Atuantes na área de evangelização infantil na
Casa Espírita Amazonas Hércules (CEAH), do Rio
de Janeiro (RJ), que desenvolve, desde a década
de 1980, trabalhos de evangelização
infantojuvenil, divulgação doutrinária e
promoção social na comunidade do Canal do Anil,
no bairro de Jacarepaguá, Aline Braga e
Grazielle Muzitano são as nossas entrevistadas
de hoje.
Durante a pandemia, as casas espíritas
precisaram reinventar-se, mantendo suas
atividades e adaptando-as à nova realidade
derivada da emergência sanitária. Daí surgiram
inovações que merecem ser difundidas e
discutidas, para fomentar o aprendizado de todos
do movimento espírita. É sobre uma experiência
de adaptação dessa natureza é que versa a
presente entrevista.
Gostaria, inicialmente, que vocês falassem das
peculiaridades da atividade de evangelização
infantil realizada antes da pandemia na Casa
Espírita Amazonas Hércules.
Antes da pandemia, nossa evangelização era
totalmente presencial e acontecia nos sábados à
tarde. Atendíamos as crianças divididas em
turmas de acordo com a faixa etária. A CEAH fica
em uma comunidade extremamente carente e, além
do trabalho de evangelização, temos um viés de
assistência social, que reflete na forma como
trabalhamos os temas e estruturamos as aulas de
evangelização. A grande maioria das crianças, em
idade escolar, ainda não dominam a leitura e a
escrita e, por isso, temos cuidado com as
atividades que utilizamos, buscando formas de
todos participarem, mesmo sem o uso da escrita
formal. Sempre usamos recursos lúdicos, teatro,
musicalidade, jogos e historinhas para trabalhar
o conteúdo doutrinário relacionando a vivência
em uma comunidade que carece de muitos recursos
básicos.
Não tínhamos muito contato com as mães ou pais,
pois a maioria das crianças chegavam para a
evangelização sozinhas. Nos últimos anos
estávamos fazendo uma campanha para organizar a
matrícula dos evangelizandos com o maior número
de informações possíveis. Conseguimos realizar
muitos cadastros. A casa também possui um
trabalho social de entrega de cestas básicas e
outras campanhas que realizamos ao longo do ano.
Como se estruturou a atividade de evangelização on-line na
Casa Espírita Amazonas Hércules no período da
pandemia? E que dificuldades de implementação
vocês encontraram?
No início da pandemia, ficamos um período sem
evangelização. Depois, surgiu a ideia de se
fazer algo on-line e fizemos contatos com
outras casas para saber como estavam fazendo.
Tínhamos um grande problema de falta de internet
na comunidade e não haveria possibilidade de
usar uma plataforma como o Meet ou o Zoom.
Resolvemos, então, utilizar o WhatsApp, por ser
uma ferramenta acessível e viável para troca de
mensagens.
Começamos planejando as aulas do primeiro mês e
preparando o material com antecedência. Esse
material era entregue às famílias sempre no
primeiro sábado do mês, em horários
estabelecidos para entrega na CEAH, de acordo
com a senha da família cadastrada.
Criamos um grupo de evangelização da infância e
colocamos todas os telefones que havíamos
conseguido nos cadastros feitos durante o
presencial. A cada sábado de entrega de
material, novos cadastros surgiam e as famílias
passaram a nos procurar para a atualização de
cadastro, pois viam a importância dessa
comunicação. Usamos esse grupo para divulgar as
aulas, a entrega de material e fazer a
evangelização virtual.
Iniciamos a evangelização através do grupo todos
os sábados à tarde. Criamos figurinhas
padronizadas que marcavam o momento de cada
atividade durante a aula. No primeiro momento,
eram feitos os avisos relativos ao material a
ser utilizado, tema da aula, mensagem, música e
prece.
Depois, na segunda parte, a aula iniciava
explorando o tema e usando recursos digitais
como vídeos, jogos e conversas. O grupo ficava
fechado para postagem dos participantes e era
aberto para momentos específicos de interação,
ao longo de toda a aulinha.
