O Espiritismo e a mulher
A antiguidade pagã fazia da mulher um
ser quase divino, a fada protetora, o
gênio do lar, a custódia das fontes da
vida
“As funções a que a mulher é destinada
pela Natureza terão
importância tão grande quanto as
deferidas ao homem? “Sim, maior até.
É ela quem lhe dá as primeiras noções da
vida”. O
Livro dos Espíritos - q. 821
Desde as mais prístinas eras (a começar
no “Paraíso”, com Adão e Eva),
falam as Escrituras das defecções
femininas, apontando as mulheres mais
como um problema, como uma pedra no
sapato dos homens, levando-os, enfim à
perdição, à desgraça, ao
desequilíbrio... Por esses e outros
motivos preconceituosos, (ainda na
atualidade), em muitos paises orientais
e mesmo ocidentais elas sofrem sérias e
injustas discriminações.
Nesse festival de absurdos históricos e
coerentes com a crença de que a mulher
nasceu da costela de Adão, as mais altas
autoridades do catolicismo se reuniram
no ano 585, no Concílio de Mâcon, no
qual deveria ser discutido se ela
possuía ou não alma.
O resultado desse caldo cultural é o
prevalecimento da tradição e do espírito
judaico no cristianismo, o que é uma
incoerência, visto que Jesus, em todas
as circunstâncias outorgou às mulheres
honras e proteção, dirigindo-lhes as
Suas mais tocantes parábolas e
estendendo-lhes sempre a mão, mesmo
quando decaídas e infortunadas... Daí,
impertérritas formaram as mulheres
numeroso cortejo assessorando-Lhe a
missão, não se omitindo nem mesmo
durante a tragédia ignominiosa do
Gólgota, quando até o seleto Colégio
Apostólico O abandonou...
Em 1919,
o célebre e notável escritor francês
Léon Denis escreveu:
“(...) durante longos séculos a mulher
foi relegada para segundo plano,
menosprezada, excluída do sacerdócio.
Por uma educação acanhada, pueril,
supersticiosa, maniataram-na; suas mais
belas aptidões foram comprimidas,
conculcado e obscurecido o seu caráter.
Enfim, (...) o catolicismo não
compreendeu a mulher, a quem tanto
devia. Seus monges e padres, vivendo no
celibato, longe da família, não poderiam
apreciar o poder e o encanto desse
delicado ser, em quem enxergavam antes
um perigo.
A antiguidade pagã teve sobre nós a
superioridade de conhecer e cultivar a
alma feminina. Suas faculdades se
expandiam livremente nos mistérios.
Sacerdotisa nos templos védicos.
Intimamente associada, no Egito, na
Grécia, na Gália, às cerimônias do
culto, por toda a parte era a mulher
objeto de uma iniciação, de um ensino
especial, que dela faziam um ser quase
divino, a fada protetora, o gênio do
lar, a custódia das fontes da vida. A
essa compreensão do papel que a mulher
desempenha, nela personificando a
Natureza, com suas profundas intuições,
suas percepções sutis, suas adivinhações
misteriosas, é que foi devida a beleza,
a força, a grandeza épica das raças
gregas e céltica.
Porque, tal seja a mulher, tal é o
filho, tal será o homem... É a mulher
que, desde o berço, modela a alma das
gerações. É ela que faz os heróis, os
poetas, os artistas, cujos feitos e
obras fulguram através dos séculos...
(...) A situação da mulher, na
civilização contemporânea, é difícil,
não raro dolorosa. Nem sempre a mulher
tem por si os usos e as leis; mil
perigos a cercam, se ela fraqueja, se
sucumbe, raramente se lhe estende mão
amiga. A corrupção dos costumes fez da
mulher a vítima do século. A miséria, as
lágrimas, a prostituição, o suicídio -
tal é o destino de grande número dessas
pobres criaturas em nossas sociedades
opulentas.
Uma reação, porém, já se vai operando:
sob a denominação de feminismo, um certo
movimento se acentua legítimo em seu
princípio, exagerado, entretanto, em
seus intuitos; porque, ao lado de justas
reivindicações, enuncia propósitos que
fariam da mulher, não mais mulher, mas
cópia, paródia do homem. (!?) O
movimento feminista desconhece o
verdadeiro papel da mulher e tende a
transviá-la de sua meta que lhe está
natural e normalmente traçada. O
homem e a mulher nasceram para funções
diferentes, mas complementares. No
ponto de vista da ação social, são
equivalentes e inseparáveis!
O moderno Espiritualismo, graças às suas
práticas e doutrinas, todas de ideal, de
amor, de equidade, encara a questão de
modo diverso e resolve-a sem esforço e
sem estardalhaço. Restitui à mulher seu
verdadeiro lugar na família e na obra
social, indicando-lhe a sublime função
que lhe cabe desempenhar na educação e
no adiantamento da humanidade. Faz mais:
reintegra-a em sua missão de mediadora
predestinada, verdadeiro traço de união
que liga as sociedades da Terra às do
Espaço.
A grande sensibilidade da mulher a
constitui médium por excelência, capaz
de exprimir, de traduzir os pensamentos,
as emoções, os sofrimentos das almas, os
altos ensinos dos Espíritos celestes. Na
aplicação de suas faculdades ela
encontra profundas alegrias e uma fonte
viva de consolações. A feição religiosa
do Espiritismo a atrai e lhe satisfaz as
aspirações do coração, as necessidades
de ternura, que se estendem, para além
do túmulo, aos entes “desaparecidos”. O
perigo para ela, como para o homem, está
no orgulho dos poderes adquiridos, na
suscetibilidade exagerada. O ciúme,
suscitando rivalidades entre médiuns,
torna-se muitas vezes motivo de
desagregação para os grupos. Daí a
necessidade de desenvolver na mulher, ao
mesmo tempo em que os poderes
intuitivos, suas admiráveis qualidades
morais, o esquecimento de si mesma, o
júbilo do sacrifício, numa palavra: o
sentimento dos deveres e das
responsabilidades inerentes à sua missão
mediatriz.
(...) Com o Espiritismo, ergue de novo a
mulher a inspirada fronte; vem
associar-se intimamente à obra de
harmonia social, ao movimento geral das
ideias. O corpo não é mais que uma forma
tomada por empréstimo; a essência da
vida é o Espírito, e nesse ponto de
vista o homem e a mulher são favorecidos
por igual. Assim, o Espiritismo
restabelece o mesmo critério dos celtas,
nossos pais; firma a igualdade dos sexos
sobre a identidade da natureza psíquica
e o caráter imperecível do ser humano, e
a ambos assegura posição idêntica nas
agremiações de estudo.
Pelo Espiritismo se subtrai a mulher ao
vértice dos sentidos e ascende à vida
superior. Sua alma se ilumina de clarão
mais puro; seu coração se torna o foco
irradiador de ternos sentimentos e
nobilíssimas paixões. Ela reassume no
lar a encantadora missão que lhe
pertence, feita de dedicação e piedade,
seu importante e divino papel de mãe, de
irmã e educadora, sua nobre e doce
função persuasiva.
Cessa, desde então, a luta entre os dois
sexos. As duas metades da humanidade se
aliam e equilibram no amor, para
cooperarem juntas no plano providencial,
nas obras da Divina Inteligência”.