Sobre mães e ninhos
Amar é ter um pássaro pousado no dedo. Quem tem um
pássaro pousado no dedo sabe que, a qualquer momento,
ele pode voar.
Rubem Alves
Quando era menina, o Dia das Mães eu celebrava assim:
dava para a minha mãe um cartão de cartolina de coração.
Era tudo. E anos depois, no guarda-roupa dela, como um
achado, lá estavam os cartões de coração amarrados com
uma fita de cetim dourada.
Um dia a criança deixará a proteção do ninho. E eu sei
que a mãe suficientemente boa ajudará seu filho a
ir para fora, porque reconhece simplesmente que ninho
nenhum é para sempre. Aqui, perto da minha casa, há um
ninho abandonado no alto da velha paineira.
Mas o que eu queria mesmo? Contar sobre importância da
maternagem, que implica o movimento de pegar e de
soltar, e por anos a fio, e que a mãe só aprende
realmente desde o nascimento de seu filho, fazendo-se
capaz de identificar-se com as necessidade dele – e não
com as suas…
Claro que como filha eu às vezes confundi amor com
dependência. Pois somente adulta fui tomando consciência
de que somos breves passantes neste mundo. Mas como mãe,
desde o começo, procurei não confundir amor com
segurança. Sempre temi ser a mãe que, por excesso de
zelo, corta as asas de seu filho. De um jeito ou de
outro, é preciso cada um buscar respostas próprias e
viver o sonho por si mesmo…
O que eu aprendi com a minha mãe? Além do amor pela
natureza, a importância de mandar no meu destino, sem
ignorar que a alma é livre e somos responsáveis por
nossas escolhas.
Nos dias revoltados,
minha mãe ficava em silêncio. Nada era dito. Ela contava
sobre a ameaça do espinho. De pessoas que se tornaram
cactos pelas dores não processadas no caminho. Minha avó
paterna era assim – que Deus a tenha. Mas não minha mãe,
que aprendeu amor e paciência com a minha avó Eugênia.
Que foi mãe dos filhos dela e também de filhos de outras
mães, que por motivos diversos não puderam acalentar
seus ninhos até que seus filhos voassem.
A história da educação de um filho é a história do
cuidado pelo qual a mãe o vai enredando através de uma
jornada que
urge ser baseada no texto do Khalil Gibran, em que ele
diz que “nossos filhos não são nossos filhos.” Ou seja:
eles são criados para voar. Triunfa a mãe que sabe e
aceita isso.
Notinha
O conceito de “mãe suficientemente boa” – desenvolvido
ao longo da obra do pediatra, psiquiatra e psicanalista
inglês Donald Woods Winnicott – é profundo e pouco
óbvio. No entanto, para ele, a mãe é suficientemente boa
porque atende o bebê na medida das necessidades deste,
segundo uma capacidade de identificação. Para Winnicott,
essa capacidade não deriva de um processo natural,
tampouco instintivo, mas é conquista do desenvolvimento
emocional do indivíduo. Uma mãe é capaz de se
identificar com o bebê como o adulto é capaz de se
identificar com outro. Esta capacidade de identificação
é o que está na base da maternidade para Winnicott.