Façamos a nossa parte
Esopo, escritor grego do século VI a.C., foi o
idealizador das fábulas como gênero literário. Ele
escreveu relevantes obras que permitem a disseminação da
tradição oral e, em especial, o ensino moral para uma
vida justa e honesta. Pode-se destacar diferentes
fábulas de Esopo, tais como: a raposa e as uvas, a
cigarra e a formiga, a galinha dos ovos de ouro, o lobo
e o cordeiro.
Em uma estória particular, o Náufrago, o escritor
destaca a necessidade tanto de invocar os deuses no
socorro, quanto de fazermos a nossa parte: “Convoca
Atenas e também teus braços[1]”.
Ou seja, para que a ajuda seja eficaz, não adianta a
oração sem ação. É essencial que cada um aja e se mexa,
senão o afundamento é evidente.
De certo modo, algo similar é expresso pelo apóstolo dos
Gentios, Paulo de Tarso[2]:
“Senhor, que farei?” Uma dúvida que é respondida por
meio da ação espontânea no bem e na divulgação das obras
do mestre Nazareno, mesmo que tenha que abandonar toda
uma existência de equívocos. É deixar de lado o
particularismo da vida, dos prazeres do ego e de títulos
e formalidades que aprazem as convenções sociais, mas
não o altar íntimo. Nas observações de Emmanuel[3]:
“Não se reportava Jesus à letra morta, mas ao verbo
criador”.
Para Paulo de Tarso, a mudança foi brusca, mas
necessária para a condição superior. De doutor do
Sinédrio para tecelão de malhas e tecidos que simboliza
a metáfora da união e da solidariedade para a qualidade
da obra. A palavra solidariedade vem do latim solidus e
destaca a solidez e a consistência de algo. É olhar para
a fibra interna ao invés da aparência externa.
Em Lucas, evangelista amigo e companheiro de pregação de
Paulo, a lição pode ser destacada no seguinte trecho: “E
olhai por vós, não aconteça que os vossos corações se
carreguem de glutonaria, de embriaguez e dos cuidados
desta vida, e venha sobre vós de improviso aquele dia[4]”.
Para os que estão acordados e despertos, a vida não é
para ser desperdiçada, mas aproveitada em todo seu
momento para a confecção das obras e aquisição de
conhecimentos e virtudes, luzes e amores para o retorno
à Pátria espiritual. É estar ciente e prestativo não
apenas em não se afundar, mas também de flutuar, de
elevar-se, de subir acima das ondas e dos céus para que
a vida seja digna de satisfação consigo mesma e de
inspiração e exemplo aos demais.
Entretanto, é essencial vencer as provas, mas não de
qualquer modo. A elegância e a estética da superação
contam no resultado final. De perceber que o valor está
tanto no ato em si, quanto no modo como é realizado, em
especial na casa mental.
É agradecer pelas lições vencidas e aprendidas de modo
que a cruz não seja pesada demais e possa se
transfigurar em ascensão memorável. É distribuir as
bênçãos das Graças até mesmo entre aqueles que foram
nossos inimigos e que não há mal ou maldade eterna, mas
irmãos em ignorância que um dia compartilharão a mesma
condição e felicidade.
O convite ao banquete não é apenas o último ato de Jesus
junto aos discípulos, mas também a metáfora que a vida é
um banquete de oportunidades. É vital tratarmos a todos
como convidados e fazermos a nossa parte para que o bem,
o belo, a verdade prevaleçam e sejam multiplicados e
compartilhados. Assim, trabalho e estudo, dedicação e
amor para que a vida não seja uma existência vazia e sem
sentido. Que o serviço possa nos salvar dos naufrágios
da existência e que as obras prósperas possam ser os
manjares que levaremos para satisfazer os apetites de
salvação e de ajustes em nossa história de idas e
vindas. Como bons viajantes, deixemos os luminosos
rastros de nossa passagem e, também, a esperança e a
certeza de que fazer a parte devida vale a pena. [5]
[1] Esopo.
Fábulas. Porto Alegre: LP&M, 2009, p. 42.
[3] Emmanuel.
Vinha de Luz. Guardemos o ensino. Rio de
Janeiro: FEB, 2011, p. 155.
[5] Em
homenagem aos meus queridos genitores, Paulo
Hayashi e Ioko Ikefuti Hayashi, que já se
encontram na pátria espiritual.
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