Chico Xavier, num momento de distração, em que se sentia
fisicamente desgastado, pois já havia atendido cerca de
80 casos, cada qual mais doloroso, como sucedia
diariamente, foi procurado por um irmão que o caceteou
por mais de duas horas. O boníssimo médium sentia-se
experimentado em demasia. Tratava-se de um desses casos
para o qual o saudoso Dr. Bezerra receitara prisão em
vez de oração, por se tratar de espíritos abusadores. E,
num momento de descuido, deixou o importuno irmão
falando sozinho, dizendo-lhe: Não me amole e até logo...
Isto foi o bastante para criar um desafeto que passou,
daí em diante, a não corresponder ao seu cumprimento.
Chico sentiu o caso. Nunca fizera desafetos. Possuía sua estrada
livre, sem inimigos. E procurou resolvê-lo cristãmente. Assim,
numa tarde, pondo a vergonha de lado e vestindo-se de bastante
humildade, procurou o inimigo. E esse, atendendo ao Chico e à
sua justificativa, saiu-se com esta:
— Chico, você me procura por ser humilde ou sem-vergonha?
— Por ser sem-vergonha...
— Ah! Então aceito seu gesto de amizade, porque vejo que você é
mesmo sincero...
E tornaram-se, de novo, bons amigos.
Do livro Lindos casos de Chico Xavier, de Ramiro Gama.
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