Fluido vital
na obra de Yvonne Pereira
Na principal
obra mediúnica de Yvonne do Amaral Pereira, o livro Memórias de um suicida,
de autoria espiritual do escritor português Camilo Castelo Branco, identificamos
alguns conceitos sobre fluido vital que complementam o pensamento kardequiano.
Segundo a obra,
fluidos vitais são fluidos próprios de todos os seres vivos e que unem o
Espírito ao corpo material, durante a encarnação. Após a morte, antes que o
Espírito se oriente, gravitando para o verdadeiro "lar espiritual" que lhe
cabe, será sempre necessário o estágio numa "antecâmara", numa região
cuja densidade e aflitivas configurações locais corresponderão aos estados
vibratórios e mentais do recém-desencarnado. Aí se deterá até que
seja naturalmente "desanimalizado", isto é, que se desfaça dos fluidos e forças
vitais de que são impregnados todos os corpos materiais.[i]
Esclarece que a
estada será temporária nesse umbral do Além. Existem aqueles que aí apenas se
demoram algumas horas. Outros levarão meses, anos consecutivos, voltando à
reencarnação sem atingirem a Espiritualidade.
Em se tratando
de suicidas o caso assume proporções especiais, por dolorosas e complexas.
Estes aí se demorarão, geralmente, o tempo que ainda lhes restava para conclusão
do compromisso da existência que prematuramente cortaram, pelo fato de trazerem
carregamentos avantajados de forças vitais animalizadas. [ii]
Ao descrever a
condição de diferentes entidades desencarnadas através do suicídio, provindas,
preferentemente, de Portugal, da Espanha, do Brasil e colônias portuguesas da
África, o autor espiritual informa que grande parte da perturbação que acomete e
transtorna esses Espíritos é o fato de se acompanharem, mesmo na dimensão
espiritual, das forças vitais, muitas vezes intactas, cuja função seria a de
vitalizar a organização física. Tão deplorável estado de coisas prolonga-se até
que as reservas de forças vitais e magnéticas se esgotem, o que varia segundo o
grau de vitalidade de cada um.
Comenta Camilo
que essas entidades traziam, pendentes de si, fragmentos de cordão luminoso,
fosforescente, o qual, despedaçado, como arrebentado violentamente,
desprendia-se em estilhas qual um cabo compacto de fios elétricos arrebentados,
a desprenderem fluidos que deveriam permanecer organizados para determinado
fim. Segundo o autor, esse pormenor, aparentemente insignificante, tinha,
importância capital, pois era justamente nele que se estabelecia a
desorganização do estado de suicida.
A médium
esclarece, em nota de rodapé, que esse cordão fluídico magnético, que liga a
alma ao envoltório carnal e lhe comunica a vida, somente deverá estar em
condições apropriadas para deste separar-se por ocasião da morte natural, o que
então se fará naturalmente, sem choques, sem violência. Com o suicídio, porém,
uma vez partido e não desligado, rudemente arrancado, despedaçado quando ainda
em toda a sua pujança fluídica e magnética, produzirá grande parte dos
desequilíbrios, uma vez que, na constituição vital para a existência que deveria
ser, muitas vezes, longa, a reserva de forças magnéticas não se havia extinguido
ainda, o que leva o suicida a sentir-se um "morto-vivo" na mais expressiva
significação do termo.
O autor
espiritual esclarece, também, que a transferência das entidades albergadas na
instituição socorrista para camadas “intermediárias” do Invisível está
condicionada à desintegração desses fluidos. Será preciso que se desagreguem
dele as poderosas camadas de fluidos vitais que lhe revestiam a organização
física, adaptadas por afinidades especiais da Grande Mãe Natureza à organização
astral, ou seja, ao perispírito, as quais nele se aglomeram em reservas
suficientes para o compromisso da existência completa; que se arrefeçam, enfim,
as mesmas afinidades, labor que na individualidade de um suicida será
acompanhado das mais aflitivas dificuldades, de morosidade impressionante, para,
só então, obter possibilidade vibratória que lhe faculte alívio e progresso.[iii]
Quanto à
participação do fluido vital na fenomenologia mediúnica, a obra descreve o
ambiente mediúnico de um grupo espírita, visitado pelos tarefeiros do complexo Maria
de Nazaré, e saturado de fluidos animalizados dos médiuns e assistentes
encarnados. Tais recursos serão necessários aos diferentes procedimentos de
socorro espiritual às entidades enfermas e ao intercâmbio mediúnico em si
mesmo. [iv]
Fluido vital na obra de Chico Xavier
Identificamos
algumas considerações sobre o tema principalmente em duas obras de autoria
espiritual de André Luiz: Nos domínios da mediunidade e Obreiros da
vida eterna.
