Cinco-marias

por Eugênia Pickina

 

Sobre mães e ninhos

 

Amar é ter um pássaro pousado no dedo. Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que, a qualquer momento, ele pode voar. Rubem Alves

 

Quando era menina, o Dia das Mães eu celebrava assim: dava para a minha mãe um cartão de cartolina de coração. Era tudo. E anos depois, no guarda-roupa dela, como um achado, lá estavam os cartões de coração amarrados com uma fita de cetim dourada.

Um dia a criança deixará a proteção do ninho. E eu sei que a mãe suficientemente boa ajudará seu filho a ir para fora, porque reconhece simplesmente que ninho nenhum é para sempre. Aqui, perto da minha casa, há um ninho abandonado no alto da velha paineira.

Mas o que eu queria mesmo? Contar sobre importância da maternagem, que implica o movimento de pegar e de soltar, e por anos a fio, e que a mãe só aprende realmente desde o nascimento de seu filho, fazendo-se capaz de identificar-se com as necessidade dele – e não com as suas…

Claro que como filha eu às vezes confundi amor com dependência. Pois somente adulta fui tomando consciência de que somos breves passantes neste mundo. Mas como mãe, desde o começo, procurei não confundir amor com segurança. Sempre temi ser a mãe que, por excesso de zelo, corta as asas de seu filho. De um jeito ou de outro, é preciso cada um buscar respostas próprias e viver o sonho por si mesmo…

O que eu aprendi com a minha mãe? Além do amor pela natureza, a importância de mandar no meu destino, sem ignorar que a alma é livre e somos responsáveis por nossas escolhas.

Nos dias revoltados, minha mãe ficava em silêncio. Nada era dito. Ela contava sobre a ameaça do espinho. De pessoas que se tornaram cactos pelas dores não processadas no caminho. Minha avó paterna era assim – que Deus a tenha. Mas não minha mãe, que aprendeu amor e paciência com a minha avó Eugênia. Que foi mãe dos filhos dela e também de filhos de outras mães, que por motivos diversos não puderam acalentar seus ninhos até que seus filhos voassem.

A história da educação de um filho é a história do cuidado pelo qual a mãe o vai enredando através de uma jornada que urge ser baseada no texto do Khalil Gibran, em que ele diz que “nossos filhos não são nossos filhos.” Ou seja: eles são criados para voar. Triunfa a mãe que sabe e aceita isso.

 

Notinha

O conceito de “mãe suficientemente boa” – desenvolvido ao longo da obra do pediatra, psiquiatra e psicanalista inglês Donald Woods Winnicott – é profundo e pouco óbvio. No entanto, para ele, a mãe é suficientemente boa porque atende o bebê na medida das necessidades deste, segundo uma capacidade de identificação. Para Winnicott, essa capacidade não deriva de um processo natural, tampouco instintivo, mas é conquista do desenvolvimento emocional do indivíduo. Uma mãe é capaz de se identificar com o bebê como o adulto é capaz de se identificar com outro. Esta capacidade de identificação é o que está na base da maternidade para Winnicott.


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita