Certa ocasião, na volta do trabalho, Chico quando entrou
em casa, encontrou seu cachorro de estimação, Lorde,
agonizando na cozinha. Ele se contorcia, revirava os
olhos e, com o rabo entre as pernas, gania. Lucília e
Dália acompanhavam o sofrimento à distância. Chico se
ajoelhou e, sacudido por soluços, descreveu uma cena
invisível: um outro cão, vindo do além, lambia o
companheiro para atenuar seu sofrimento nos últimos
momentos.
Um ano depois, o rapaz comentou em conversa com amigos, diante
das irmãs: “Eu tinha um cão maravilhoso. Mas, como ele fazia
xixi pela casa inteira, Dália e Lucília acharam melhor
envenená-lo”.
As duas coraram. Chico fingiu ter-se conformado. Na verdade,
ficou chocado com o assassinato do cachorro. Era fascinado por
animais. Encarava os bichos como irmãos caçulas do homem e
cuidava deles com obstinação.
Do livro As vidas de Chico Xavier,
de Marcel Souto Maior.
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