Em Nos
domínios da mediunidade, ao descrever o desdobramento do médium Antônio
Castro, o autor faz referência ao fluido vital. Segue o relato para melhor
entendimento:
Do tórax
emanava com abundância um vapor esbranquiçado que, em se acumulando à feição de
uma nuvem, depressa se transformou, à esquerda do corpo denso, numa duplicata do
médium, em tamanho ligeiramente maior.
Nosso amigo
como que se revelava mais desenvolvido, apresentando todas as particularidades
de sua forma física, apreciavelmente dilatadas.
O diretor
espiritual da casa submetia o medianeiro a delicada intervenção magnética que
não seria lícito perturbar ou interromper.
O médium,
assim desligado do veículo carnal, afastou-se dois passos, deixando ver o cordão
vaporoso que o prendia ao campo somático. Enquanto o equipamento fisiológico
descansava, imóvel, Castro, tateante e assombrado, surgia, junto de nós, numa
cópia estranha de si mesmo, porquanto, além de maior em sua configuração
exterior, apresentava-se azulada à direita e alaranjada à esquerda. Tentou
movimentar-se, contudo, parecia sentir-se pesado e inquieto...
Clementino
renovou as operações magnéticas e Castro, desdobrado, recuou, como que se
justapondo novamente ao corpo físico.
Verifiquei,
então, que desse contacto resultou singular diferença. O corpo carnal engolira,
instintivamente, certas faixas de força que imprimiam manifesta irregularidade
ao perispírito, absorvendo-as de maneira incompreensível para mim. Desde esse
instante, o companheiro, fora do vaso de matéria densa, guardou o porte que lhe
era característico. Era, agora, bem ele mesmo, sem qualquer deformidade, leve e
ágil, embora prosseguisse encadeado ao envoltório físico pelo laço aeriforme,
que parecia mais adelgaçado e mais luminoso, à medida que Castro-Espírito se
movimentava em nosso meio. Enquanto Clementino o encorajava com palavras amigas,
o nosso orientador, certamente assinalando-nos a curiosidade, deu-se pressa em
esclarecer:
– Com o
auxílio do supervisor, o médium foi convenientemente exteriorizado. A princípio,
seu perispírito ou “corpo astral” estava revestido com os eflúvios vitais que
asseguram o equilíbrio entre a alma e o corpo de carne, conhecidos aqueles, em
seu conjunto, como sendo o “duplo etérico”, formado por emanações neuropsíquicas
que pertencem ao campo fisiológico e que, por isso mesmo, não conseguem maior
afastamento da organização terrestre, destinando-se à desintegração, tanto
quanto ocorre ao instrumento carnal, por ocasião da morte renovadora. Para
melhor ajustar-se ao nosso ambiente, Castro devolveu essas energias ao corpo
inerme, garantindo assim o calor indispensável à colmeia celular e
desembaraçando-se, tanto quanto possível, para entrar no serviço que o aguarda. [v]
Destacamos do
texto alguns conceitos relativos ao fluido vital:
- Assegura o
equilíbrio entre a alma e o corpo, oferecendo “calor” indispensável à colmeia
celular.
- Corresponde
ao que algumas escolas espiritualistas denominam de duplo etéreo.
- Destina-se à
desintegração com a morte física.
- Forma-se a
partir de emanações neuropsíquicas, relacionadas ao campo fisiológico, embora
isso não nos pareça muito claro.
- As faixas de
força, que correspondem ao fluido vital, podem, eventualmente se afastarem do
corpo físico, “aderidas” ao perispírito, quando do desdobramento espiritual.
No livro Obreiros
da vida eterna, o autor enaltece o valor da exteriorização de fluidos vitais
do médium para os fenômenos de materialização, e comenta quanto à necessidade da
extinção dos fluidos que ligam o Espírito ao cadáver, para o definitivo
desligamento perispiritual.[vi]
Ao descrever a
desencarnação de Dimas, revela, de forma pra nós ainda pouco compreendida, que
parcela desse fluido é aproveitada na reconstrução do novo corpo espiritual.
Segue o relato:
Tive a
nítida impressão de que através do cordão fluídico, de cérebro morto a cérebro
vivo, o desencarnado absorvia os princípios vitais restantes do campo
fisiológico. Somente então notei que, se o organismo perispirítico recebia as
últimas forças do corpo inanimado, este, por sua vez, absorvia também algo de
energia do outro, que o mantinha sem notáveis alterações. O apêndice prateado
era verdadeira artéria fluídica, sustentando o fluxo e o refluxo dos princípios
vitais em readaptação. Retirada a derradeira via de intercâmbio, o cadáver
mostrou sinais, quase de imediato, de avançada decomposição. [vii]
[i] Memórias
de um suicida, parte I, cap. 6.
[iii] Memórias
de um suicida, parte I, cap. 1.
[iv] Memórias
de um suicida, parte I, cap. 6.
[v] Nos
Domínios da Mediunidade, cap. 11.
[vi] Obreiros
da Vida Eterna, cap. 14.
[vii] Obreiros
da Vida Eterna, cap. 15.