Ação e prática dos ensinamentos espíritas
O conhecimento que a doutrina espírita nos oferece
permite aqueles que assim desejarem, promoverem uma
profunda mudança em suas vidas. Ninguém vai conseguir
uma transformação de uma hora para outra, serão
necessários anos de vivência e prática dos ensinamentos
doutrinários.
Algumas pessoas acham que apenas o conhecimento da
doutrina espírita é o suficiente para promover uma
renovação no comportamento e na reeducação dos
sentimentos. Na verdade, faz-se necessário um testemunho
pessoal no dia a dia, onde o indivíduo vai colocar em
evidência através de ações tudo que aprendeu, dando uma
demonstração se realmente conseguiu promover uma
transformação interior.
As mudanças que desejamos em nossa vida dependem de uma
atitude de nossa parte, ressignificando nossas crenças e
valores, fato esse que não se dá, do dia para noite.
O Espiritismo utiliza uma didática simples, pois entende
que cada pessoa tem um tempo de amadurecimento e com
isso precisa também modificar seus sentimentos e a forma
com que percebe os acontecimentos que ocorrem em sua
vida e das demais pessoas que a cercam.
Teorizar é uma coisa, colocar em prática é outra
completamente diferente. Muitos indivíduos perguntam por
que os espíritas conhecendo a verdade ainda reincidem
nos mesmos erros. No Evangelho segundo o Espiritismo 1,
Cap. XVII, Sede Perfeitos, encontramos a orientação; o
homem de bem e os bons espíritas.
Nesses dois subitens podemos observar que devido à
natureza humana ser bastante imperfeita e heterogênea,
as pessoas se modificam em ritmos diferentes e dessa
forma o processo de transformação ou reforma moral é
muito individual. O acesso ao conhecimento não é a
garantia para uma transformação do indivíduo, faz-se
necessário vivenciar esse conhecimento, promovendo uma
ressignificação de valores. O homem velho precisa ficar
para trás e dessa forma darmos espaço para a construção
de um novo modelo.
Na obra psicografada por Chico Xavier A Caminho da
Luz 2 encontramos narrativas contadas
pelo Espírito Emmanuel da transformação de homens que
deram grandes testemunhos. Foram os casos em particular
da conversão de Saulo de Tarso (Paulo) na estrada de
Damasco na Idade Antiga e de Giovanni di Pietro di
Bernardone (Francisco de Assis) na Idade Média. Eles
tinham uma vida completamente diferente e devido a um
acontecimento inesperado deram uma grande reviravolta,
deixando para trás o tipo de vida que tinham e passando
a viver uma vida voltada para as questões espirituais.
Existem pontos em comum, em ambos os personagens desse
exemplo, que deixaram para trás o “homem velho” e
passaram a viver um novo formato de vida. Esse fato foi
determinante para explicar que a exemplificação depende
do desejo individual de cada um.
“Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua
transformação moral e pelos esforços que emprega para
domar suas inclinações más".1
Na obra psicografada por Chico Xavier cujo título é Emmanuel 3,
de 1937, o benfeitor espiritual procura orientar os
médiuns de forma a entenderem o grande desafio que terão
de enfrentar com a tarefa da mediunidade e seus
desdobramentos. Não é apenas uma questão de conhecimento
doutrinário, mas de reeducação de valores de vida. Os
desafios da mediunidade implicam em uma mudança de
conduta diante da vida e de uma exemplificação em novas
atitudes.
O conhecimento literário e teórico da doutrina espírita
é de fácil acesso, porém o indivíduo comum precisa
compreender que esse conhecimento sozinho não vai
garantir que toda aprendizagem seja colocada em prática,
pois antes se faz necessário uma reeducação dos
sentimentos, sem a qual se torna impossível associar de
forma correta a ação e a prática do que se aprendeu.
Essa seria a explicação, para aqueles que falam uma
coisa e fazem outra diferente. É preciso sentir e
refletir, se somos capazes de vivenciar aquilo que
acreditamos, por isso que precisamos rever a nossa
crença do que é certo ou errado em nossas vidas.
O frequentador comum das reuniões públicas, assim como
as pessoas de pouco estudo acreditam, que o conhecimento
que os espíritas possuem deveria ser melhor vivenciado,
uma vez que estão divulgando a doutrina. O livro Emmanuel,
em Mensagem aos médiuns, trabalhadores e também para
alguns frequentadores assíduos, deixa claro que no
processo de reforma íntima se faz necessário um
testemunho de simplicidade, boa vontade e humildade no
trato para com todas as pessoas. Somos obrigados a
reconhecer que os trabalhadores das Casas Espíritas
também estão em processo de transformação moral e serão
os mais exigidos.
No Evangelho Segundo o Espiritismo1,
cap. XX, encontramos a orientação do Espírito da Verdade
aos espíritas, onde relata os grandes desafios que
envolvem a mediunidade e os testemunhos que terão de dar
ao longo de suas vidas, quando abraçam a missão de serem
divulgadores da Boa Nova, porém ainda portadores de uma
carga de imperfeições, que terão de ser reeducadas ao
mesmo tempo em que colocam em prática o sacerdócio da
tarefa que abraçaram nessa encarnação.
“A quem muito foi dado, muito será pedido” (Lucas,
XII: 47-48)
Podemos resumir a questão da ação e prática dos
ensinamentos espíritas deixando uma mensagem bem
simples, façamos o que está ao nosso alcance, com o
objetivo de nos melhorarmos a cada dia. A natureza não
dá saltos, tudo é um processo. Emmanuel nos deixa
grandes recomendações para refletirmos e sendo possível
promover uma reeducação libertadora dos preconceitos que
somos reféns. Faz-se necessário estudar, orar e vigiar,
assim como policiar nossas atitudes tentando evitar
recair nas dificuldades as quais ainda não conseguimos
superar.
“Espíritas! amai-vos, eis o primeiro ensinamento.
Instruí-vos, eis o segundo”. (Espírito da Verdade.
Paris, 1860.)
Referências:
1) Kardec, Allan; O Evangelho Segundo o Espiritismo;
Cap. XVII; 3 - O homem de bem; 4 - Os bons espíritas;
Cap. XX; 4 – Missão dos espíritas; FEB.
2) Xavier, Francisco Candido Xavier; A Caminho da Luz;
Cap. XV - A missão de Paulo; Cap. XVII - Francisco de
Assis; FEB.
3) Xavier, Francisco Candido Xavier; Emmanuel;
Cap. XI - Mensagem aos médiuns; FEB. |