A pandemia desconhecida
Há três níveis de caracterização nos
processos de contaminação e disseminação
de doenças: pandemia, epidemia e
endemia. Em suma, diferem em relação à
forma e escala como se alastram as
enfermidades associadas. Em relação à
primeira, é generalizada, assim se
classifica quando atinge o planeta como
um todo, sem qualquer restrição; as
outras ocorrem em menor escala,
atingindo apenas determinadas regiões ou
localidades.
Embora o sentido comum de emprego destas
expressões se aplique de modo direto às
doenças físicas, a etimologia da palavra
possui um significado mais abrangente:
A palavra
pandemia tem sua origem no grego pandemias, as.
Significa “todo o povo”. Também
representada pela junção dos elementos
gregos: “pan” (todo, tudo) e “demos”
(povo).1
E, é conforme esse entendimento, que
conversaremos sobre uma pandemia quase
totalmente desconhecida, que causou e
vem causando prejuízos maiores à esta
Humanidade do que causaram e causarão
todas as pandemias físicas até hoje
registradas na História: a obsessão
espiritual.
Ciente desta realidade, quando elaborava
a Doutrina dos Imortais, assim se
expressou Allan Kardec:
“Pululam
em torno da Terra os maus Espíritos, em
consequência da inferioridade moral de
seus habitantes. A ação malfazeja desses
Espíritos é parte integrante dos
flagelos com que a humanidade se vê a
braços neste mundo. A obsessão que é um
dos efeitos de semelhante ação, como as
enfermidades e todas as atribulações da
vida, deve, pois, ser considerada como
provação ou expiação e aceita com esse
caráter”.2
No início da estruturação da obra
espírita, este tipo de flagelo, como bem
caracterizou Allan Kardec, recebeu
classificação semelhante àquela das
doenças físicas, ou seja, em três
níveis: simples, fascinação e
subjugação, variando conforme o grau de
influenciação exercido pelos obsessores
sobre suas vítimas. Na primeira, como o
nome já indica, há um envolvimento
superficial, se intensificando, nos dois
últimos. Mais tarde, através da acurada
observação do Codificador nos relatos
que recebia do além, incluiu,
propriamente dita, a possessão.3 Esta
possibilidade, no começo, foi
considerada impossível de acontecer,
caracterizando a obsessão, ao término da
construção do edifício do conhecimento
espírita, em quatro grandes modalidades,
segundo o grau de atuação do Espírito
desencarnado.
Vale a pena lembrar que, dependendo do
envolvimento dos Espíritos no processo,
sejam encarnados ou não, há cinco tipos
previstos: de desencarnado em encarnado;
de encarnado em desencarnado; de
encarnado em encarnado; de desencarnado
em desencarnado; e, por último, mas não
que seja a menos importante, a pouco
conhecida auto-obsessão. Neste último
tipo, não há envolvidos, apenas um
envolvido, somente um Espírito que, por
conta de sua mente em desalinho ou mesmo
viciosa, cria um cenário perturbador
para si mesmo, não necessitando da ajuda de
outro Espírito.
Considerando o primeiro grau deste
flagelo, conveniente recordar Manoel
Philomeno de Miranda, pois o autor bem
caracteriza o caráter pandêmico da
obsessão, quando advertiu:
“A
obsessão simples é parasitose comum em
quase todas as criaturas, em se
considerando o natural intercurso
psíquico vigente em todas as partes do
Universo”.4
Não há dúvida, estas interações
maléficas, desnorteadas, desequilibradas
e viciosas, estabelecidas entre a
população encarnada – almas -, e a
desencarnada - Espíritos -, representa
uma verdadeira parasitose, aliás,
numericamente, de maiores proporções do
que sugere o significado vulgar do
vocábulo pandemia. Precisaríamos
encontrar outro termo para designar este
mal imaterial - mas em vários casos de
consequências físicas -, pois atinge
muito mais pessoas do que qualquer
virose ou peste, já enfrentadas pelos
habitantes da Terra, mesmo se
considerarmos estas duas calamidades
juntas.
Pode-se afirmar, sem nenhuma sombra de
dúvidas, que a obsessão já causou mais
males à Humanidade do que todas as
guerras em conjunto. Esta afirmação
doutrinária justifica-se, pois todos os
que pelo seu: egoísmo, orgulho, ambição,
ânsia pelo poder, desejo de dominação,
prazer da conquista e ganância,
iniciando ou incentivando os conflitos
bélicos que a Humanidade já registrou e
registra, sendo estes incontáveis,
provocando males aos homens de toda a
forma e ordem, foram e são todos
obsidiados, um triste e preocupante
cenário.
O elemento que está na base deste
intercâmbio doentio, o catalizador do
mecanismo, é o baixo nível moral dos
Espíritos que ora habitam o planeta -
ainda de provas e expiações -, quase na
totalidade egoístas, orgulhosos e
desatentos aos princípios divinos, por
esta razão há tanta obsessão.
Cabe notar que este panorama não se
repete em todos os mundos, pois há
incontáveis orbes em diferentes estados
evolutivos. À Terra, por hora, são
encaminhados Espíritos que necessitam
das experiências proporcionadas pelo
temporário estado moral inferior do
planeta. A estes, somam-se os muitos
Espíritos que sempre estiveram
reencarnando por aqui, mas que também
não atingiram condição moral para deixar
o orbe, não conseguiram ainda alcançar
patamares mais altos nas próprias
condutas éticas e morais, para daqui
partirem em direção a outras Casas do
Pai, mais harmônicas e equilibradas, em
consequência, felizes.
Cabe ainda uma observação em relação à
menção de Allan Kardec a maus Espíritos.