Na terceira parte realizávamos uma atividade,
que na maior parte das vezes era impressa,
enviada no material que havia sido entregue.
Nesse momento as famílias interagiam muito
enviando fotos das crianças realizando a
atividade.
Ao final, tínhamos a prece de encerramento e o
momento de chamada onde as famílias postavam a
foto da atividade do dia com nome da criança e
senha da família.
Todo o processo da aula durava em torno de duas
horas e havia uma grande participação das
famílias. Inclusive, muitas crianças entraram na
evangelização durante a pandemia.
A maior dificuldade que encontramos foi a falta
de internet de algumas famílias. Mas, muitas
famílias se ajudavam e juntavam as crianças em
uma única casa para assistir a evangelização.
Outra dificuldade encontrada foi a falta de
evangelizadores, pois muitos se afastaram da
casa durante a pandemia e não aceitaram
evangelizar de forma virtual.
Foi preciso um planejamento integrado junto aos
evangelizadores para suprir as lacunas e na
idealização dos encontros. Com o tempo, o
processo foi sistematizado e passamos a realizar
reuniões mensais de planejamento das atividades
e montagem da escala de trabalho. Estes
encontros com os evangelizadores foram muito
importantes para fortalecimento da equipe e
estreitamento dos vínculos.
Como surgiu a ideia desse desenho? Vocês
poderiam enumerar os pontos positivos e
negativos dessa abordagem, como um balanço
geral?
A ideia surgiu da necessidade de continuar a
evangelização durante o isolamento da pandemia e
da observação das tentativas de outras casas
espíritas em adequar o modelo de evangelização
para o virtual. Mas, tínhamos uma realidade mais
complicada, com uma comunidade muito carente e
acabamos optando por adaptar para o WhatsApp,
que gasta menos dados de internet. O grupo
envolvido na organização do trabalho virtual se
sentiu muito amparado e intuído pela
espiritualidade da casa.
O evangelho precisava ser semeado e, para isso,
utilizamos os recursos disponíveis, onde o amor
e a fé foram ferramentas indispensáveis para a
realização da tarefa.
Os pontos positivos foram: a utilização de
recursos digitais que auxiliaram bastante no
entendimento das aulas e a grande participação
das famílias dos evangelizandos durante as
aulas. As mães se aproximaram muito dos
evangelizadores e da casa espírita e conheceram
de perto o nosso trabalho. Percebemos que um
vínculo maior foi criado entre a Casa espírita e
as famílias e que agora valorizam mais as aulas
de evangelização.
Outro ganho foi com relação às reuniões mensais
de planejamento. Esta é uma prática que deve ser
mantida para integração da equipe de
evangelizadores.
Os pontos negativos foram: a ausência de alguns
evangelizadores, pois não se adaptaram ao modo
virtual e a dificuldade de internet de algumas
crianças.
Como foi a participação das crianças nessas
atividades? Vocês podem destacar um caso ou
alguma atividade que chamou a atenção?
As crianças participaram muito e as famílias se
aproximaram da evangelização e do trabalho da
casa espírita. Tivemos um aumento de famílias
participantes ao longo da pandemia e, com isso,
iniciamos o culto no lar semanal e a contação de
histórias, no grupo da evangelização. Também
trabalhamos com alguns projetos especiais, como
por exemplo “Arte em família”, “Advento do
Natal”, entre outros que permeavam os módulos.
Qual a opinião de vocês sobre o futuro das
atividades on-line nas Casas espíritas, com o
retrocedimento da pandemia?
As atividades on-line têm uma grande importância
para a continuidade das casas espíritas, pois
trazem dinamismo e opções diversificadas.
Acreditamos que é importante existir a opção
presencial, que é insubstituível, aliada a
algumas atividades on-line.
Entendemos que algumas atividades virtuais devem
ser mantidas para fortalecimento do vínculo
entre a casa espírita e as famílias, sendo
também canal de comunicação bastante efetivo.
|