse problema social passam a acreditar
nas ofensas e a se perceber com um olhar tão crítico e
cruel quanto o do agressor.
Meninas, no geral, sofrem mais bullying verbal,
elas são chamadas de alguma coisa, ou apelidos, ofensas.
Já os meninos passam mais por bullying físico,
são empurrados, isto é, a agressão implica disputa
física ou subordinação física.
O bullying se dá por ações repetitivas que podem
ser tão sutis, que ocorrem sem que os adultos percebam.
Por isso, mais do que conferir notas e presenças no
boletim, os pais precisam estar envolvidos com a rotina
e acompanhar a socialização da criança, saber se tem
amigos, quem são eles, quem é a família e como se
comportam.
Hoje em dia é fundamental que a escola se preocupe em
desenvolver programas para um desenvolvimento dos alunos
que vai além do puramente cognitivo. Afinal, o trabalho
das competências socioemocionais pode contribuir muito
no combate ao bullying.
Muitas vezes, o bullying tem consequências
devastadoras para suas vítimas, por isso quanto mais
cedo detectado, melhor.
A seguir, confira alguns sinais que a criança pode
apresentar quando vivencia esse problema social: está
constantemente triste; fica sempre isolada; tem piora
nas notas escolares; anda olhando para os pés e evitando
encarar outras pessoas; pede muitas vezes para faltar às
aulas; tem mudanças extremas de humor; aparece com
hematomas.