Estas entidades, que não passam de
antigos moradores do planeta, época em
que estiveram encarnados, não
representam uma classe especial de
Espíritos voltados para todo o sempre às
práticas violentas e nocivas. Estão
provisoriamente sem rumo, sem respostas
às suas expectativas materialistas
desenvolvidas no período da vida na
Terra. Mais cedo, ou mais tarde, se
equilibrarão, deixando a condição de maus,
pois o fatalismo é para o bem,
abandonando também, desta forma, a
categoria dos obsessores.
Em relação a toda pandemia ou peste, há
medidas capazes de controlar, ou mesmo
visando erradicar por completo as doenças.
Quando algum vírus novo aparece, como
agora surgiu o Corona vírus, os
cientistas se apressam em criar medidas
para combatê-lo. E, no caso das
enfermidades materiais, desenvolvem-se
variadas vacinas ou medicamentos, sejam
alopáticos ou homeopáticos, que são
colocados ao alcance do povo.
E qual seria o melhor remédio para
controlar esta especial e desconhecida parasitose –
a obsessão? Existe alguma medida
material com o poder de desenlaçar Espíritos
em processos obsessivos, às vezes,
durando dezenas de anos, obsessões que
perduram ao longo de mais de uma
existência, se alongando no plano
etéreo?
Alguns sugerem exorcismos, contudo,
estas práticas medievais não possuem
qualquer ação sobre entidades
desencarnadas, antes, os fazem talvez
rir das palavras sacramentais,
vestimentas especiais ou gestos e
trejeitos, utilizados por aqueles que
pretendem - às vezes de boa vontade -,
interagir com o mundo espiritual, sem o
devido conhecimento da complexidade da
dimensão imaterial da vida.
Sem sombra de dúvida, a melhor medicação
para esta modalidade de pandemia é a
prática, mas do que apenas o
conhecimento do Evangelho do Cristo!
E a síntese da Boa Nova se traduz por
este ensino: fazer aos outros aquilo
que se deseja para si mesmo.
É muito oportuno observar que esta
receita sucinta, de poucas palavras -
mas infalível -, para lidar com o
processo obsessivo em andamento ou mesmo
evitar o seu início:
- não
possui contraindicação, e não possui
dosagem mínima nem máxima, quanto mais
usar, melhor para ambos: vítima e
obsessor;
- jamais
apresentará qualquer efeito colateral
indesejado, o calcanhar de Aquiles das
drogas alopáticas;
- não
sofre do problema da carestia, nem falta
no mercado pelo excesso de demanda,
aliás, ocorre o inverso, devido à pouca
procura pela real vivência desta máxima,
ela continua a existir quase
desconhecida - embora ao alcance de
todos -, tanto quanto a existência da
pandemia obsessiva;
- não
precisa ser importada de fábricas de
renome do exterior, nem se deve pagar
qualquer imposto ou taxa para a sua
utilização;
- pode
ser encontrada com facilidade, não
dependendo de consulta a especialistas
médicos, tampouco visita a hospitais
exemplares, contudo, alguns se
apresentam como atravessadores deste
produto, são os indivíduos
inescrupulosos e doentes da alma, com
certeza também acentuadamente
obsidiados, tentando se colocar entre o
doente e a cura, se arvorando em se
declarar representantes de Deus na face
da Terra, afirmando que tão só por eles,
e mais ninguém, pode-se alcançar o
entendimento dos ensinos do Cristo.
Estes, eventualmente, cobram impostos
para executar seus serviços, assim o
fazendo, com pesar, servem a Mamon, ao
invés do Pai Criador, como em princípio
creem;
- não
é encontrada nas prateleiras das
farmácias, podendo ser achada e
utilizada de modo direto na fonte, isto
é, em O Novo Testamento, livro
que registrou em detalhes como podemos
implementar este processo de cura,
através da atenta observação das
palavras e exemplos do Cristo e, após a
identificação da forma como Jesus se
portou no cotidiano, tentar repetir os
mesmos padrões crísticos ao longo de
nossa existência, sempre que novas
oportunidades se apresentaram;
- De
modo a facilitar a compreensão das
sublimes lições contidas em O Novo
Testamento, sugere-se, sobretudo, o
estudo metódico da terceira obra
fundamental espírita: O Evangelho
segundo o Espiritismo. A propósito,
no último capítulo desta extraordinária
obra, há exemplos de preces endereçadas
tanto para obsidiados, quanto para
obsessores.
Reflitamos detidamente nesta realidade.
Não nos permitamos ser candidatos a
obsessores, pela prática continuada de
atitudes irresponsáveis, e, muito menos
incentivemos, pelas nossas condutas
imorais e antiéticas, a nos tornarmos
obsidiados.
Enquanto este quadro não se modificar de
maneira drástica, seremos obrigados a
conviver com a pandemia das obsessões,
grassando, indiscriminadamente,
aguardando que nós, os imortais
Espíritos, decidamos nos elevar
moralmente, impedindo ou dificultando,
assim agindo, os assédios oriundos do
lado de lá, e, de igual modo,
aqueles surgindo do lado de cá.
Referências:
1 Acesso
em 05/12/2021: pandemia
2 KARDEC,
Allan. A Gênese. Tradução Guillon
Ribeiro. Edição Histórica. 53ª ed.
Brasília: FEB. cap. XIV - Os fluidos.
Obsessões e possessões. it. 45.
3 Acesso
em 05/12/2021: artigo
568
4 FRANCO,
Divaldo P. Nas fronteiras da loucura.
Pelo Espírito Manoel P. de Miranda. 2ª
ed. Salvador: LEAL. Análise das
obsessões. pág. 11.